quarta-feira, 18 de abril de 2012

O Rei vem - restauração para a obediência


Vimos na semana anterior que Jesus entrara no templo e o purificara. No dia seguinte, ao voltar ao templo, Jesus teve sua autoridade questionada pelos “chefes dos sacerdotes, os mestres da lei e os líderes religiosos” (Mc 11.27-33). Após deixar seus inquiridores sem resposta, Ele conta a seguinte parábola:

Mc 12.1-12
1Então Jesus começou a lhes falar por parábolas: "Certo homem plantou uma vinha, colocou uma cerca ao redor dela, cavou um tanque para prensar as uvas e construiu uma torre. Depois arrendou a vinha a alguns lavradores e foi fazer uma viagem. 2Na época da colheita, enviou um servo aos lavradores, para receber deles parte do fruto da vinha. 3Mas eles o agarraram, o espancaram e o mandaram embora de mãos vazias. 4Então enviou-lhes outro servo; e lhe bateram na cabeça e o humilharam. 5E enviou ainda outro, o qual mataram. Enviou muitos outros; em alguns bateram, a outros mataram.
6"Faltava-lhe ainda um para enviar: seu filho amado. Por fim o enviou, dizendo: 'A meu filho respeitarão'.
7"Mas os lavradores disseram uns aos outros: 'Este é o herdeiro. Venham, vamos matá-lo, e a herança será nossa'. 8Assim eles o agarraram, o mataram e o lançaram para fora da vinha.
9"O que fará então o dono da vinha? Virá e matará aqueles lavradores e dará a vinha a outros. 10Vocês nunca leram esta passagem das Escrituras?
" 'A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular;
11isso vem do Senhor, e é algo maravilhoso para nós'
12Então começaram a procurar um meio de prendê-lo, pois perceberam que era contra eles que ele havia contado aquela parábola. Mas tinham medo da multidão; por isso o deixaram e foram embora.

Estes dias atrás, ouvi sobre um pastor que começara uma nova igreja. Ele saiu da igreja antiga porque estava perdendo “seu espaço” para outro pastor. Situações como esta nos levam a perguntar: quando dizemos que somos servos de Deus, a quem estamos realmente servindo? A Ele ou a nós mesmos?
Neste texto encontramos uma parábola dirigida contra aqueles que deveriam servir a Deus, mas que estão buscando seus próprios interesses. Ao final do texto, é dito que os chefes dos sacerdotes, os mestres da lei e os líderes religiosos perceberam que era contra eles que Jesus contara aquela parábola. Esses três grupos compunham o Sinédrio, o órgão responsável pela religião em Jerusalém. Assim, poderíamos dizer que foi contra o Sinédrio que Jesus contou esta parábola. Porém, da mesma forma que a figueira em Mc 11 [ver o artigo anterior], a ação de Deus matando os lavradores e dando a vinha a outros (Mc 12.9) tem seu cumprimento prefigurado em Mc 13, quando Jesus anuncia que todo o povo de Jerusalém sofrerá o ataque romano. Por isso, podemos dizer que ainda que os lavradores são os membros do Sinédrio, todo o povo judeu está sob o risco de ser lançado fora da vinha. Desta forma, percebemos que esta parábola não deve ser lida apenas contra os nossos líderes atuais, mas contra qualquer um de nós que se declara cristão.
Nesta parábola vemos um homem que prepara uma vinha, a qual era um símbolo do povo de Israel, tal como em Isaías 5, que fala de Deus como alguém que cavou, plantou as melhores videiras e construiu uma torre de vigia (imagens semelhantes às de Mc 12.1). Lá é dito que a vinha do Senhor dos Exércitos é a nação de Israel, e os homens de Judá são a plantação que ele amava. Ele esperava justiça, mas houve derramamento de sangue; esperava retidão, mas ouviu gritos de aflição (v.7). Essa imagem também é usada em Oséias 10, que diz que o povo se desviou e que dirá "Não temos nenhum rei porque não reverenciamos o Senhor. Mas, mesmo que tivéssemos um rei, o que ele poderia fazer por nós?" (v.3). Assim, o juízo de Deus cairia sobre o povo. No entanto, Os 4.6,14 diz que os líderes eram os principais culpados: Meu povo foi destruído por falta de conhecimento. Uma vez que vocês rejeitaram o conhecimento, eu também os rejeito como meus sacerdotes; uma vez que vocês ignoraram a lei do seu Deus, eu também ignorarei seus filhos [...] um povo sem entendimento precipita-se à ruína! Essa ênfase também está presente na parábola de Jesus, na qual a vinha é arrendada a lavradores que devem cuidar dela na ausência do dono e dar os frutos no tempo da colheita (situação comum naquela época).
Mas o que vemos é que os lavradores espancam e matam os servos do dono da vinha, além de mandarem o primeiro sem quaisquer frutos. Para alguns, as mãos vazias seriam sinal de que a vinha não deu quaisquer frutos (assim como a figueira de Mc 11); ou seja, o povo judeu não demonstrou com seu comportamento que era o povo de Deus, agindo de modo reprovável, tal como nos textos de Isaías e Oséias citados anteriormente. Além disso, vemos a perversidade sempre crescente dos lavradores que batem, humilham e matam os servos (como o povo de Israel fez com os profetas de Deus ao longo do AT) e chegam ao cúmulo de matarem o filho amado, lançando-o fora da vinha (assim como Jesus, o filho amado – Mc 1.1,11; 9.7 – foi morto fora de Jerusalém), pois desejam a vinha para si. De fato, uma terra sem herdeiros era considerada naquela época como “terra de ninguém”, o que faz com que aqueles que a possuem de fato, tenham plenos direitos sobre ela.
Por isso, podemos ver que nem a vinha/ o povo presta, pois não produz os frutos (a obediência) que Deus deseja, nem os lavradores/ líderes, porque rejeitam o Senhor da vinha, a medida em que rejeitam, maltratam e matam os profetas que Ele enviava, como também o Seu próprio Filho.
Diante disso, Jesus pergunta, O que fará então o dono da vinha? (v.9). Ele a retomará para que a obediência seja restaurada. Assim, podemos dizer que Deus restaura o Seu povo para a obediência.
Os versículos 9-11 dizem que Ele faz isso de duas formas.
A primeira é que Deus condena aqueles que rejeitam o senhorio de Jesus.
É o que vemos no v. 9: Virá e matará aqueles lavradores. Isso acontece porque rejeitaram Jesus (que é a pedra que os construtores rejeitaram). Isso fica mais claro quando vemos que  começaram a procurar um meio de prendê-lo (v.12), como se estivessem começando a cumprir o v.8, eles o agarraram.
Assim, vemos que Deus procederá da mesma forma que sempre agiu com Seu povo no AT, quando condenou reis e rainhas que O rejeitaram, como Jezabel, que adorava deuses pagãos e tentou diversas vezes matar o profeta Elias; ou mandou seu povo para o exílio, por rejeitarem a mensagem dos Seus profetas e os perseguirem, como fizeram com Jeremias que chamava o povo ao arrependimento. Da mesma forma no Apocalipse em que todos os covardes (que escolheram não sofrer por Jesus), os incrédulos, os depravados, os assassinos (lembrando que Jesus inclui aí aqueles que odeiam o seu próximo), os que cometem imoralidade sexual, os que praticam feitiçaria, os idólatras (sendo que idolatria é colocar algo acima de Deus), e todos os mentirosos – o lugar deles será o inferno (Ap 21.8).
Mas Jesus não diz isso para colocar medo nas pessoas. É certo que o julgamento vem, como em Mc 13, mas o final desta parte de Marcos (Mc 13.32-37) é um chamado ao arrependimento, através da ordem para que vigiem (mantenham-se no caminho certo), pois não saberão quando seu Senhor virá. Assim, Jesus quer que eles se arrependam, após a morte e ressurreição dEle, a fim de não serem condenados.
Pois muitos parecem dedicados a Deus, mas vivem desobedecendo-O: tendo relações sexuais fora do casamento, sonegando impostos, mentindo, odiando o próximo e usando a religião como fonte de lucro ou boa reputação. Mas estes não permaneceram na Igreja de Deus.
E tal situação muitas vezes começa a ocorrer antes mesmo de morrermos. Como no caso de uma moça, que evangelizou muitas pessoas, pastoreou muitas outras, mas que hoje mora com um rapaz com quem não é casada, sendo que ambos não querem saber de Deus. Por isso, retomo a pergunta do começo: quando dizemos que somos servos de Deus, a quem estamos realmente servindo? A Ele ou a nós mesmos? Porque podemos fazer muito para a obra de Deus, mas se não vivemos de acordo com seus mandamentos, não podemos chamá-Lo de Senhor, como Jesus diz em Mt 7.21-23: "Nem todo aquele que me diz: 'Senhor, Senhor', entrará no Reino dos céus, mas apenas aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: 'Senhor, Senhor, não profetizamos em teu nome? Em teu nome não expulsamos demônios e não realizamos muitos milagres?'Então eu lhes direi claramente: Nunca os conheci. Afastem-se de mim vocês, que praticam o mal!
Da mesma forma nós não podemos esperar salvação caso não o obedeçamos em seus mandamentos. Se vivermos assim, mesmo que pareçamos muito religiosos, ou servindo muito à obra de Deus, seremos rejeitados por Ele.
Porque Deus condena aqueles que rejeitam o senhorio de Jesus.
Mas Deus não faz apenas isso. O que nos leva à segunda forma pela qual Deus restaura o seu povo para a obediência.
Deus cria um povo obediente a partir de Jesus.
Pois diz os v. 9-11: dará a vinha a outros. Vocês nunca leram esta passagem das Escrituras?" 'A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular; isso vem do Senhor, e é algo maravilhoso para nós'. Assim, Deus cria um povo substituto. É isso que Ele quer dizer com dará a vinha a outros. Foi isso que Ele fez quando chamou Abrão da casa de seu pai Terá (o qual era idólatra segundo Js 24.2); quando substituiu os filhos corruptos do sacerdote Eli por Samuel (1Sm 3.10-4.1); sempre que prometia um remanescente após o exílio (como em Is 6, que diz que Deus cortaria o povo de Israel, como se corta uma árvore, mas que restaria um toco, e, dele, nasceria uma nova árvore/ um novo povo). E é isso que Deus fez com a Igreja, trazendo os gentios (não judeus) e dando a eles a Sua vinha, como diz 1Pe 2.7-10: Portanto, para vocês, os que crêem, esta pedra é preciosa; mas para os que não crêem, "a pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular" e, "pedra de tropeço e rocha que faz cair" Os que não crêem tropeçam, porque desobedecem à mensagem; para o que também foram destinados. Vocês, porém, são geração eleita, sacerdócio real, nação santa, povo exclusivo de Deus, para anunciar as grandezas daquele que os chamou das trevas para a sua maravilhosa luz. Antes vocês nem sequer eram povo, mas agora são povo de Deus; não haviam recebido misericórdia, mas agora a receberam.
É interessante que esse texto que Jesus citou faz parte do mesmo Salmo (118) que o povo citou quando, ao verem Jesus entrando em Jerusalém sobre um jumentinho, disseram "Hosana!" "Bendito é o que vem em nome do Senhor!" "Bendito é o Reino vindouro de nosso pai Davi!" (Mc 11.9-10). Quando a multidão disse isso, pensava que Jesus era o rei-salvador enviado por Deus que traria o Reino de Deus [ver o primeiro artigo da série]. Mas o que eles não entendiam é que seria necessário que Deus retirasse o que estava corrompido (como fez na purificação do templo), a fim de estabelecer algo novo e bom (a Sua Igreja).
Ele faz isso através de Jesus, como Pedro disse na citação acima e como disse diante do mesmo Sinédrio, em At 4.11 e 12, Este Jesus é "'a pedra que vocês, construtores, rejeitaram, e que se tornou a pedra angular' Não há salvação em nenhum outro, pois, debaixo do céu não há nenhum outro nome dado aos homens pelo qual devamos ser salvos". Assim, se Jesus é condenação para os que o rejeitam, é também salvação e misericórdia de Deus para os que se arrependem e O buscam.
Por isso, nos alegremos! Há a possibilidade de Deus nos restaurar para que o obedeçamos, pois o dono da vinha, ou da Igreja se preferirmos, é o mesmo Deus que mandou Jesus para morrer na cruz e ressuscitar, a fim de termos o perdão dos pecados e nos tornarmos seu povo obediente. Isso fica claro quando se sabe que a palavra dono do v.9 é a mesma SENHOR do v. 11 – isso vem do Senhor, e é algo maravilhoso para nós'. Assim não temos um Deus mau, mas um Deus misericordioso que não tolera o pecado e a desobediência, mas, através de Jesus, salva pessoas, fazendo delas um povo obediente.
Para sermos esse povo, nós precisamos nos arrepender de nossa rebeldia e nos ligar a Ele através da obediência aos seus mandamentos, os quais nós encontramos em Sua Palavra, que nos torna um “povo com entendimento” (ao invés do povo de Oséias 4 que perecia pela “falta de entendimento”). Se agirmos assim, seremos a Igreja de Deus.
Pois a maioria das pessoas nunca ouviram falar dos docetistas, que diziam que Jesus não tinha corpo, mas todos sabem quem é o apóstolo João que disse em 1Jo 1.1: O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplamos e as nossas mãos apalparam - isto proclamamos a respeito da Palavra da vida. Da mesma forma, aqueles que pregavam a venda de indulgências como um passaporte para o céu e que enforcavam as pessoas que oravam em nome de Jesus (e não de Maria) foram esquecidos, mas todos conhecem o nome de Lutero, Calvino e John Knox, que pregavam a Jesus Cristo como Salvador e Senhor da Igreja, sendo a sua teologia as bases da fé de inúmeras pessoas.
Aconteceu assim porque Deus cria um povo obediente a partir de Jesus.
Concluindo, temos visto muitas pessoas que parecem cristãs, mas não servem a Deus. Aos desobedientes Deus condena, mas dos que se arrependem, Deus faz um povo obediente por meio da salvação em Jesus. Desta forma, Deus restaura o Seu povo para a obediência. Portanto, nos arrependamos e sejamos obedientes a Ele de acordo com os Seus mandamentos contidos na Sua Palavra, para que, dessa forma, sejamos o Seu povo.

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