quarta-feira, 4 de julho de 2012

Viagem missionária

Bom pessoal,
Amanhã irei para uma viagem missionária em Canela, RS. Volto dia 17/07
Portanto, os artigos e séries entram em férias até agosto. Enquanto isso vc pode orar pelos seguintes motivos:
- clima favorável às atividades;
- saúde dos participantes;
- abertura das pessoas ao evangelho;
- direcionamento de Deus para cada atividade;
- poder e presença do Espírito Santo com cada um que irá trabalhar;
- pela organização de mais uma igreja na cidade;
- que o trabalho seja frutífero e Deus seja glorificado ali.

Abraços!

Marcelo Luiz Tavares

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Homem e mulher os criou



Gn 2.18-24
18Disse mais o SENHOR Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea. 19Havendo, pois, o SENHOR Deus formado da terra todos os animais do campo e todas as aves dos céus, trouxe-os ao homem, para ver como este lhes chamaria; e o nome que o homem desse a todos os seres viventes, esse seria o nome deles. 20Deu nome o homem a todos os animais domésticos, às aves dos céus e a todos os animais selváticos; para o homem, todavia, não se achava uma auxiliadora que lhe fosse idônea.
21Então, o SENHOR Deus fez cair pesado sono sobre o homem, e este adormeceu; tomou uma das suas costelas e fechou o lugar com carne. 22E a costela que o SENHOR Deus tomara ao homem, transformou-a numa mulher e lha trouxe. 23E disse o homem:
Esta, afinal, é osso dos meus ossos e carne da minha carne; chamar-se-á varoa (mulher), porquanto do varão (homem) foi tomada.
24Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne.

Viver em família numa sociedade individualista tornou-se um problema. Vivemos buscando a realização de nossos sonhos pessoais e buscamos o casamento como uma forma de satisfazer alguns deles: não ficar só, ter filhos... Dependendo do sonho, arranjamos a família conforme achamos ideal: com ou sem filhos, com ou sem cônjuges, com ou sem a intromissão frequente dos nossos pais, com ou sem pessoas de gênero diferente ao nosso, com ou sem a superioridade de um gênero em relação ao outro, com ou sem um contrato social, com ou sem igreja...
A vida familiar gira em torno de nossos sonhos egoístas e não é a toa que ande tão mal, pois homem e mulher foram feitos um para o outro (e crianças precisam de boas figuras maternas e paternas, masculinas e femininas para se desenvolver, lembrando que na Bíblia corpo e alma, “biologia e psicologia” estão interligados). No fundo, há uma crença de que se pode reinventar a família como se quiser, de que se pode fazer tudo dar certo por si mesmo.
Mas Deus não concorda com isso. A sua declaração inicial é um atestado de nossa incompetência individual: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea (v.18). Em outras palavras, Deus diz: o homem (ou a mulher) sozinho não pode ser fecundo, multiplicar-se, encher a terra e sujeitá-la (Gn 1.28). Sem homem e mulher juntos não pode haver E viu Deus que isso era bom (Gn 1); a criação fica incompleta, devendo algo aos propósitos sábios de Deus.
A primeira coisa que Deus faz é mostrar isso ao homem. Deus lhe traz os animais (em casais?) para que o homem comece a exercer sua autoridade sobre eles, através do ato de nomeá-los. Aqui a distinção entre humano e inumano é gritante, tanto pela nomeação dos animais quanto pelo uso da palavra homem/ humanidade para referir-se a Adão. Durante o desfile dos animais e da consequente nomeação, o homem percebe que está só, que não há alguém igual a ele, com quem ele possa multiplicar-se, cumprir o seu destino. Falta-lhe algo. Algo muito importante. E isso não é bom.
Deus, então, entra em ação. Ele coloca o homem em um profundo sono e enquanto isso retira uma parte do lado do homem. E molda essa parte humana em um novo ser. Nisso já se vê a igualdade entre homem e aquela que lhe é idônea/ correspondente. Ele a traz ao homem, de forma semelhante aos animais.
Quando a vê, o homem tem uma surpresa: esse ser vivo é igual a ele; é osso dos seus ossos e carne da sua carne; possui todos os atributos que ele tem: inteligência, vontade, emoções, criatividade, humor etc.; ela é feita à imagem e semelhança de Deus tanto quanto ele.
Mas também é diferente dele: ela supre o que lhe falta, da mesma forma que ele supre o que falta a ela. Juntos podem cumprir o que separados não podem: podem gerar vida, multiplicar-se, encher a terra com a imagem de Deus e constituir uma família. Por isso, ela é sua auxiliadora, bem como ele dela. Esta mesma palavra é atribuída a Deus, em Gn 49.25: pelo Deus de teu pai, o qual te ajudará, e pelo Todo-Poderoso, o qual te abençoará com bênçãos dos altos céus, com bênçãos das profundezas, com bênçãos dos seios e da madre. Assim, ser auxiliador, neste caso, não significa ser inferior (tal como o auxiliar de dentista em relação ao dentista), mas ser capaz de fazer algo que o auxiliado não pode fazer sozinho ou por si mesmo.
Por isso seu nome, varoa, deriva do nome dele, varão – duas palavras com som parecido no hebraico. A construção usada ao descrever a nomeação da mulher tem sentido diferente da usada na nomeação dos animais. Neste caso, traz um sentido de ter autoridade. Mas no caso da mulher, traz o sentido de alguém que viu quem ela é e, em consequência disto, lhe dá o nome que corresponde ao que viu: alguém que é igual a ele, mas que diferente de outro homem, lhe corresponde e auxilia.
“Por este motivo”, diz o narrador, “é que um homem entre nós, quando quer constituir família, deixa a família dos pais e constituí uma nova família unindo-se a uma mulher”. Novamente há um momento “sem mulher” (e sem união sexual), antes do casamento, quando o homem e mulher fazem parte de um núcleo familiar, e um momento “com mulher”, em que homem e mulher casam-se e unem-se em família heterossexual.
No contexto familiar da época, isso não significava separação emocional ou saída da casa do pai do marido, mas simplesmente que uma nova família começava a surgir. Pois naquela época, não era desejável que um adulto não fizesse parte de uma família. De fato, pode-se dizer que era inconcebível.
Assim, Deus dá homem e mulher um para o outro. Ele nos cria para constituir famílias heterossexuais, monogâmicas e nucleares. Qualquer atitude contrária deveria ser buscada apenas com a intenção de agradar a Deus, segundo a orientação dEle (Mt 19.12, 1Co 7). Deus não cria nem homem como superior à mulher, nem o oposto; ambos precisam um do outro, a fim de não estarem sós, de criar um novo núcleo familiar e de gerar vida, multiplicando a imagem de Deus sobre a terra.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Rio + Gen 2.4-17


Gênesis 2:4-17

4Esta é a história das origens dos céus e da terra, no tempo em que foram criados:
Quando o Senhor Deus fez a terra e os céus,5ainda não tinha brotado nenhum arbusto no campo, e nenhuma planta havia germinado, porque o Senhor Deus ainda não tinha feito chover sobre a terra, e também não havia homem para cultivar o solo.
 6Todavia brotava água da terra e irrigava toda a superfície do solo.
7Então o Senhor Deus formou o homem do pó da terra e soprou em suas narinas o fôlego de vida, e o homem se tornou um ser vivente.
8Ora, o Senhor Deus tinha plantado um jardim no Éden, para os lados do leste; e ali colocou o homem que formara.9Então o Senhor Deus fez nascer do solo todo tipo de árvores agradáveis aos olhos e boas para alimento. E no meio do jardim estavam a árvore da vida e a árvore do conhecimento do bem e do mal...
15O Senhor Deus colocou o homem no jardim do Éden para cuidar dele e cultivá-lo.
16E o Senhor Deus ordenou ao homem: "Coma livremente de qualquer árvore do jardim, 17mas não coma da árvore do conhecimento do bem e do mal, porque no dia em que dela comer, certamente você morrerá".

Os noticiários voltaram seus olhos para o Rio +20. A expectativa em torno deste evento é a de um “mundo justo e sustentável”: eliminação da pobreza e um cuidado rigoroso do meio ambiente são alvos levantados. Há 20 anos, quando a situação já era alarmante, tivemos a Eco 92. Desde então, pouco se fez. Ao que parece, não acreditávamos que cuidar do planeta fosse ou algo com o que deveríamos nos preocupar ou uma tarefa nossa a desempenhar.
Porém ainda estamos lerdos. Não cuidamos de nossa vizinhança, não tratamos de projetos sérios em nossas igrejas (mesmo com o movimento das Igrejas Ecocidadãs), gastamos vários copos descartáveis em nossas igrejas, não pensamos em como reduzir o consumo de papel (ou exigir que nossos boletins de igreja – são mesmo tão necessários numa era virtual? – sejam ao menos impressos em papéis reciclados)...enfim, muita coisa pode ser mudada. E deve. Pois o meio ambiente não é apenas a nossa casa. Ele é a nossa incumbência.
Essa é a lição de Gn 2.4-17 (além de outras... mas tudo a seu tempo). Os v.4-5, trazem a imagem de uma criação que não se desenvolve, pois ainda não tinha brotado nenhum arbusto no campo, e nenhuma planta havia germinado. Embora isso pareça estranho – sobretudo quando comparado com a criação completa em Gn 2.1 – não é. Se o leitor bem se lembra, Gênesis é escrito por um povo que tem uma visão de um Deus em movimento, sempre trabalhando. Assim, Deus faz tudo perfeito, nada faltando acrescentar, mas a obra é contínua. E isso é proposital. O v.5, além de nos dizer o porquê da vida não se desenvolver - porque o Senhor Deus ainda não tinha feito chover sobre a terra, e também não havia homem para cultivar o solo – também nos abrem para o que Deus fará em seguida.
A primeira coisa é que Deus mesmo se envolve no processo de irrigação. No v. 6 diz-se que a água brota da terra (não névoa, nem orvalho) e é o suficiente para irrigar toda a superfície do solo. Os v. 10-14, trazem o como: do Éden nasce um rio, que se divide em quatro. Em outras palavras, do Éden a vida jorra, devido ao cuidado de Deus.
Da mesma forma, se há vida hoje isso se deve a Deus. O sol, a chuva, o fato de o desequilíbrio não ser maior do que já é e a possibilidade de continuarmos a viver deve-se a Deus, no qual vivemos, nos movemos e existimos (At 17.28), no Pai, que faz raiar o sol...e derrama chuva (Mt 5.45) e no Filho, em quem tudo subsiste (Cl 1.17). Mesmo a lista de Jó 38.25-39.30 não é suficiente para vermos o seu cuidado meticuloso com tudo o que Ele criou.
Além disso, Deus cria o homem para que ele participe deste trabalho. Já na criação dele vemos um ato diferenciado: modelado como que por um escultor e vivificado com o próprio sopro de Deus. Ele é colocado no jardim. Um jardim (a melhor tradução seria pomar) de árvores agradáveis e boas (do mesmo modo que a árvore do conhecimento do bem e do mal), chamado de Éden, “lugar de delícias”.
Lá (aqui) o homem tem uma missão: cuidar do jardim e cultivá-lo. Essa tarefa é antes da queda (o que significa que o trabalho não é maldição, mas faz parte da nossa essência) e a sucede (Gn 3.23).
Até quando? O jardim é chamado de “paraíso” na tradução grega (septuaginta), que emprestou essa palavra persa usada para se referir ao jardim do rei da babilônia: os famosos jardins suspensos. Essa é a mesma palavra grega usada para se referir ao paraíso cristão. Assim, respondendo a questão: até que Cristo volte para fazer deste paraíso quebrado, “um novo lugar de delícias”.
Isso coloca em nós um dever duplo. Primeiro cuidar (a melhor tradução é proteger) do meio ambiente [ver o segundo parágrafo e digitar “jejum de carbono”, “igrejas ecocidadãs” e/ ou “a rocha” no google]. A segunda é cultivar/ lavrar/ ajudar a criação a atingir sua finalidade. Em outras palavras, tudo que os agrônomos, pecuaristas, biólogos, geneticistas, profissionais da saúde, veterinários e todos os profissionais ligados direta ou indiretamente à criação (isso inclui nosso corpo, mente e alma) fazem: engenheiros e operários que fazem carros que poluem menos (assim como químicos que desenvolvem detergentes biodegradáveis); professores que ajudam seus alunos a serem cidadãos de verdade e a desenvolverem todo o seu potencial; artistas que retratam a criação ou nos ajudam em nossos dilemas; e assistentes sociais e advogados que ajudam pessoas e comunidades a lutar por seus direitos etc. Tudo que é feito para fazer deste mundo um lugar justo e sustentável (e muito mais que isso) é uma vocação dada por Deus a cada um para participarmos da sua obra que traz vida a este mundo.
Mas isso nos coloca diante de uma escolha, entre duas árvores: buscar inutilmente o lugar de Deus, resultando em exploração e destruição da criação (a sugestão diabólica de Gn 3.4-5, tendo o conhecimento do bem ou do mal, sem conseguir cumprir plenamente o bem = sem ser Deus) ou aceitar nosso lugar abaixo de Deus, com nossa tarefa e desfrutar eternamente da árvore da vida que fica no meio jardim. Abaixo dela passa o rio da vida e ela frutifica doze meses por ano, uma por mês. As folhas da árvore servem para a cura das nações (Ap 22.1-2).

quarta-feira, 13 de junho de 2012

O sétimo dia


Gênesis 2.1-3
1Assim, pois, foram acabados os céus e a terra e todo o seu exército. 2E, havendo Deus terminado no dia sétimo a sua obra, que fizera, descansou nesse dia de toda a sua obra que tinha feito. 3E abençoou Deus o dia sétimo e o santificou; porque nele descansou de toda a obra que, como Criador, fizera.

Quando criança, minha mãe contava-me a história da formiga e da cigarra. A primeira só trabalhava e a segunda só cantava (acho que os músicos não gostam muito desse “só”); quando chegou o inverno, a formiga tinha comida e a cigarra, que não havia acumulado nada, morreu de fome. Embora a Bíblia fale de sermos como a formiga (e não preguiçosos), creio que no sétimo dia, ela nos chame a ser como a cigarra (sem ofensa aos músicos!).
Mas é verdade que vivemos no mundo da formiga. Trabalhamos (in)cansavelmente e vivemos em constante competição porque achamos que não haverá um lugar para todos; além de vivermos ansiosos, porque cremos que amanhã pode não haver o suficiente para vivermos decentemente. Criamos sistemas de segurança para o futuro, mantendo-nos em casamentos de aparências [creio que o divórcio é antibíblico] e relacionamentos com pessoas a quem não amamos [sei que o amor é ação e não simples sentimento]; suportamos chefes e situações estressantes e opressivas, além de aceitarmos algo que não se encaixa com nossa vocação; em tudo nos virando com o mal conhecido, com um receio enorme do bem desconhecido; repetindo sempre os jargões: “é assim mesmo”, “nem todo casamento dá certo”, “nem todo mundo faz o que gosta”, “é preciso ser prudente” etc. Em todo tempo lutamos, porque cremos que vivemos em um mundo imperfeito e em um deus que diz “virem-se! Conquistem por si mesmos o seu lugar no mercado da vida! Se não conseguirem, a culpa será somente sua! Ninguém mandou viver como a cigarra e não como a formiga!”
Algo interessante é que a formiga não partilha nada com a cigarra e ninguém a chama de egoísta – será que fomos moldados assim também? Compramos roupas de marca, comemos fora todo final de semana, enchemos as estantes com coisas que nunca mais usaremos, gastamos energia e água à toa, não reutilizamos quase nada e para sentirmo-nos cristãos gastamos centenas de reais com acampamentos enquanto o Haiti vivia em desespero, pessoas eram expulsas de suas moradias ou morriam de frio e de fome ao redor do globo. Se não há o suficiente para todos, será que não somos parcialmente culpados disso?
A obra de Deus, porém, é boa e perfeita. Ele transforma uma “terra sem forma e vazia” (um deserto) em uma terra na qual chovia comida. Transforma Canaã em uma terra onde manam leite e mel. Ao sétimo dia sua obra está completa, nada falta, nada precisa de retoques. Por isso, cessa todo seu trabalho. Esta palavra é traduzida como descansou (Gn 2) ou como sábado (no resto do Antigo Testamento). Mas Deus não está exausto. Ele cessa porque tudo está completo, perfeitamente. E porque cessa, abençoa e santifica o sétimo dia.
Este dia traz a marca da perfeição, mas também da suficiência da criação de Deus. Nele não é preciso colher o maná; no sábado de anos (7º ano após o início da semeadura) não é preciso trabalhar. O dever é o repouso, o cessar de toda obra, confiando na benção que Deus coloca sobre este período. Por isso, traz a marca do descanso e quietude dependentes, da certeza e sinal de uma aliança com Deus (Ex 31.12-17). Trabalhar neste dia era desconfiar/ rejeitar a aliança deste Deus providente, que faz tudo bom e perfeito, no tempo certo.
O sábado também era sagrado. Não como algo de maior importância do que os outros seis dias (pois Deus age neles), mas como tempo de reconhecimento e celebração da obra perfeita de Deus ao longo da semana. Nele havia a certeza de que Deus sempre cuida de seu povo; nele havia a recuperação da imagem de Deus no homem, através da obediência e dependência ao Criador.
Mas em nossos dias, o dia sagrado foi movido para o domingo, pois nele Jesus ressuscitou. Nele a vida, que estava à morte, recebe eternidade; nele a imagem de Deus é recuperada; Ele é aquele que faz tudo muito bem (Mc 10.37, NVI); nele se descansa para a salvação, nele se realiza a missão para a restauração de todas as coisas.
Nele, nossos dias recebem nova vida e são refeitos em obra completa e boa. Deus cuida de nossas necessidades e dá-nos além do necessário afim de que supramos os outros. Ele cria homem e mulher para viverem em famílias saudáveis (e agirá continuamente assim se o buscarmos); dá a cada um sua vocação (a qual se manifesta em desejo na ausência e em alegria na sua realização), pois cria cada um com seu respectivo lugar no mundo. Ordena aos seus filhos que lutem contra a injustiça, contra a desigualdade e contra as condições insalubres do fraco, pois Ele mesmo está comprometido com isso. Cria os homens para que todos sejam um e o mundo viva em paz. Cria o homem para a natureza e a natureza para o homem; ambos para Si e Ele mesmo se dá para ambos.
E ordena-nos a reconhecer a perfeição da Sua obra, ao fazermos do sétimo dia um tempo de contemplação, descanso e celebração.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

À Nossa imagem e semelhança


Gênesis 1.26-31

26Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra.
27Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.
28E Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja pela terra.
29E disse Deus ainda: Eis que vos tenho dado todas as ervas que dão semente e se acham na superfície de toda a terra e todas as árvores em que há fruto que dê semente; isso vos será para mantimento. 30E a todos os animais da terra, e a todas as aves dos céus, e a todos os répteis da terra, em que há fôlego de vida, toda erva verde lhes será para mantimento. E assim se fez.
31Viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom. Houve tarde e manhã, o sexto dia.

A humanidade falhou. Vivemos em um ecossistema em desiquilíbrio, com o qual vivemos em uma relação de inimizade (tal como o Mickey e o Pato Donald com as abelhas, tornados e afins). Duas guerras mundiais e uma contínua instabilidade internacional acabaram com a nossa esperança de paz mundial. No dia-a-dia em nosso trabalho, o outro deixou de ser um colega e passou a ser um competidor. Apesar de todo progresso, mulheres ainda têm salários menores que os homens; o racismo ainda acontece sutilmente; eruditos desprezam os menos “entendidos”; seja na política, nas empresas ou no campo, poucos ficam ricos à custa da exploração de muitos; os governantes se tratam no Sírio Libanês e os pobres morrem na fila do SUS; os ricos fazem faculdade no exterior e os pobres têm progressão continuada mesmo sem saber ler o jornal. Madames levam seus animais de estimação em spas, enquanto crianças pedem esmolas nos semáforos.
Tudo isso deriva do individualismo em que vivemos. Como se alguns (muitas vezes nós mesmos) tivessem valor maior que outros. Como se o mundo e as pessoas fossem algo que só existe quando eu preciso: aí eu me conecto com eles (ou fico “on”) até que eu enjoe ou não precise mais deles. Como se eu não tivesse obrigação nem com Deus, nem com o próximo, nem com o meio ambiente.
De certa forma, tudo isso existia no mundo do AT. O mar era visto como um deus que poderia matar aqueles que se aventuravam nele (veja o livro de Jonas no AT, ou Poseidon na Odisseia de Homero). Doenças e morte eram mais comuns. Reis e sacerdotes colocavam-se como deuses ou representantes divinos explorando muitos. Povos viam outros povos como seres inferiores e passíveis de serem escravizados (como o povo hebreu no Egito). Os mais fortes, os mais sábios e os mais ricos viam-se como superiores (Jeremias 9.23). Políticas internacionais eram resolvidas nos campos de batalha. A comida do pobre (e seus próprios filhos) era visto como despojo de guerra ou como oferenda aos deuses.
Neste contexto, Gênesis 1.26-31 é revolucionário. Ele diz que Deus criou o homem (todos os homens, de qualquer sexo, raça, credo, idade, nação ou lugar na sociedade) à Sua imagem e semelhança. Isso quer dizer que homens e mulheres; crianças, adultos e idosos; brancos, negros, índios e asiáticos; pobres e ricos; reis/ governantes e escravos; executivos e faxineiros; cultos e analfabetos...todos são iguais aos olhos de Deus e, por isso, igualmente dignos de honra.
Portanto, ninguém pode ser explorado ou oprimido; mulheres devem ter os mesmos salários e espaço que os homens; a opinião dos iletrados e incultos deve receber o mesmo tratamento que a dos eruditos e especialistas no assunto; todos têm direito ao mesmo padrão de vida, ao mesmo acesso à saúde e educação, conforto e prosperidade; todas as nações têm direito à mesma tecnologia e aos mesmos subsídios, assim como todas as línguas têm direito ao mesmo evangelho; todas as cidades e bairros têm de receber a mesma consideração no planejamento anual etc.
Este texto também nos mostra que Deus criou um ser relacional (homem e mulher). Isso deve ter sido um choque para as religiões da época que só viam no homem um servo dos deuses e nada mais. Assim, fomos criados para o relacionamento com Deus (e não para o ateísmo); para o casamento heterossexual sadio (não para a solidão ou o homossexualismo); para a paternidade/ maternidade muito mais que para nos tornarmos donos de um animal ou para resolvermos um casamento ruim; para vermos no próximo um irmão (não um competidor capitalista); criados para viver em comunidade, amando e conhecendo o próximo intimamente (não no isolamento ou em relações precárias via facebook). O próximo não é um objeto para o meu benefício, prazer, distração ou enriquecimento; muito menos Deus. Fomos criados para a pessoalidade, com Deus e com o próximo.
Além disso, Deus abençoa-nos para que dominemos sobre a terra. Essa é a finalidade de sermos à imagem dEle e de nos multiplicarmos e enchermos a terra, pois Ele quer reinar (e continuar a criar e por ordem no caos) sobre ela através de nós. A relação do hebreu com a terra deveria ser mutualista: ele se beneficiaria dela, mas também a protegeria (Gn 2.15). Assim, somos ordenados a usá-la para nosso benefício (não capricho), mas também a lutar pela restauração/ preservação do meio ambiente, a lutar contra o caos e a morte nela.
Agora, a imagem de Deus e a capacidade para o relacionamento com Ele e com o próximo, bem como a ordem na criação, foram arruinadas pelo pecado, mas Cristo é aquele que nos faz novamente ser à imagem de Deus (2Co 5.17) e capazes de sermos um com Ele e com o próximo (Jo 17.20-21), além de fazer novas todas as coisas criadas. Ele incumbiu a Igreja com o dever de levar essa realidade a todas as pessoas e lugares, usando de palavras, mas também de ações. A fim de que, através dela, o Criador reine soberano, sobre todas as pessoas, lugares e situações. Pois viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom.

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Um só Deus, uma só vida


Gn 1-5
1No princípio, criou Deus os céus e a terra.
2A terra, porém, estava sem forma e vazia; havia trevas sobre a face do abismo, e o Espírito de Deus pairava por sobre as águas.
3Disse Deus: Haja luz; e houve luz. 4E viu Deus que a luz era boa; e fez separação entre a luz e as trevas. 5Chamou Deus à luz Dia e às trevas, Noite. Houve tarde e manhã, o primeiro dia.
O modo como vemos o mundo molda o modo como vivemos nele. As concepções atuais sobre o mundo variam do empirismo (que afirma que tudo que percebemos não passam de estímulos desconexos que são interpretados por nós, na tentativa de criar uma ilusão de que há sentido na vida) à religiosidade baseada em seres espirituais bons e maus que afetam caprichosamente nosso dia-a-dia. Assim, o mundo ao redor é ou sem sentido, ou um lugar de possibilidades (muitas vezes ruins) que nos surgem sem aviso.
Um mundo desconfortável, como nos diriam os estressados, os depressivos e os suicidas. A fim de sobreviver nele, buscamos ajuda de elementos que nos tragam uma sensação de segurança: dinheiro, beleza, um bom currículo, entidades e deuses, contatos, fama... Cada contexto tem seus estímulos, chefes, entidades, regras. Viver tornou-se fragmentado: diferentes papéis, regras e éticas para diferentes situações, lugares, tempos e pessoas. De modo que crer em um só Deus, e viver de um modo coerente com Ele, tornou-se um desafio.
Um desafio não menor do que tiveram os hebreus que saíram de um mundo conhecido (o Egito) e iam para Canaã (o mundo novo e desconhecido). Estavam entre dois lugares que afirmavam coisas semelhantes em relação ao mundo, como ele funciona e como se dar bem nele. Não foi à toa que quando as coisas ficavam complicadas a ideia de voltar ao Egito, ou de fazer um bezerro de ouro (como o deus egípcio Ápis), era tão atraente: era um jeito “comprovado” de resolver as coisas.
Havia o risco das trevas/ morte que sempre ameaçavam os egípcios e os cananitas. Sol e mar eram deuses que poderiam estar contra ou a favor de você. As estações e a seca eram vistas como a ausência ou a fúria de um deus. Quando você queria plantar, precisava agradar o deus da fertilidade; quando queria pescar, precisava prestar culto ao deus do mar. A vida era fragmentada, incerta e cansativa, pois era preciso agradar a “gregos e troianos”.
A fim de manterem-se fieis a Deus, os hebreus precisavam conhecê-lo, bem como Ele se relacionava com os “outros deuses” que concorriam com Ele. Assim, Gênesis 1 começa com a concepção de início do Oriente Próximo daquela época: A terra, porém, estava sem forma e vazia; havia trevas sobre a face do abismo, e o Espírito de Deus pairava por sobre as águas. (v.2). Além disso, lida com elementos que eram tidos como deuses ou representantes deles: o sol, as trevas, o mar, os animais... O objetivo deste texto não é tanto dizer que há um só Deus (outras partes da Bíblia dizem isso com muito mais clareza), muito menos trazer o cronograma da criação do mundo (os 6 dias são colocados em paralelos: 1º e 4º, 2º e 5º, 3º e 6º; não em seqüência lógica), mas sim mostrar a grandeza de Deus de tal forma que a busca de qualquer outro “deus” pareça perda de tempo. Uma receita poderosa para todos os encontros com novos povos e crenças.
Aqui, Deus é o criador de todas as coisas, incluindo o sol e o mar. É Ele quem põe ordem no caos inicial, criando um mundo organizado geograficamente e temporalmente – Disse também Deus: Haja luzeiros no firmamento dos céus, para fazerem separação entre o dia e a noite; e sejam eles para sinais, para estações, para dias e anos (v.14). Tudo que Ele cria é bom e perfeito (pois reflete a Sua face), tem seu lugar específico e está cheio de vida, povoando e multiplicando sobre a terra, nos céus e no mar. Ele dá nome a tudo (uma demonstração de seu governo e autoridade) e separa o bom do mau (a luz das trevas). Além disso, Ele é o Deus que está sempre agindo no mundo corrompido pelo pecado (Gn 3) nesses termos: a palavra criar pode ter o sentido de recriar. Criar é sua atitude “natural” diante do caos: o Espírito de Deus pairava por sobre as águas (v.2). Assim a criação nunca tem fim; Deus está trabalhando todos os (6) dias da semana: separando do mundo mau um povo para ser bom; governando a política internacional; criando e dando coisas boas a seus filhos; providenciando a chuva, a benção e a fertilidade no tempo determinado. O ponto alto dessa ação foi em Cristo, o qual morreu e ressuscitou a fim de levar essa história ao seu cumprimento pleno (os novos céus e terra dos capítulos finais do Apocalipse), de acordo com o plano eterno da Trindade.
Por isso, as festas do povo têm ligação com o ciclo da lavoura (como as ofertas dos primeiros frutos), fazendo do ir e vir das estações não um motivo de alarde, mas de celebração. Por isso, eram um só povo; tinham uma vida coerente, com um só jeito de viver. Pois buscavam a um só Deus, que os cria e os separa. O Deus que lhes garante a vida, que lhes traz saúde, que lhes separa uma terra, que aumenta seu gado e a sua descendência. O Deus que governa o dia de hoje e o de amanhã e as quatro estações do ano. O Deus que tem poder sobre a natureza, os homens, a morte e sobre os “deuses” de seus inimigos. O Deus que tem sua face refletida na luz do sol, nas constelações, no orvalho, na pétala de uma flor, no trovejar da tempestade, nas ondas do mar, no choro do recém-nascido e no rugido do leão.
Um Deus assim muda a vida. Não preciso temer os modismos do mercado, os “ins e outs” da cultura, da política e da economia, ou mesmo o futuro, pois Deus está constantemente fazendo coisas boas e perfeitas, colocando ordem no caos ao meu redor. Minha vida e personalidade podem ser uma, pois um só Deus chefia todos os lugares e acontecimentos. O mundo tem sim seus perigos, mas também tem em si mesmo “o livro da natureza” que me leva ao nosso Criador todas as vezes que eu o contemplo com olhos renovados. Dessa maneira, a pesquisa científica e a arte representativa tornam-se atos de adoração. Posso ser um com meu próximo, com os países vizinhos, com pessoas de qualquer etnia, pois temos o mesmo Criador. Não preciso depositar minha segurança em coisas instáveis, mas no relacionamento com o Deus que tudo governa e tudo provê.

Deste modo, por que os hebreus ou nós precisamos de algum outro deus? Todas as outras fontes de sobrevivência dependem de uma só. O Criador. A boa notícia é que Ele é bom e perfeito e está nos separando e recriando para si. Dependa dEle, sirva a Ele, viva com Ele.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

O Rei vem - vigiem!


Mc 13.24-27,32-37

24"Mas naqueles dias, após aquela tribulação,
" 'o sol escurecerá
    e a lua não dará a sua luz;
25as estrelas cairão do céu
    e os poderes celestes
    serão abalados'
26"Então se verá o Filho do homem vindo nas nuvens com grande poder e glória. 27E ele enviará os seus anjos e reunirá os [seus] eleitos dos quatro ventos, dos confins da terra até os confins do céu.
32"Quanto ao dia e à hora ninguém sabe, nem os anjos no céu, nem o Filho, senão somente o Pai. 33Fiquem atentos! Vigiem! Vocês não sabem quando virá esse tempo. 34É como um homem que sai de viagem. Ele deixa sua casa, encarrega de tarefas cada um dos seus servos e ordena ao porteiro que vigie. 35Portanto, vigiem, porque vocês não sabem quando o dono da casa voltará: se à tarde, à meia-noite, ao cantar do galo ou ao amanhecer. 36Se ele vier de repente, que não os encontre dormindo! 37O que lhes digo, digo a todos: Vigiem!"

Através dos artigos desta série, vimos o que quer dizer Jesus vir como Rei e quais as implicações para nossas vidas. Ao fim deste bloco de Marcos, Jesus fala sobre “os últimos dias” e o sofrimento de seus discípulos em tempos de perseguição ao nome de Jesus. Este trecho acaba com o julgamento de um mundo “sem frutos”, caído em pecado, decadência e rebelião contra Deus, o que é representado pelo colapso dos corpos celestes nos v.24-25.
Diante de uma situação tão apavorante, os discípulos de Jesus têm a maravilhosa notícia da vinda de seu Rei com grande poder e glória (v.26). Assim como no texto a que Jesus está aludindo, Dn 7.13-14, o Filho do homem (Jesus) virá para julgar todas as coisas, mas reunirá seus discípulos, seus eleitos, os que creem em sua salvação por meio de sua morte, ressurreição, ascensão e exaltação, para viver eternamente consigo em Seu Reino. A partir deste momento Jesus será visto em todo seu poder, autoridade e grandeza; uma visão gloriosa que nunca perderá seu brilho e que encherá eternamente seus eleitos de prazer e alegria.
Porém, diante dos problemas e da aparente demora de Jesus, os discípulos podem perder de vista esta promessa e abandonar Seus caminhos, vivendo de acordo com os padrões deste mundo caído, correndo o risco de serem condenados com ele. Para que isso não ocorra, Jesus os ordena a vigiar, manterem-se atentos na expectativa da volta de seu Senhor, a fim de que não sejam como a figueira sem frutos (Mc 11.13), como o templo corrompido (11.17) ou como os lavradores mortos (12.9). Caso mantenham-se firmes no caminho de Jesus, serão recolhidos na hora incerta da vinda do seu Senhor.
Assim como na época dos evangelistas, nós vivemos hoje em um mundo de oposição ao evangelho. Não bastasse isso, vivemos em um mundo de imediatismo. “Apagamos incêndios” continuamente; vivemos para o hoje que nos atropela, tentando aproveitar as oportunidades que desaparecem tão rápido quanto surgem, e a velha pergunta – ‘onde você estará daqui a dez anos?’ – parece cada vez mais nos remeter a um futuro abstrato e obscuro.
Em face disso, lidamos com a vida de modo funcional, como se a verdade fosse aquilo que faz as “coisas darem certo”. Diante dos problemas e as oportunidades que reclamam a nossa resposta a todo instante, a expectativa da volta futura de Jesus começa a parecer disfuncional. Começamos a buscar outras soluções, mais fáceis e recompensadoras, para nossos problemas vocacionais, financeiros, sociais e relacionais. Começamos a viver como se o “jogo da vida” fosse tudo o que há para viver; como se ficar parado fosse a nossa morte; como se tudo dependesse de nós, deixando-nos ansiosos e temerosos, oportunistas e manipuladores, egoístas e amorais.
Mas Jesus direciona nossos olhos para os bastidores deste mundo e ordena-nos que vivamos na expectativa da sua volta, do seu julgamento, dos “novos céus e nova terra”. Com este olhar, vemos que o sucesso (seja em qualquer área) não é a meta da nossa existência, nem o critério através do qual devemos avaliar a nós ou o nosso estilo de vida. Pois o Rei, o Senhor da vinha, o dono da casa, está vindo e quer receber os frutos da sua colheita e a sua casa em ordem.
Tal realidade deve mudar nossos valores e estilo de vida. Como? Basta olhar para os textos anteriores. Eles nos convidam a clamar ao Rei Jesus em nossas necessidades; a viver de modo outro-centrado, sendo um “local de acolhimento” para todos os que O buscam; orar por todos com a fé que Ele nos concede em Seu poder e misericórdia; lutar pela manifestação integral do Reino de Deus entre nós; simplificar a nossa vida a fim de viver de maneira dedicada a Deus e ao próximo; bem como amá-los da maneira devida, como obediência aos mandamentos de Deus; pregando o evangelho com o auxílio do Espírito Santo etc.
Concluindo, o Rei vem. Como Ele te encontrará?

quarta-feira, 16 de maio de 2012

O Rei vem - Tudo entregarei


Mc 12.41-44

41Jesus sentou-se em frente do lugar onde eram colocadas as contribuições, e observava a multidão colocando o dinheiro nas caixas de ofertas. Muitos ricos lançavam ali grandes quantias. 42Então, uma viúva pobre chegou-se e colocou duas pequeninas moedas de cobre, de muito pouco valor.
43Chamando a si os seus discípulos, Jesus declarou: " Verdadeiramente, afirmo-lhes que esta viúva pobre colocou na caixa de ofertas mais do que todos os outros. 44Todos deram do que lhes sobrava; mas ela, da sua pobreza, deu tudo o que possuía para viver".

Palavras como “compromisso”, “abnegação” e “sacrifício” caíram em desuso hoje. Mesmo em meio aos cristãos. É verdade; todos dizem que vivem “apenas para Jesus”. Mas quão poucos são regulares em suas ofertas, sua presença nos cultos, na sua dedicação à missão. As palavras caíram em desuso, não porque não sejam mais ditas, mas porque não são mais “encarnadas”. Muitos dos que reclamam da falta de compromisso dos cristãos, são os menos comprometidos. E também há muitos que parecem dedicar-se muito, mas aos olhos de Deus, têm feito muito pouco.
Esse parece ser o caso dos ricos deste texto de Marcos. Eles eram tidos como muito piedosos, mas davam apenas do que lhes sobrava. Eram como a figueira cheia de folhas, mas sem frutos (Mc 11.13); como o templo sagrado, mas cheio de ladrões (11.17) e como os lavradores que queriam tomar a vinha para si. Eram os herodianos e fariseus hipócritas (12.15); os saduceus que não conhecem as Escrituras nem o poder de Deus (12.24); ou os mestres da lei, os quais eram ricos porque devoram as casas das viúvas e, para disfarçar, fazem longas orações (12.40).
Mas eis que chega uma viúva pobre e põe duas moedas de valor insignificante. Apenas o suficiente para comprar um pão para comer. A diferença entre ela e os ricos é gritante, pois ela passaria fome aquele dia; era mulher (portanto sem um conhecimento das Escrituras comparável ao dos opositores de Jesus), viúva, pobre, explorada. Em sua pobreza, simplicidade e dedicação ela deu mais do que todos os outros, pois ela, da sua pobreza, deu tudo o que possuía para viver (v.43,44). E por isso, Jesus a valoriza, e não ao resto.
Mas, e nós? Somos “ricos” ou “viúvas pobres”?
Infelizmente, hoje há muitos de nós que são “ricos”.  Como um líder de uma igreja que oferta muito, mas não deposita o fundo de garantia dos seus empregados. Há jovens que são fervorosos em reuniões de oração e estudo da bíblia, mas que desaparecem quando começam a namorar; dízimos e ofertas reduzidos quando as contas apertam (embora o estilo de vida não tenha mudado); faltamos aos cultos (especialmente no domingo de manhã) porque estamos cansados demais buscando nossos interesses e não queremos descansar no horário do jogo, no domingo à tarde; damos poucas “esmolas” porque temos de comprar o novo acessório, ver a última estreia no cinema ou comer num lugar mais caro. Não agimos como mordomos de “nosso” tempo/ dinheiro/ profissão/ estudos/ amor... pois damos o que “sobra” (o que não nos faz falta). Vivemos vidas fúteis porque esquecemos que, “Tudo que não é eterno, é eternamente inútil” (C.S. Lewis).
Mas Deus valoriza aqueles que dedicam toda a sua vida a Ele. Como essa viúva pobre. Como Toyohiko Kagawa, o qual dividia seu barracão numa favela e suas duas tigelas de arroz diárias com quem necessitasse, além de comprar remédios para as prostitutas doentes que viviam em sua vizinhança, embora não tivesse dinheiro para comprar uma roupa nova em anos. Pois todos seremos julgados de acordo com o que fazemos, pois nossas ações demonstram a fé que temos. Como na parábola dos bodes e das ovelhas, quando o Rei nos responderá Digo-lhes a verdade: O que vocês fizeram a algum dos meus menores irmãos, a mim o fizeram (Mt 25.40).
A fim de viver para Deus e para o próximo devemos mudar nosso estilo de vida. John Stott disse: “Nossa obediência cristã exige um estilo de vida simples (...) o fato de 800 milhões de pessoas estarem na pobreza absoluta e 10 mil morrerem de fome todo dia, torna inviável qualquer outro estilo de vida”. Por isso, porque não deixar de sair um fim de semana a fim de separamos uma quantia por mês para auxiliar uma ONG que cuida de pessoas carentes? Por que não viver de maneira mais simples a fim de manter contribuições para pessoas e para a obra de Deus? Por que não deixar de fazer tantos cursos a fim de ter tempo para dedicar-se a Deus e aos outros? Por que não combinar com o parceiro de se verem um pouco menos para verem Deus um pouco mais? Por que não ver a Deus juntos? Por que não sentar e fazer uma lista do que é inútil, ou do que poderia ser economizado e doado? E do que poderia ser feito no lugar?
Encerro com as palavras de C.S. Lewis, em Cartas do Diabo a seu Aprendiz: “E o engraçado nisso tudo é que a palavra “meu”, em seu sentido completamente possessivo, não pode ser emitida por nenhum ser humano a propósito de coisa nenhuma. A longo prazo, ou o Nosso Pai [Satanás] ou o Inimigo [Deus] dirá “meu” sobre tudo quanto existe, especialmente, em relação a cada se humano. Não tenha medo, no final, eles descobrirão a quem seu tempo, suas almas e seus corpos realmente pertencem – certamente não serão deles independente do que aconteça. Atualmente, o Inimigo diz “meu” a respeito de tudo sob a alegação pedante e legalista de que ele tudo criou. Nosso Pai espera poder dizer no final “meu” para todas as coisas, baseado na razão mais realista e dinâmica da usurpação”.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

O Rei vem - Reina em mim


Mc 12.35-40

35Ensinando no templo, Jesus perguntou: "Como os mestres da lei dizem que o Cristo é filho de Davi? 36O próprio Davi, falando pelo Espírito Santo, disse:
" 'O Senhor disse
ao meu Senhor:
Senta-te à minha direita
até que eu ponha
os teus inimigos
debaixo de teus pés'
37O próprio Davi o chama 'Senhor'. Como pode, então, ser ele seu filho?"
E a grande multidão o ouvia com prazer.
38Ao ensinar, Jesus dizia: "Cuidado com os mestres da lei. Eles fazem questão de andar com roupas especiais, de receber saudações nas praças 39e de ocupar os lugares mais importantes nas sinagogas e os lugares de honra nos banquetes. 40Eles devoram as casas das viúvas, e, para disfarçar, fazem longas orações. Esses receberão condenação mais severa!"

Mês passado, alguns colegas perguntaram a um membro de uma denominação religiosa bem conhecida pela Teologia da Prosperidade sobre o quê aquela denominação dizia sobre Jesus. O membro disse: “aqui nós não pregamos religião, nem a Bíblia; nós dizemos que Jesus é liberdade”. Talvez seja por isso que um conhecido meu, neste ano, foi morar com uma moça (com quem não se casou) dessa mesma denominação. Ela faz questão de dar o dízimo, mas não de dormir somente com alguém com quem tenha se casado antes. Faz questão de ir à “igreja” todo domingo, mas não de dizer com seus atos que “Jesus é o Senhor”.
Ao comparar a nossa época com a de Jesus, percebemos um estranho contraste. Na época de Jesus as pessoas sabiam que o Cristo é Senhor, mas não sabiam que Ele é Deus (v.35-37); hoje elas dizem que Jesus é Deus, mas não vivem como se Ele fosse Senhor. Assim como na época de Jesus, a confusão sobre quem Ele é começa nos que têm o dever de ensinar o povo, sejam mestres da Lei nos tempos de Jesus (v.35), sejam nossos atuais “pastores, bispos, apóstolos e patriarcas”.
Esses, mais interessados em suas posições, fama, influência e sucesso financeiro, também fazem questão de andar com roupas especiais (ternos e gravatas), de receber saudações nas praças (mercados, feiras, igrejas e programas de TV) e de ocupar os lugares mais importantes nas sinagogas (ou no “templo”). Isso me faz lembrar um pastor de uma igreja protestante tradicional que se assentava de frente para o público, um pouco atrás do púlpito, como um soberano, mesmo quando não fosse ter qualquer participação no culto. E também os lugares de honra nos banquetes (afinal de contas, o pastor não pode ficar na fila do almoço comunitário, não é mesmo?). Além disso, muitos devoram as casas das viúvas, e, para disfarçar, fazem longas orações; seja através de promessas de muitas bênçãos, ou como uma pessoa da mesma denominação que eu (protestante) disse sobre “seu pastor”: “estranho ele sempre marcar visita perto da hora do almoço...”.
O fato é que ser pastor, líder de ministério, parte do grupo de louvor ou mesmo “crente”, tem alguns benefícios, desde o cabide de empregos (com direito a aprovação social e casa pastoral), à possibilidade de ser bem visto e, quem sabe, ter uma fatia do mercado (“gospel” para o meio artístico, “bancada evangélica” para o político, “crente” para o relacional). No mundo competitivo em que vivemos (seja na economia, política, influência, mídia, relacionamentos e amores), há um “jeitinho brasileiro”, mas “crente”, de se chegar antes e mais longe.
Isto tudo chega a tal ponto que muitos ficamos indignados com o sucesso que alguns “atores e atrizes gospel” ao nosso redor têm conquistado.
Porém, tudo isso terá um fim, como diz o Salmo 110, citado por Jesus no v.36 deste texto.
Aqui Jesus nos eleva a um conhecimento mais profundo sobre si mesmo. É certo que este texto era conhecido de todos, mas como o palácio do rei ficava à direita do templo de Jerusalém, é bem possível que as pessoas na época de Jesus não entendessem bem o que o salmo de Davi anunciava. Possivelmente, criam que o Salmo 110 dizia que o Messias, o Cristo, se assentaria no palácio, à direita do templo de Deus, em Jerusalém. Mas o que Jesus quis dizer, é que Ele mesmo, o Messias, se assenta ao lado do próprio Deus. Em outras palavras, que Ele está em pé de igualdade com Deus – ou seja, Ele é Deus.
Se continuássemos a ler o Salmo 110, perceberíamos que ele fala do domínio do Senhor sobre todos os Seus inimigos (de todas as nações da terra), através de seu próprio poder e de seu povo, o qual Ele teria purificado de toda a injustiça e pecado; bem como veríamos este “Senhor” como sacerdote (alguém que reconcilia as pessoas com Deus para um relacionamento). E não somente isso, pois todos os inimigos são colocados debaixo dos pés desse Senhor, o que demonstra que Deus lhe dará total supremacia sobre todo ser humano.
Mas Jesus afirma que os mestres da Lei também podem ser considerados inimigos de Deus, na medida em que também podem sofrer a condenação dele (v.40) e condenação maior ainda, pois devendo instruir o povo e tendo uma posição especial, usam dessas coisas em benefício próprio. Eles e nós deveríamos ouvir o conselho de Tiago (3.1): Meus irmãos, não sejam muitos de vocês mestres, pois vocês sabem que nós, os que ensinamos, seremos julgados com maior rigor. Pois aqueles que têm o dever de instruir e de ser exemplo, ou que ocupam posições de destaque, são julgados de acordo com a sua posição.
Assim Jesus é o próprio Deus e possui supremacia sobre todos e tudo que já existiu e ainda existirá. Ele domina todas as coisas e nada está acima dele, que se assenta à direita do Pai. Ele é o Rei de toda a humanidade e traz um Reino de retidão, ao invés de hipocrisia; de justiça e bondade, ao invés de exploração; de condenação para os inimigos de Deus (estejam eles fora ou dentro da igreja), mas de reconciliação com Deus para um relacionamento eterno aos que se voltam a Ele com sinceridade. Ele é o Rei dos reis, o Senhor dos senhores, exaltado acima de tudo e de todos para todo sempre. Seu reinado não tem fim ou imperfeição, pois não tolera o pecado e a falsidade. Condena os que usam máscaras, mas perdoa e purifica os que as retiram.
Diante dEle, devemos nos arrepender e, deixando nossos interesses mesquinhos e egoístas de lado, buscar os Seus interesses, a fim de que Ele seja honrado em nossa humilhação, seja rico em nossa pobreza, agradado em nossa abnegação, visto enquanto somos ignorados e procurado enquanto somos esquecidos.
Assim como num relato do pr. Eugene Peterson. Ele e a esposa haviam assistido uma palestra do psiquiatra francês Paul Tournier. Durante o caminho para casa, ambos comentavam de modo muito positivo sobre a palestra, até que a esposa disse: “a tradução também foi excelente!”. Eugene, surpreso, respondeu: “que tradução?” “Eugene, você não fala francês, é claro que houve uma tradução”, ela retrucou. Então, ele começou a lembrar-se. De fato, o psiquiatra havia falado em francês o tempo todo, mas havia uma senhora, muito discreta, traduzindo tudo. Tão discreta que Eugene não se lembrava dela ou da fala em francês do palestrante!
Da mesma forma, a fim de que Cristo seja revelado em sua supremacia, devemos viver, falar, pensar e agir de tal forma que as pessoas não “percebam que estamos ali”. Nossa vida deve ser, em todos os detalhes, uma tradução perfeita da supremacia de Cristo. Mortos para nossos gostos, interesses, anseios, necessidades, desejos, ideias, planos e preferências; mas vivos para tudo quanto Deus nos guia e nos revela acerca de Seus desejos, projetos, interesses e mandamentos.
Quando isto ocorrer, a grande multidão nos ouvirá com prazer (v.37). Pois Cristo lhes será revelado em toda a sua glória e autoridade. Isso porque a maior necessidade e desejo de todo ser humano (quando o pecado não o ofusca) é a glória de Deus, pois para isso fomos criados (para que Ele seja glorificado) e fomos redimidos por Jesus para sermos conforme a Sua imagem gloriosa, a fim de que, sobre nós e em nós, Ele reine soberanamente e seja visto e reconhecido por todos em toda a Sua glória.
Somente desta forma, será justo e benéfico a todos o ocuparmos um lugar de destaque onde estivermos. Somente assim será justo que todos (inclusive nós mesmos) tenhamos prazer em nós (e em nossos novos anseios, desejos e ideias), pois Jesus será o Senhor de fato, sobre nós e através de nós. Somente assim, quem nos honrar, estará honrando a Deus e quem nos der mesmo que seja apenas um copo de água fria, não perderá a sua recompensa (Mt 10.42).

quarta-feira, 2 de maio de 2012

O Rei vem – A essência do Reino de Jesus


Mc 12.28-34

28Um dos mestres da lei aproximou-se e os ouviu discutindo. Notando que Jesus lhes dera uma boa resposta, perguntou-lhe: "De todos os mandamentos, qual é o mais importante?"
 29Respondeu Jesus: "O mais importante é este: 'Ouve, ó Israel, o Senhor, o nosso Deus, o Senhor é o único Senhor. 30Ame o Senhor, o seu Deus, de todo o seu coração, de toda a sua alma, de todo o seu entendimento e de todas as suas forças' 31O segundo é este: 'Ame o seu próximo como a si mesmo' Não existe mandamento maior do que estes".
32"Muito bem, mestre", disse o homem. "Estás certo ao dizeres que Deus é único e que não existe outro além dele. 33Amá-lo de todo o coração, de todo o entendimento e de todas as forças, e amar ao próximo como a si mesmo é mais importante do que todos os sacrifícios e ofertas".
34Vendo que ele tinha respondido sabiamente, Jesus lhe disse: "Você não está longe do Reino de Deus". Daí por diante ninguém mais ousava lhe fazer perguntas.

Uma vez um pastor amargurado com a igreja deu o seguinte conselho a um seminarista: “não deixe as pessoas da igreja se aproximarem de você; faça seu trabalho e vá para casa”. Este tipo de mentalidade parece ocorrer com todo tipo de gente em nosso meio cristão; são pessoas que parecem mais empregados de Deus, do que filhos dEle e irmãos dos outros cristãos. Para muitas pessoas parece haver certa tentativa de ver Deus e os “irmãos” como inimigos potenciais, sempre prontos a nos dar uma facada nas costas caso não pareçamos bons o bastante.
Esta passagem de Marcos traz essa mesma contradição, opondo o pensamento da época de Jesus – no qual os rituais de purificação são mais importantes – e o pensamento do próprio Jesus, centrado no amor.
Embora este pareça ser um mestre da lei com uma boa “teologia” (o único desta seção de Marcos que é elogiado por Jesus, v.34), não se pode negar que, na sua resposta, a “má teologia” da época é trazida à tona nas palavras todos os sacrifícios e ofertas. Pois os fariseus (uma seita da época de Jesus) criam que deveriam merecer a entrada no Reino de Deus, dando grande importância aos sacrifícios (que “apagavam pecados”, tidos como “dívidas no saldo com Deus”) e ofertas (que davam uma espécie de “bom crédito”). De fato, eles viviam calculando quantas boas obras e quantos pecados haviam cometido, sempre tentando deixar um crédito positivo, caso morressem de repente. Como diria Teodoro de Mopsuéstia, era uma vida de escravo e não de um filho de Deus.
Mas Jesus nos torna filhos de Deus. A Lei maior de seu Reino é o amor. É uma Lei que liberta e traz à vida o prazer, a festa, o canto, as brincadeiras e os risos. O relacionamento com Deus é expresso num amor intenso e profundo que envolve todo o nosso ser, promovendo integridade entre mente, corpo e emoções; ao mesmo tempo em que nos liberta de nosso egoísmo e nos dá uma referência à vida. Pois nos leva a amar aquele que é o mais digno de ser amado, o mais bondoso, o mais justo, o mais santo, o mais sábio, criador de tudo o que é bom e nos dá prazer e paz, redentor de tudo que nos machuca e faz adoecer, digno de honra e louvor, aquele que nos amou mais do que todos (inclusive mais do que nós mesmos jamais nos amamos ou amaremos), a ponto de dar seu Filho numa cruz por nós. Assim, em todo seu amor e grandeza, Ele é único e incomparável.
Por isso, mais digno de amor do que tudo o mais. Portanto, totalmente digno de que vivamos inteiramente para Ele e não para nós, buscando os Seus interesses em lugar dos nossos e o Seu prazer muito acima do nosso. Pois o que poderia ser mais excelente do que aquilo que Ele deseja? E o que poderia ser mais benéfico para nós do que aquilo que o ser que mais nos ama, que conhece e rege todas as coisas (do passado, presente e futuro) em todos os seus mínimos detalhes, que é infinitamente sábio e generoso, nos ordena?
Mas Jesus nos leva além. O mestre perguntou qual o principal mandamento (singular), mas Jesus nos trouxe dois! Isso porque o amor a Deus e ao próximo são igualmente importantes para Deus. Na verdade, não podemos dizer que vivemos para Deus se não vivermos para o nosso próximo, pois diz o apóstolo João em sua primeira carta: Se alguém afirmar: "Eu amo a Deus", mas odiar seu irmão, é mentiroso, pois quem não ama seu irmão, a quem vê, não pode amar a Deus, a quem não vê. (1Jo 4.20). Deste modo, não é possível, aos olhos de Deus e de Jesus, uma “espiritualidade” individualista, pois fomos criados para viver em eterna comunhão com Deus e com o próximo.
Também não devo ser o foco da minha vida e deixar o próximo em segundo plano, porque devo amá-lo como a mim mesmo. Na verdade, toda a nossa vida deve ser dedicada ao próximo como uma forma de dedicação a Deus, cuidando dele em todas as suas necessidades – ou, como diria Francisco de Assis, devemos ser como mães do nosso próximo. Caso façamos isso, temos certeza de vivermos como súditos de Jesus, em gratidão a Ele: Nisto conhecemos o que é o amor: Jesus Cristo deu a sua vida por nós, e devemos dar a nossa vida por nossos irmãos. Se alguém tiver recursos materiais e, vendo seu irmão em necessidade, não se compadecer dele, como pode permanecer nele o amor de Deus? (1Jo 3.16-17).
Caso façamos assim, além de não estarmos longe do Reino de Deus (v.34), estaremos dentro dele! Pois o amor é a essência do Reino de Jesus, como Ele diz no evangelho de João 13.34-35: "Um novo mandamento lhes dou: Amem-se uns aos outros. Como eu os amei, vocês devem amar-se uns aos outros. Com isso todos saberão que vocês são meus discípulos, se vocês se amarem uns aos outros". De modo que se não amarmos, ficará claro que não fazemos parte dele: Sabemos que já passamos da morte para a vida porque amamos nossos irmãos. Quem não ama permanece na morte. Quem odeia seu irmão é assassino, e vocês sabem que nenhum assassino tem a vida eterna em si mesmo. (1Jo 3.14-15).
Além disso, não se pode dizer que algo feito sem amor tenha qualquer valor para Deus. Indo contra a espiritualidade de nosso tempo, baseada em experiências místicas, conhecimento de “mistérios” individuais e boas ações, o apóstolo Paulo nos eleva a um caminho ainda mais excelente, o caminho do amor (1Co 12.31-13.3). Ainda por cima nos ajuda a entender que o amor é um estilo de vida e não um sentimento confuso e passageiro: O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria, não se orgulha. Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor. O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. (1Co 13.4-7). E, para nos trazer alívio, também nos mostra que o amor não é um esforço desgastante, mas a vida de Deus em nós, pois ele é consequência de Sua presença em nosso ser (Gl 5.22).
Por isso, o amor começa na oração que clama pelo Espírito Santo em nós, bem como na constante abertura à revelação do amor de Deus por nós na Sua Palavra (Sua carta de amor por nós, como disseram alguns teólogos) e no Seu cuidado diário, tão maravilhoso quanto a cruz e a ressurreição de Cristo.
Concluindo, muitos têm vivido como empregados, longe de Deus e do próximo. Mas Jesus quer nos tornar filhos de Deus, levando-nos a entrar no Seu Reino de amor. Logo, saiamos da escravidão e vivamos, cheios do Espírito Santo, em amor a Deus e ao próximo.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

O Rei vem - a política de Jesus


Mc 12.13-17

13Mais tarde enviaram a Jesus alguns dos fariseus e herodianos para o apanharem em alguma coisa que ele dissesse. 14Estes se aproximaram dele e disseram: "Mestre, sabemos que és íntegro e que não te deixas influenciar por ninguém, porque não te prendes à aparência dos homens, mas ensinas o caminho de Deus conforme a verdade. É certo pagar imposto a César ou não? 15Devemos pagar ou não?"
Mas Jesus, percebendo a hipocrisia deles, perguntou: "Por que vocês estão me pondo à prova? Tragam-me um denário para que eu o veja". 16Eles lhe trouxeram a moeda, e ele lhes perguntou: "De quem é esta imagem e esta inscrição?"
"De César", responderam eles.
17Então Jesus lhes disse: "Dêem a César o que é de César e a Deus o que é de Deus".
E ficaram admirados com ele.

O Reino de Deus é uma realidade que abrange todas as áreas da vida humana. Talvez seja por isso que ele seja tão deturpado. As pessoas olham para Jesus e veem em seu discurso, seus atos e sua Igreja a exemplificação de algum modelo sociopolítico. Como uma conhecida minha, que disse ter se tornado “cristã”, por acreditar que o “cristianismo” era um caminho para o comunismo. Não desprezo suas boas intenções, mas quando olhamos para este texto, somos forçados a ver o caminho de Jesus como algo completamente diferente de quaisquer propostas que já tenhamos ouvido.
Diferente da minha conhecida, os herodianos e fariseus tinham uma intenção bem diferente: para o apanharem em alguma coisa que ele dissesse. (v.13). Eles bajulam Jesus a fim de desarmá-lo e lançam seu problema, que, em outras palavras, é: sujeitar-se ao governo romano está de acordo com a Lei de Moisés ou não? Devemos abaixar nossas cabeças, como os herodianos faziam, ou nos colocar contra, como os zelotes? [os zelotes eram uma espécie de revolucionários contra Roma]. Caso fosse a favor do imposto, os fariseus incitariam o povo contra Jesus, dizendo que ele apoiava os inimigos do povo judeu; caso fosse contra, os herodianos iriam até Pilatos e diriam que Jesus estava começando uma revolta.
Assim, a armadilha era aparentemente inescapável. Mas Jesus, como um excelente jogador de xadrez, vira o jogo ao mesmo tempo em que os coloca em xeque-mate. Ele muda o foco da sujeição ou não a Roma, para a sujeição ou não a Deus. Isso fica claro, quando entendemos que a palavra imagem (v.16) é a mesma que a usada em Gn 1.26, quando Deus diz: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança. Ao considerarmos isso juntamente à possível tradução da palavra deem (v.17) como “devolvam”, podemos entender duas coisas: 1º César pode exigir tributo, porque a sua imagem está na moeda (ela lhe pertence); 2º Deus pode exigir sujeição absoluta de qualquer pessoa, porque a Sua imagem está em todos os seres humanos. Nosso dever então é dar a cada um aquilo que é lhe devido, na proporção correta, respeitando a hierarquia estabelecida: obediência e serviço às autoridades até o momento em que nos exigem que façamos o que Deus nos proíbe ou nos omitamos daquilo que Ele nos ordena (Rm 13.1-7).
Assim, Jesus Cristo, o Senhor, chama a todos nós, em primeiro lugar, à sujeição a Deus. Isso quer dizer lutar pela manifestação do Reino de Deus na terra, o qual abrange todas as necessidades do homem. Antecipando as nossas confusões quanto a este aspecto, o Pacto de Lausanne (1974) afirma:
Embora a reconciliação com o homem não seja reconciliação com Deus, nem ação social evangelização, nem a libertação política salvação, afirmamos que a evangelização e o envolvimento sóciopolítico são ambos parte do nosso dever cristão. Pois ambos são necessárias expressões de nossas doutrinas acerca de Deus e do homem, de nosso amor por nosso próximo e de nossa obediência a Jesus Cristo. A mensagem da salvação implica também uma mensagem de juízo sobre toda a forma de alienação, de opressão e de discriminação, e não devemos ter medo de denunciar o mal e a injustiça onde quer que existam.
Gosto desta visão, pois ela não inferioriza, nem supervaloriza os aspectos sociopolíticos da missão cristã. Também não transforma a política em um meio de moralização da sociedade (o que parece ser a única motivação dos cristãos brasileiros ao envolvimento político-social).
A moralização dos homossexuais ou da gravidez indesejada talvez sejam nossas únicas lutas (desprezando, por exemplo, a luta contra a corrupção e a miséria, por punições mais graves contra a pedofilia e o turismo sexual) porque nosso amor por nosso próximo é muito pequeno (como também a nossa obediência a Jesus Cristo), ao passo que o nosso desejo de vivermos num país “crente” é muito grande (o que nos deixaria muito confortáveis, pois não precisaríamos nos posicionar em relação nada ou ninguém).
Nem deixa de nos chamar ao nosso dever para com o próximo. Pois ao nos lembrar do aspecto sociopolítico da missão (sem negar o evangelismo), faz-nos ver que devemos promover uma ação contra tudo o que aliena, oprime e discrimina o ser humano. Paul Freston, no livro Religião e política, sim. Igreja e Estado, não., após nos lembrar que certas causas do sofrimento são políticas, afirma: A solução para os problemas políticos é sempre política. A solução para a má política é a boa política, e para a má espiritualidade é a boa espiritualidade. Com esta última frase o autor nos lembra que a política não é um caminho infalível para a corrupção do político. Ele continua: Quando as implicações sociais do evangelho não são ensinadas, dificilmente os convertidos, por mais numerosos que sejam, transformarão a sociedade.
Além disso, tem como proposta a obediência a Jesus Cristo e não a implantação de um regime político específico. Pois há muitos que acreditam que a solução para trazer o Reino de Deus ao mundo é implantar a democracia, o comunismo ou o anarquismo etc. É certo que há elementos nestas formas de governo que se assemelham a valores cristãos. Mas eles não são o Reino de Deus. Pois a obra de Jesus é muito maior, mais profunda e abrangente, eficaz e transformadora que quaisquer invenções humanas. Ela é um ato divino no mundo, que atinge o pecado, afetando o ser humano em toda a sua relação consigo, com seu próximo, sua cultura, com o meio em que vive e com seu criador. Por isso, a teocracia no Antigo Testamento estava igualmente em exercício na vida patriarcal do clã de Abraão, na organização tribal sob a liderança de Moisés, na “tirania” dos juízes, na monarquia de Davi e no governo de Neemias (mesmo sendo sustentado economicamente por uma superpotência pagã como a Babilônia). Além disso, devemos estar atentos à tentação “diabólica” que C.S. Lewis expõe no livro Cartas de um diabo a seu aprendiz, e que é chamada pelo diabo de “cristianismo e...”: cristianismo e a causa ambiental, cristianismo e comunismo, cristianismo e a Reforma Ortográfica... Pois toda vez que colocamos algo como complementar à fé cristã, nós a adulteramos. O mesmo vale para o Reino de Deus.
Assim, a questão não gira em torno da adesão a um movimento político ou do isolamento; mas sim de se sujeitar ou não a Deus, como indivíduos, famílias, comunidades e sociedade, vivendo de acordo com os valores do Reino de Deus expressos em Sua Palavra. A realidade social muda não ao lutarmos por uma estrutura política específica, mas pela sujeição a Deus, que nos leva a amar o próximo, a odiar a corrupção e a degradação de toda criação de Deus, a buscar constantemente a justiça...
Como exemplo disso, encerro com um relato sobre Abraham Kuyper, Primeiro Ministro holandês, cristão:
Num discurso no Parlamento, estreando como deputado, Kuyper defendeu a elaboração de um código de leis que protegessem o trabalhador, quando nenhum país do mundo tinha tais leis. Em seguida, tirou do bolso um Novo Testamento e leu: “Atendei, agora, ricos, chorai lamentando, por causa das vossas desventuras, que vos sobrevirão. Eis que o salário dos trabalhadores que ceifaram os vossos campos e que por vós foi retido com fraude está clamando” (Tg 5.1,6). O parlamento ficou escandalizado. Em seguida, Kuyper afirmou: “Se eu mesmo tivesse falado tais palavras, as quais lhes parecem radicais e revolucionárias, teriam se oposto. Mas foram escritas por um apóstolo do Senhor. Como pode, pois, alguém confessar Cristo e não defender o trabalhador quando reclama?”.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

O Rei vem - restauração para a obediência


Vimos na semana anterior que Jesus entrara no templo e o purificara. No dia seguinte, ao voltar ao templo, Jesus teve sua autoridade questionada pelos “chefes dos sacerdotes, os mestres da lei e os líderes religiosos” (Mc 11.27-33). Após deixar seus inquiridores sem resposta, Ele conta a seguinte parábola:

Mc 12.1-12
1Então Jesus começou a lhes falar por parábolas: "Certo homem plantou uma vinha, colocou uma cerca ao redor dela, cavou um tanque para prensar as uvas e construiu uma torre. Depois arrendou a vinha a alguns lavradores e foi fazer uma viagem. 2Na época da colheita, enviou um servo aos lavradores, para receber deles parte do fruto da vinha. 3Mas eles o agarraram, o espancaram e o mandaram embora de mãos vazias. 4Então enviou-lhes outro servo; e lhe bateram na cabeça e o humilharam. 5E enviou ainda outro, o qual mataram. Enviou muitos outros; em alguns bateram, a outros mataram.
6"Faltava-lhe ainda um para enviar: seu filho amado. Por fim o enviou, dizendo: 'A meu filho respeitarão'.
7"Mas os lavradores disseram uns aos outros: 'Este é o herdeiro. Venham, vamos matá-lo, e a herança será nossa'. 8Assim eles o agarraram, o mataram e o lançaram para fora da vinha.
9"O que fará então o dono da vinha? Virá e matará aqueles lavradores e dará a vinha a outros. 10Vocês nunca leram esta passagem das Escrituras?
" 'A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular;
11isso vem do Senhor, e é algo maravilhoso para nós'
12Então começaram a procurar um meio de prendê-lo, pois perceberam que era contra eles que ele havia contado aquela parábola. Mas tinham medo da multidão; por isso o deixaram e foram embora.

Estes dias atrás, ouvi sobre um pastor que começara uma nova igreja. Ele saiu da igreja antiga porque estava perdendo “seu espaço” para outro pastor. Situações como esta nos levam a perguntar: quando dizemos que somos servos de Deus, a quem estamos realmente servindo? A Ele ou a nós mesmos?
Neste texto encontramos uma parábola dirigida contra aqueles que deveriam servir a Deus, mas que estão buscando seus próprios interesses. Ao final do texto, é dito que os chefes dos sacerdotes, os mestres da lei e os líderes religiosos perceberam que era contra eles que Jesus contara aquela parábola. Esses três grupos compunham o Sinédrio, o órgão responsável pela religião em Jerusalém. Assim, poderíamos dizer que foi contra o Sinédrio que Jesus contou esta parábola. Porém, da mesma forma que a figueira em Mc 11 [ver o artigo anterior], a ação de Deus matando os lavradores e dando a vinha a outros (Mc 12.9) tem seu cumprimento prefigurado em Mc 13, quando Jesus anuncia que todo o povo de Jerusalém sofrerá o ataque romano. Por isso, podemos dizer que ainda que os lavradores são os membros do Sinédrio, todo o povo judeu está sob o risco de ser lançado fora da vinha. Desta forma, percebemos que esta parábola não deve ser lida apenas contra os nossos líderes atuais, mas contra qualquer um de nós que se declara cristão.
Nesta parábola vemos um homem que prepara uma vinha, a qual era um símbolo do povo de Israel, tal como em Isaías 5, que fala de Deus como alguém que cavou, plantou as melhores videiras e construiu uma torre de vigia (imagens semelhantes às de Mc 12.1). Lá é dito que a vinha do Senhor dos Exércitos é a nação de Israel, e os homens de Judá são a plantação que ele amava. Ele esperava justiça, mas houve derramamento de sangue; esperava retidão, mas ouviu gritos de aflição (v.7). Essa imagem também é usada em Oséias 10, que diz que o povo se desviou e que dirá "Não temos nenhum rei porque não reverenciamos o Senhor. Mas, mesmo que tivéssemos um rei, o que ele poderia fazer por nós?" (v.3). Assim, o juízo de Deus cairia sobre o povo. No entanto, Os 4.6,14 diz que os líderes eram os principais culpados: Meu povo foi destruído por falta de conhecimento. Uma vez que vocês rejeitaram o conhecimento, eu também os rejeito como meus sacerdotes; uma vez que vocês ignoraram a lei do seu Deus, eu também ignorarei seus filhos [...] um povo sem entendimento precipita-se à ruína! Essa ênfase também está presente na parábola de Jesus, na qual a vinha é arrendada a lavradores que devem cuidar dela na ausência do dono e dar os frutos no tempo da colheita (situação comum naquela época).
Mas o que vemos é que os lavradores espancam e matam os servos do dono da vinha, além de mandarem o primeiro sem quaisquer frutos. Para alguns, as mãos vazias seriam sinal de que a vinha não deu quaisquer frutos (assim como a figueira de Mc 11); ou seja, o povo judeu não demonstrou com seu comportamento que era o povo de Deus, agindo de modo reprovável, tal como nos textos de Isaías e Oséias citados anteriormente. Além disso, vemos a perversidade sempre crescente dos lavradores que batem, humilham e matam os servos (como o povo de Israel fez com os profetas de Deus ao longo do AT) e chegam ao cúmulo de matarem o filho amado, lançando-o fora da vinha (assim como Jesus, o filho amado – Mc 1.1,11; 9.7 – foi morto fora de Jerusalém), pois desejam a vinha para si. De fato, uma terra sem herdeiros era considerada naquela época como “terra de ninguém”, o que faz com que aqueles que a possuem de fato, tenham plenos direitos sobre ela.
Por isso, podemos ver que nem a vinha/ o povo presta, pois não produz os frutos (a obediência) que Deus deseja, nem os lavradores/ líderes, porque rejeitam o Senhor da vinha, a medida em que rejeitam, maltratam e matam os profetas que Ele enviava, como também o Seu próprio Filho.
Diante disso, Jesus pergunta, O que fará então o dono da vinha? (v.9). Ele a retomará para que a obediência seja restaurada. Assim, podemos dizer que Deus restaura o Seu povo para a obediência.
Os versículos 9-11 dizem que Ele faz isso de duas formas.
A primeira é que Deus condena aqueles que rejeitam o senhorio de Jesus.
É o que vemos no v. 9: Virá e matará aqueles lavradores. Isso acontece porque rejeitaram Jesus (que é a pedra que os construtores rejeitaram). Isso fica mais claro quando vemos que  começaram a procurar um meio de prendê-lo (v.12), como se estivessem começando a cumprir o v.8, eles o agarraram.
Assim, vemos que Deus procederá da mesma forma que sempre agiu com Seu povo no AT, quando condenou reis e rainhas que O rejeitaram, como Jezabel, que adorava deuses pagãos e tentou diversas vezes matar o profeta Elias; ou mandou seu povo para o exílio, por rejeitarem a mensagem dos Seus profetas e os perseguirem, como fizeram com Jeremias que chamava o povo ao arrependimento. Da mesma forma no Apocalipse em que todos os covardes (que escolheram não sofrer por Jesus), os incrédulos, os depravados, os assassinos (lembrando que Jesus inclui aí aqueles que odeiam o seu próximo), os que cometem imoralidade sexual, os que praticam feitiçaria, os idólatras (sendo que idolatria é colocar algo acima de Deus), e todos os mentirosos – o lugar deles será o inferno (Ap 21.8).
Mas Jesus não diz isso para colocar medo nas pessoas. É certo que o julgamento vem, como em Mc 13, mas o final desta parte de Marcos (Mc 13.32-37) é um chamado ao arrependimento, através da ordem para que vigiem (mantenham-se no caminho certo), pois não saberão quando seu Senhor virá. Assim, Jesus quer que eles se arrependam, após a morte e ressurreição dEle, a fim de não serem condenados.
Pois muitos parecem dedicados a Deus, mas vivem desobedecendo-O: tendo relações sexuais fora do casamento, sonegando impostos, mentindo, odiando o próximo e usando a religião como fonte de lucro ou boa reputação. Mas estes não permaneceram na Igreja de Deus.
E tal situação muitas vezes começa a ocorrer antes mesmo de morrermos. Como no caso de uma moça, que evangelizou muitas pessoas, pastoreou muitas outras, mas que hoje mora com um rapaz com quem não é casada, sendo que ambos não querem saber de Deus. Por isso, retomo a pergunta do começo: quando dizemos que somos servos de Deus, a quem estamos realmente servindo? A Ele ou a nós mesmos? Porque podemos fazer muito para a obra de Deus, mas se não vivemos de acordo com seus mandamentos, não podemos chamá-Lo de Senhor, como Jesus diz em Mt 7.21-23: "Nem todo aquele que me diz: 'Senhor, Senhor', entrará no Reino dos céus, mas apenas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: 'Senhor, Senhor, não profetizamos em teu nome? Em teu nome não expulsamos demônios e não realizamos muitos milagres?'Então eu lhes direi claramente: Nunca os conheci. Afastem-se de mim vocês, que praticam o mal!
Da mesma forma nós não podemos esperar salvação caso não o obedeçamos em seus mandamentos. Se vivermos assim, mesmo que pareçamos muito religiosos, ou servindo muito à obra de Deus, seremos rejeitados por Ele.
Porque Deus condena aqueles que rejeitam o senhorio de Jesus.
Mas Deus não faz apenas isso. O que nos leva à segunda forma pela qual Deus restaura o seu povo para a obediência.
Deus cria um povo obediente a partir de Jesus.
Pois diz os v. 9-11: dará a vinha a outros. Vocês nunca leram esta passagem das Escrituras?" 'A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular; isso vem do Senhor, e é algo maravilhoso para nós'. Assim, Deus cria um povo substituto. É isso que Ele quer dizer com dará a vinha a outros. Foi isso que Ele fez quando chamou Abrão da casa de seu pai Terá (o qual era idólatra segundo Js 24.2); quando substituiu os filhos corruptos do sacerdote Eli por Samuel (1Sm 3.10-4.1); sempre que prometia um remanescente após o exílio (como em Is 6, que diz que Deus cortaria o povo de Israel, como se corta uma árvore, mas que restaria um toco, e, dele, nasceria uma nova árvore/ um novo povo). E é isso que Deus fez com a Igreja, trazendo os gentios (não judeus) e dando a eles a Sua vinha, como diz 1Pe 2.7-10: Portanto, para vocês, os que crêem, esta pedra é preciosa; mas para os que não crêem, "a pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular" e, "pedra de tropeço e rocha que faz cair" Os que não crêem tropeçam, porque desobedecem à mensagem; para o que também foram destinados. Vocês, porém, são geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo exclusivo de Deus, para anunciar as grandezas daquele que os chamou das trevas para a sua maravilhosa luz. Antes vocês nem sequer eram povo, mas agora são povo de Deus; não haviam recebido misericórdia, mas agora a receberam.
É interessante que esse texto que Jesus citou faz parte do mesmo Salmo (118) que o povo citou quando, ao verem Jesus entrando em Jerusalém sobre um jumentinho, disseram "Hosana!" "Bendito é o que vem em nome do Senhor!" "Bendito é o Reino vindouro de nosso pai Davi!" (Mc 11.9-10). Quando a multidão disse isso, pensava que Jesus era o rei-salvador enviado por Deus que traria o Reino de Deus [ver o primeiro artigo da série]. Mas o que eles não entendiam é que seria necessário que Deus retirasse o que estava corrompido (como fez na purificação do templo), a fim de estabelecer algo novo e bom (a Sua Igreja).
Ele faz isso através de Jesus, como Pedro disse na citação acima e como disse diante do mesmo Sinédrio, em At 4.11 e 12, Este Jesus é "'a pedra que vocês, construtores, rejeitaram, e que se tornou a pedra angular' Não há salvação em nenhum outro, pois, debaixo do céu não há nenhum outro nome dado aos homens pelo qual devamos ser salvos". Assim, se Jesus é condenação para os que o rejeitam, é também salvação e misericórdia de Deus para os que se arrependem e O buscam.
Por isso, nos alegremos! Há a possibilidade de Deus nos restaurar para que o obedeçamos, pois o dono da vinha, ou da Igreja se preferirmos, é o mesmo Deus que mandou Jesus para morrer na cruz e ressuscitar, a fim de termos o perdão dos pecados e nos tornarmos seu povo obediente. Isso fica claro quando se sabe que a palavra dono do v.9 é a mesma SENHOR do v. 11 – isso vem do Senhor, e é algo maravilhoso para nós'. Assim não temos um Deus mau, mas um Deus misericordioso que não tolera o pecado e a desobediência, mas, através de Jesus, salva pessoas, fazendo delas um povo obediente.
Para sermos esse povo, nós precisamos nos arrepender de nossa rebeldia e nos ligar a Ele através da obediência aos seus mandamentos, os quais nós encontramos em Sua Palavra, que nos torna um “povo com entendimento” (ao invés do povo de Oséias 4 que perecia pela “falta de entendimento”). Se agirmos assim, seremos a Igreja de Deus.
Pois a maioria das pessoas nunca ouviram falar dos docetistas, que diziam que Jesus não tinha corpo, mas todos sabem quem é o apóstolo João que disse em 1Jo 1.1: O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplamos e as nossas mãos apalparam - isto proclamamos a respeito da Palavra da vida. Da mesma forma, aqueles que pregavam a venda de indulgências como um passaporte para o céu e que enforcavam as pessoas que oravam em nome de Jesus (e não de Maria) foram esquecidos, mas todos conhecem o nome de Lutero, Calvino e John Knox, que pregavam a Jesus Cristo como Salvador e Senhor da Igreja, sendo a sua teologia as bases da fé de inúmeras pessoas.
Aconteceu assim porque Deus cria um povo obediente a partir de Jesus.
Concluindo, temos visto muitas pessoas que parecem cristãs, mas não servem a Deus. Aos desobedientes Deus condena, mas dos que se arrependem, Deus faz um povo obediente por meio da salvação em Jesus. Desta forma, Deus restaura o Seu povo para a obediência. Portanto, nos arrependamos e sejamos obedientes a Ele de acordo com os Seus mandamentos contidos na Sua Palavra, para que, dessa forma, sejamos o Seu povo.