quarta-feira, 4 de abril de 2012

Aleluia! Cristo ressuscitou!


Pensando na páscoa, ocorreu-me que seria interessante fazer uma breve interrupção às séries e refletirmos sobre a importância da páscoa para nossas vidas. Lembramo-nos muito de como Cristo morreu por nós na sexta-feira da paixão, mas bem pouco sobre como ressuscitou no domingo. Este texto é tanto o meu desejo de uma feliz páscoa a você, leitor, como também o anseio de que você celebre a páscoa com a perspectiva da ressurreição de Cristo e que, no domingo, você possa dizer alegremente, como os primeiros cristãos diziam: “Aleluia! Cristo ressuscitou!”

1Co 15.12-34

12Ora, se está sendo pregado que Cristo ressuscitou dentre os mortos, como alguns de vocês estão dizendo que não existe ressurreição dos mortos? 13Se não há ressurreição dos mortos, nem Cristo ressuscitou; 14e, se Cristo não ressuscitou, é inútil a nossa pregação, como também é inútil a fé que vocês têm. 15Mais que isso, seremos considerados falsas testemunhas de Deus, pois contra ele testemunhamos que ressuscitou a Cristo dentre os mortos. Mas se de fato os mortos não ressuscitam, ele também não ressuscitou a Cristo. 16Pois, se os mortos não ressuscitam, nem mesmo Cristo ressuscitou. 17E, se Cristo não ressuscitou, inútil é a fé que vocês têm, e ainda estão em seus pecados. 18Neste caso, também os que dormiram em Cristo estão perdidos. 19Se é somente para esta vida que temos esperança em Cristo, somos, de todos os homens, os mais dignos de compaixão.
20Mas de fato Cristo ressuscitou dentre os mortos, sendo ele as primícias dentre aqueles que dormiram. 21Visto que a morte veio por meio de um só homem, também a ressurreição dos mortos veio por meio de um só homem. 22Pois da mesma forma como em Adão todos morrem, em Cristo todos serão vivificados. 23Mas cada um por sua vez: Cristo, o primeiro; depois, quando ele vier, os que lhe pertencem. 24Então virá o fim, quando ele entregar o Reino a Deus, o Pai, depois de ter destruído todo domínio, autoridade e poder. 25Pois é necessário que ele reine até que todos os seus inimigos sejam postos debaixo de seus pés. 26O último inimigo a ser destruído é a morte. 27Porque ele "tudo sujeitou debaixo de seus pés" Ora, quando se diz que "tudo" lhe foi sujeito, fica claro que isso não inclui o próprio Deus, que tudo submeteu a Cristo. 28Quando, porém, tudo lhe estiver sujeito, então o próprio Filho se sujeitará àquele que todas as coisas lhe sujeitou, a fim de que Deus seja tudo em todos.
29Se não há ressurreição, que farão aqueles que se batizam pelos mortos? Se absolutamente os mortos não ressuscitam, por que se batizam por eles? 30Também nós, por que estamos nos expondo a perigos o tempo todo? 31Todos os dias enfrento a morte, irmãos; isso digo pelo orgulho que tenho de vocês em Cristo Jesus, nosso Senhor. 32Se foi por meras razões humanas que lutei com feras em Éfeso, que ganhei com isso? Se os mortos não ressuscitam,
"comamos e bebamos, porque amanhã morreremos"
33Não se deixem enganar: "As más companhias corrompem os bons costumes". 34Como justos, recuperem o bom senso e parem de pecar; pois alguns há que não têm conhecimento de Deus; digo isso para vergonha de vocês.

No filme Gattaca, o personagem principal era um homem com diversos “defeitos” físicos, vivendo em um mundo onde só os criados em laboratório para serem geneticamente perfeitos (como seu irmão) tem um lugar na sociedade. Porém os dois costumavam competir para ver quem conseguia nadar até mais longe a partir da praia. O personagem principal, inferior geneticamente, sempre ganhava. Quando questionado pelo irmão sobre como ele conseguia, ele responde: “é porque eu nunca guardei forças para voltar”. Ao que o irmão “perfeito” diz:
- Já estamos longe, vamos voltar!
- Mas estamos quase do outro lado!
- Que outro lado?
O personagem “imperfeito” nadava até o outro lado porque sabia que perto havia um outro lado. Como seu irmão não sabia disso, desistia.
     Da mesma forma que o irmão geneticamente “perfeito” desistia por falta de conhecimento, sem nunca poder chegar ao outro lado, alguns dentre os “irmãos” da igreja de Corinto não possuíam um correto conhecimento de Deus (v.34), ou de Jesus Cristo ressurreto dentre os mortos, e por isso corriam o sério risco de não só afastar-se/ desistir dos caminhos de Jesus, e da própria igreja/ comunidade, como também consequentemente perder toda possibilidade de eles mesmos serem ressurretos dentre os mortos, deixando de receber a vida eterna com Deus.
De fato, Paulo vem relembrando os princípios mais básicos da fé cristã a essa igreja tão problemática. Tal comunidade estava dividida em facções de seguidores de “celebridades” (capítulos 1-4); imoralidade e disputas judiciais entre cristãos, levando o apóstolo até mesmo a sugerir o celibato (cap. 5-7); disputas por direitos como comer ou não carne sacrificada aos ídolos/ deuses pagãos (8-11); problemas e falta de amor nos cultos (11) e disputas entre os que tinham dons espirituais (12-14). Boa parte dessas contendas surgia de um falso senso de conhecimento cristão; tão falso que Paulo diz que ao invés de tratá-los como a “espirituais”, tem de tratá-los como mundanos. Por isso, em todo momento, Paulo fundamenta suas observações e conselhos num conhecimento correto sobre Jesus e os elementos básicos da fé cristã.
No capítulo 15 não é diferente. O risco é sério, pois, diferente dos anteriores, está intimamente relacionado com a condenação eterna ao inferno. O problema fundamenta-se num conhecimento errôneo, como dito acima. Não que nunca tivessem ouvido sobre isso, pois a expressão do v. 34 demonstra o objetivo de Paulo: que eles recuperem o bom senso (NVI), tornem-se novamente sóbrios (ARA) e lembrem-se do evangelho que ouviram dele (15.1).
Por isso Paulo deseja demonstrar que, verdadeiramente, Jesus ressuscitou para nos trazer esperança.
Tal esperança surge em nós quando percebemos que Jesus ressuscitou para nos trazer a ressurreição dos mortos.
Para demonstrar a importância disto, Paulo começa e termina nos mostrando quão horrível seria a situação dos crentes se Jesus nunca tivesse ressuscitado.
Assim ele começa afirmando que se Jesus não ressuscitou, nossa esperança é inútil, estéril, não gera fruto. Em outras palavras, os ateus estão certos em dizer que somos homens tolos que acreditam em contos de fadas; não que Deus não exista (no argumento de Paulo), mas de pouco vale colocar sua esperança em alguém que está morto. Além disso, se se Jesus não ressuscitou, Paulo, Pedro e Apolo – em quem os coríntios se orgulhavam, dizendo “sou de Paulo”, de “Apolo”, ou “de Pedro” (1.12) – eram testemunhas falsas, dizendo mentiras contra Deus. Mas pior que tudo isso: eles e os crentes em Cristo que morreram estavam condenados ao inferno por causa de seus pecados, pois sua fé era enganosa, baseada em mentiras.  Resumindo: se Jesus não ressuscitou, eles criam em mentiras e estavam eternamente condenados. Por isso, Paulo diz que Se é somente para esta vida que temos esperança em Cristo, eram os seres mais miseráveis e dignos de pena de toda a raça humana (v.19).
Se isso é verdade, toda a vida cristã é sem sentido. De nada valeria “batizar-se pelos mortos” (o que alguns sugerem se tratar da tentativa errônea de batizar-se em nome de um crente morto que não havia recebido o batismo em vida, para beneficiá-lo), porque eles já estão no inferno. De nada valeriam os sofrimentos de Paulo, correndo risco de vida por causa do evangelho a cada dia, a cada estrada, cidade ou encontro. De nada valeriam as lutas pelo evangelho. Ou seja, se os mortos não ressuscitam (que parece ser a base do argumento daqueles que diziam que Cristo não ressuscitara (v.1, 15b-16)), a vida não tem sentido, não vale a pena, e o melhor que temos a fazer é viver de festa em festa como fazem muitos que não creem em Deus (Se os mortos não ressuscitam,"comamos e bebamos, porque amanhã morreremos", v.32).
Talvez seja por um pensamento semelhante que muitos ou vivem cambaleando no meio cristão, ou nem querem (mais) saber dele. Se os mortos não ressuscitam ou se toda nossa esperança resume-se a essa vida, por que crer em Cristo? Por que obedecê-lo? Adorá-lo? Proclamá-lo? Ou sofrer por Ele? Não admira, de um lado, que muitos não querem saber por que Jesus morreu na cruz; nem, por outro, que tantos abandonem as igrejas. Se não creio ou não me interesso por minha vida após a morte, mas tão somente antes da morte, por que seguir a Cristo? Por que crer em sua ressurreição?
Se nós não podemos ir para o inferno ou para uma vida de eterno prazer com Deus; se a vida acaba-se como uma bolha que se estoura no momento em que morremos, tudo perde o sentido. Toda aquela baboseira que Heidegger e Sartre escreveram (e que damos o nome de existencialismo – a tentativa humana de trazer sentido à vida) não serve senão de ilusão para um grupo de pessoas que tentam desesperadamente não afundar em depressão. Não é a toa que as festas e as “existências” dos “eruditos” da universidade sejam tão parecidas com as de qualquer “iletrado alienado”, que gasta no sábado à noite o que não conseguiu juntar com 40 horas de trabalho semanais. Talvez estes tenham entendido melhor do que aqueles a conclusão lógica de uma vida que acaba de uma vez por todas. Se a vida acaba, toda tentativa de dar sentido a ela (através de prazeres, espiritualidade oca, ou da dedicação aos outros – que também deixarão de existir) é, como dizia o filósofo Soren Kierkegaard, desespero.
Mas (essa palavra de significado tão especial nas cartas de Paulo!) de fato Cristo ressuscitou dentre os mortos, sendo ele as primícias dentre aqueles que dormiram (v.20). Se o pecado de um traz a morte de todos, a ressurreição de Jesus (o qual morreu e ressuscitou por todos os que creem nEle) traz vida eterna para todos os crentes.
Ah! A grande mensagem do evangelho é essa: há uma solução para a morte! A ressurreição de Cristo, a qual resolve de uma vez por todas essa questão. De fato a morte ainda ocorre, mas aquilo que era “o maior dos males” foi revertido na maior das alegrias.
É Kierkegaard, em O desespero humano quem nos mostra essa realidade:
Porque na linguagem humana a morte é o fim de tudo, e, como se costuma dizer, enquanto há vida, há esperança. No entanto, para o cristão, a morte de modo algum é o fim de tudo, e nem sequer um simples episódio perdido na realidade única que é a vida eterna. A morte implica para nós infinitamente mais esperança do que a vida comporta, até mesmo quando a saúde e força transbordam.
Desta forma, ao invés de tirar o valor da vida, a morte daquele que crê na ressurreição em Cristo, molda-a e a significa por completo. Cada detalhe é revestido de importância para aqueles que sabem que Deus provará a qualidade da obra de cada um (1Co 3.13). Vale a pena viver, pois se vivermos bem (segundo os critérios de Deus), nada estará perdido. Tal é a diferença entre o padre e o personagem principal (ateu) de “Mar adentro” (filme baseado na história real de Ramón Sampedro). O primeiro sai de cena vivo, o outro se mata no fim do filme.
Pelo mesmo motivo é que John Stott cita as palavras de Joni Tada, também tetraplégica, em seu livro O incomparável Cristo: Nenhuma outra religião, nenhuma outra filosofia promete novo corpo, coração ou mente. Só o Evangelho de Cristo faz com que sofredores encontrem essa esperança incrível.  Não foi à toa que esta mulher “aprendeu a pintar, ficou famosa como conferencista e escritora e desenvolveu um trabalho de ajuda a deficientes físicos”.
Assim, Jesus ressuscitou para trazer a ressurreição dos mortos, a fim de nos encher de uma esperança que vivifica cada momento e aspecto de nossas vidas, enchendo-as de sentido.
No entanto, essa esperança só se completa se vivermos eternamente em um mundo melhor. De que valeria viver eternamente em um mundo cheio de caos, sofrimento e violência?
Felizmente, Jesus ressuscitou para fazer Deus soberano sobre todas as coisas.
Os v.23-28 nos trazem a agenda divina. Segundo ela, Jesus ressuscitou dos mortos primeiro e na ocasião da sua vinda, para trazer o Reino de Deus de uma vez por todas, todos os que têm sua esperança nEle, serão ressurretos dentre os mortos. Neste momento, virá o fim, ou seja, todas as coisas e toda a História atingirão o seu propósito. Isso ocorrerá quando ele entregar o Reino a Deus, o Pai (v.24). Porém antes disso, todos os “poderes” que lhe são contrários serão destruídos de uma vez por todas. Podemos agrupá-los em duas categorias/ poderes: todo domínio, autoridade e poder (v.24) e a morte (v.26).
Os primeiros são chamados de poderes, pois tratam de seres sobrenaturais (Satanás e seus anjos) que exercem um domínio opressivo de deturpação e destruição sobre a criação de Deus. Embora a responsabilidade humana não seja descartada, o Novo Testamento (sobretudo os evangelhos) divide a realidade humana em dois reinos. O reino de Satanás, com sua violência, escravidão, imoralidade, mentira, corrupção e sofrimento etc. E o Reino de Deus, repleto de alegria, paz, amor, justiça, saúde, santidade, retidão etc.
Jesus ressuscitou para substituir um reino por Outro.
O segundo poder, a morte, age de modo “infalível” sobre toda a vida, de modo que mesmo os cristãos ainda não passam incólumes por ela. Por isso, Paulo diz que é o último a ser destruído. Porém, na vinda de Jesus ela deixará de existir por completo. A alegria não acabará.
De fato Ele fará isso e já começou a fazer. Por isso os v.25 e 27: Pois é necessário que ele reine até que todos os seus inimigos sejam postos debaixo de seus pés. Porque ele "tudo sujeitou debaixo de seus pés". Contudo, como podemos perceber, assistindo o noticiário, isso é algo ainda não completado. Por causa disso, o v.28 expressa essa vitória gradual no tempo futuro Quando, porém, tudo lhe estiver sujeito.
].
Mas Jesus não usurpará para si tal governo ...então o próprio Filho se sujeitará àquele que todas as coisas lhe sujeitou, a fim de que Deus seja tudo em todos (v.28). Pois seu desejo é que o Pai seja soberano sobre todas as coisas e que todas as coisas sejam segundo a vontade dEle para a total felicidade de Deus e dos cristãos.
Talvez a melhor forma de demonstrar a maravilhosa esperança que esta parte nos traz, seja com a imagem final de todas As Crônicas de Nárnia, em A última batalha (de C.S. Lewis):

...Então Aslam voltou-se para eles, dizendo:
- Vocês ainda não parecem tão felizes como eu gostaria.
- É que estamos com medo de ser mandados embora, Aslam! Já fomos mandados de volta ao nosso próprio mundo muitas vezes.
- Não precisam ter medo – disse o Leão. – Vocês ainda não perceberam?
Sentiram o coração pulsar forte e uma leve esperança foi crescendo dentro deles.
- Aconteceu mesmo um acidente com o trem – explicou Aslam. – Seu pai, sua mãe e todos vocês estão mortos, como se costuma dizer nas Terras Sombrias. Acabaram-se as aulas: chegaram as férias! Acabou-se o sonho: rompeu a manhã!
E, à medida que Ele falava, já não lhes parecia mais um leão. E as coisas que começaram a acontecer a partir daquele momento eram tão lindas e grandiosas que não consigo descrevê-las. Para nós, este é o fim de todas as histórias, e podemos dizer, com absoluta certeza, que todos viveram felizes para sempre. Para eles, porém, este foi apenas o começo da verdadeira história. Toda a vida deles neste mundo e todas as suas aventuras em Nárnia haviam sido apenas a capa e a primeira página do livro. Agora, finalmente, estava começando o Capítulo Um da Grande História que ninguém na terra jamais leu: a história que continua eternamente e na qual cada capítulo é muito melhor do que o anterior.
Deste modo, Paulo nos mostra que a ressurreição de Jesus traz um mundo no qual Deus é soberano sobre todas as coisas e que isto significa o fim de tudo que nos traz sofrimento e desesperança, ao mesmo tempo em que completa o propósito divino de trazer uma era de eterna felicidade.
O propósito de Paulo em tudo isso é que não nos deixemos enganar por aqueles que dizem que não há ressurreição dos mortos; que paremos de pecar, quando não cremos na ressurreição de Cristo e retornemos ao bom senso do evangelho a fim de desfrutarmos da esperança que Jesus nos trouxe quando ressuscitou (v.33 e 34).
Portanto, que nesta páscoa, lembremo-nos daquele que pode ser o único motivo da esperança do homem, Jesus Cristo. Ele ressuscitou para nos trazer a ressurreição dos mortos e fazer Deus soberano sobre todas as coisas. Se crermos nEle, mantendo viva a nossa esperança na nossa ressurreição e na vinda do Reino de Deus com Jesus, teremos uma vida cheia de sentido e uma eternidade repleta de felicidade.

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