quarta-feira, 4 de julho de 2012

Viagem missionária

Bom pessoal,
Amanhã irei para uma viagem missionária em Canela, RS. Volto dia 17/07
Portanto, os artigos e séries entram em férias até agosto. Enquanto isso vc pode orar pelos seguintes motivos:
- clima favorável às atividades;
- saúde dos participantes;
- abertura das pessoas ao evangelho;
- direcionamento de Deus para cada atividade;
- poder e presença do Espírito Santo com cada um que irá trabalhar;
- pela organização de mais uma igreja na cidade;
- que o trabalho seja frutífero e Deus seja glorificado ali.

Abraços!

Marcelo Luiz Tavares

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Homem e mulher os criou



Gn 2.18-24
18Disse mais o SENHOR Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea. 19Havendo, pois, o SENHOR Deus formado da terra todos os animais do campo e todas as aves dos céus, trouxe-os ao homem, para ver como este lhes chamaria; e o nome que o homem desse a todos os seres viventes, esse seria o nome deles. 20Deu nome o homem a todos os animais domésticos, às aves dos céus e a todos os animais selváticos; para o homem, todavia, não se achava uma auxiliadora que lhe fosse idônea.
21Então, o SENHOR Deus fez cair pesado sono sobre o homem, e este adormeceu; tomou uma das suas costelas e fechou o lugar com carne. 22E a costela que o SENHOR Deus tomara ao homem, transformou-a numa mulher e lha trouxe. 23E disse o homem:
Esta, afinal, é osso dos meus ossos e carne da minha carne; chamar-se-á varoa (mulher), porquanto do varão (homem) foi tomada.
24Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne.

Viver em família numa sociedade individualista tornou-se um problema. Vivemos buscando a realização de nossos sonhos pessoais e buscamos o casamento como uma forma de satisfazer alguns deles: não ficar só, ter filhos... Dependendo do sonho, arranjamos a família conforme achamos ideal: com ou sem filhos, com ou sem cônjuges, com ou sem a intromissão frequente dos nossos pais, com ou sem pessoas de gênero diferente ao nosso, com ou sem a superioridade de um gênero em relação ao outro, com ou sem um contrato social, com ou sem igreja...
A vida familiar gira em torno de nossos sonhos egoístas e não é a toa que ande tão mal, pois homem e mulher foram feitos um para o outro (e crianças precisam de boas figuras maternas e paternas, masculinas e femininas para se desenvolver, lembrando que na Bíblia corpo e alma, “biologia e psicologia” estão interligados). No fundo, há uma crença de que se pode reinventar a família como se quiser, de que se pode fazer tudo dar certo por si mesmo.
Mas Deus não concorda com isso. A sua declaração inicial é um atestado de nossa incompetência individual: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea (v.18). Em outras palavras, Deus diz: o homem (ou a mulher) sozinho não pode ser fecundo, multiplicar-se, encher a terra e sujeitá-la (Gn 1.28). Sem homem e mulher juntos não pode haver E viu Deus que isso era bom (Gn 1); a criação fica incompleta, devendo algo aos propósitos sábios de Deus.
A primeira coisa que Deus faz é mostrar isso ao homem. Deus lhe traz os animais (em casais?) para que o homem comece a exercer sua autoridade sobre eles, através do ato de nomeá-los. Aqui a distinção entre humano e inumano é gritante, tanto pela nomeação dos animais quanto pelo uso da palavra homem/ humanidade para referir-se a Adão. Durante o desfile dos animais e da consequente nomeação, o homem percebe que está só, que não há alguém igual a ele, com quem ele possa multiplicar-se, cumprir o seu destino. Falta-lhe algo. Algo muito importante. E isso não é bom.
Deus, então, entra em ação. Ele coloca o homem em um profundo sono e enquanto isso retira uma parte do lado do homem. E molda essa parte humana em um novo ser. Nisso já se vê a igualdade entre homem e aquela que lhe é idônea/ correspondente. Ele a traz ao homem, de forma semelhante aos animais.
Quando a vê, o homem tem uma surpresa: esse ser vivo é igual a ele; é osso dos seus ossos e carne da sua carne; possui todos os atributos que ele tem: inteligência, vontade, emoções, criatividade, humor etc.; ela é feita à imagem e semelhança de Deus tanto quanto ele.
Mas também é diferente dele: ela supre o que lhe falta, da mesma forma que ele supre o que falta a ela. Juntos podem cumprir o que separados não podem: podem gerar vida, multiplicar-se, encher a terra com a imagem de Deus e constituir uma família. Por isso, ela é sua auxiliadora, bem como ele dela. Esta mesma palavra é atribuída a Deus, em Gn 49.25: pelo Deus de teu pai, o qual te ajudará, e pelo Todo-Poderoso, o qual te abençoará com bênçãos dos altos céus, com bênçãos das profundezas, com bênçãos dos seios e da madre. Assim, ser auxiliador, neste caso, não significa ser inferior (tal como o auxiliar de dentista em relação ao dentista), mas ser capaz de fazer algo que o auxiliado não pode fazer sozinho ou por si mesmo.
Por isso seu nome, varoa, deriva do nome dele, varão – duas palavras com som parecido no hebraico. A construção usada ao descrever a nomeação da mulher tem sentido diferente da usada na nomeação dos animais. Neste caso, traz um sentido de ter autoridade. Mas no caso da mulher, traz o sentido de alguém que viu quem ela é e, em consequência disto, lhe dá o nome que corresponde ao que viu: alguém que é igual a ele, mas que diferente de outro homem, lhe corresponde e auxilia.
“Por este motivo”, diz o narrador, “é que um homem entre nós, quando quer constituir família, deixa a família dos pais e constituí uma nova família unindo-se a uma mulher”. Novamente há um momento “sem mulher” (e sem união sexual), antes do casamento, quando o homem e mulher fazem parte de um núcleo familiar, e um momento “com mulher”, em que homem e mulher casam-se e unem-se em família heterossexual.
No contexto familiar da época, isso não significava separação emocional ou saída da casa do pai do marido, mas simplesmente que uma nova família começava a surgir. Pois naquela época, não era desejável que um adulto não fizesse parte de uma família. De fato, pode-se dizer que era inconcebível.
Assim, Deus dá homem e mulher um para o outro. Ele nos cria para constituir famílias heterossexuais, monogâmicas e nucleares. Qualquer atitude contrária deveria ser buscada apenas com a intenção de agradar a Deus, segundo a orientação dEle (Mt 19.12, 1Co 7). Deus não cria nem homem como superior à mulher, nem o oposto; ambos precisam um do outro, a fim de não estarem sós, de criar um novo núcleo familiar e de gerar vida, multiplicando a imagem de Deus sobre a terra.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Rio + Gen 2.4-17


Gênesis 2:4-17

4Esta é a história das origens dos céus e da terra, no tempo em que foram criados:
Quando o Senhor Deus fez a terra e os céus,5ainda não tinha brotado nenhum arbusto no campo, e nenhuma planta havia germinado, porque o Senhor Deus ainda não tinha feito chover sobre a terra, e também não havia homem para cultivar o solo.
 6Todavia brotava água da terra e irrigava toda a superfície do solo.
7Então o Senhor Deus formou o homem do pó da terra e soprou em suas narinas o fôlego de vida, e o homem se tornou um ser vivente.
8Ora, o Senhor Deus tinha plantado um jardim no Éden, para os lados do leste; e ali colocou o homem que formara.9Então o Senhor Deus fez nascer do solo todo tipo de árvores agradáveis aos olhos e boas para alimento. E no meio do jardim estavam a árvore da vida e a árvore do conhecimento do bem e do mal...
15O Senhor Deus colocou o homem no jardim do Éden para cuidar dele e cultivá-lo.
16E o Senhor Deus ordenou ao homem: "Coma livremente de qualquer árvore do jardim, 17mas não coma da árvore do conhecimento do bem e do mal, porque no dia em que dela comer, certamente você morrerá".

Os noticiários voltaram seus olhos para o Rio +20. A expectativa em torno deste evento é a de um “mundo justo e sustentável”: eliminação da pobreza e um cuidado rigoroso do meio ambiente são alvos levantados. Há 20 anos, quando a situação já era alarmante, tivemos a Eco 92. Desde então, pouco se fez. Ao que parece, não acreditávamos que cuidar do planeta fosse ou algo com o que deveríamos nos preocupar ou uma tarefa nossa a desempenhar.
Porém ainda estamos lerdos. Não cuidamos de nossa vizinhança, não tratamos de projetos sérios em nossas igrejas (mesmo com o movimento das Igrejas Ecocidadãs), gastamos vários copos descartáveis em nossas igrejas, não pensamos em como reduzir o consumo de papel (ou exigir que nossos boletins de igreja – são mesmo tão necessários numa era virtual? – sejam ao menos impressos em papéis reciclados)...enfim, muita coisa pode ser mudada. E deve. Pois o meio ambiente não é apenas a nossa casa. Ele é a nossa incumbência.
Essa é a lição de Gn 2.4-17 (além de outras... mas tudo a seu tempo). Os v.4-5, trazem a imagem de uma criação que não se desenvolve, pois ainda não tinha brotado nenhum arbusto no campo, e nenhuma planta havia germinado. Embora isso pareça estranho – sobretudo quando comparado com a criação completa em Gn 2.1 – não é. Se o leitor bem se lembra, Gênesis é escrito por um povo que tem uma visão de um Deus em movimento, sempre trabalhando. Assim, Deus faz tudo perfeito, nada faltando acrescentar, mas a obra é contínua. E isso é proposital. O v.5, além de nos dizer o porquê da vida não se desenvolver - porque o Senhor Deus ainda não tinha feito chover sobre a terra, e também não havia homem para cultivar o solo – também nos abrem para o que Deus fará em seguida.
A primeira coisa é que Deus mesmo se envolve no processo de irrigação. No v. 6 diz-se que a água brota da terra (não névoa, nem orvalho) e é o suficiente para irrigar toda a superfície do solo. Os v. 10-14, trazem o como: do Éden nasce um rio, que se divide em quatro. Em outras palavras, do Éden a vida jorra, devido ao cuidado de Deus.
Da mesma forma, se há vida hoje isso se deve a Deus. O sol, a chuva, o fato de o desequilíbrio não ser maior do que já é e a possibilidade de continuarmos a viver deve-se a Deus, no qual vivemos, nos movemos e existimos (At 17.28), no Pai, que faz raiar o sol...e derrama chuva (Mt 5.45) e no Filho, em quem tudo subsiste (Cl 1.17). Mesmo a lista de Jó 38.25-39.30 não é suficiente para vermos o seu cuidado meticuloso com tudo o que Ele criou.
Além disso, Deus cria o homem para que ele participe deste trabalho. Já na criação dele vemos um ato diferenciado: modelado como que por um escultor e vivificado com o próprio sopro de Deus. Ele é colocado no jardim. Um jardim (a melhor tradução seria pomar) de árvores agradáveis e boas (do mesmo modo que a árvore do conhecimento do bem e do mal), chamado de Éden, “lugar de delícias”.
Lá (aqui) o homem tem uma missão: cuidar do jardim e cultivá-lo. Essa tarefa é antes da queda (o que significa que o trabalho não é maldição, mas faz parte da nossa essência) e a sucede (Gn 3.23).
Até quando? O jardim é chamado de “paraíso” na tradução grega (septuaginta), que emprestou essa palavra persa usada para se referir ao jardim do rei da babilônia: os famosos jardins suspensos. Essa é a mesma palavra grega usada para se referir ao paraíso cristão. Assim, respondendo a questão: até que Cristo volte para fazer deste paraíso quebrado, “um novo lugar de delícias”.
Isso coloca em nós um dever duplo. Primeiro cuidar (a melhor tradução é proteger) do meio ambiente [ver o segundo parágrafo e digitar “jejum de carbono”, “igrejas ecocidadãs” e/ ou “a rocha” no google]. A segunda é cultivar/ lavrar/ ajudar a criação a atingir sua finalidade. Em outras palavras, tudo que os agrônomos, pecuaristas, biólogos, geneticistas, profissionais da saúde, veterinários e todos os profissionais ligados direta ou indiretamente à criação (isso inclui nosso corpo, mente e alma) fazem: engenheiros e operários que fazem carros que poluem menos (assim como químicos que desenvolvem detergentes biodegradáveis); professores que ajudam seus alunos a serem cidadãos de verdade e a desenvolverem todo o seu potencial; artistas que retratam a criação ou nos ajudam em nossos dilemas; e assistentes sociais e advogados que ajudam pessoas e comunidades a lutar por seus direitos etc. Tudo que é feito para fazer deste mundo um lugar justo e sustentável (e muito mais que isso) é uma vocação dada por Deus a cada um para participarmos da sua obra que traz vida a este mundo.
Mas isso nos coloca diante de uma escolha, entre duas árvores: buscar inutilmente o lugar de Deus, resultando em exploração e destruição da criação (a sugestão diabólica de Gn 3.4-5, tendo o conhecimento do bem ou do mal, sem conseguir cumprir plenamente o bem = sem ser Deus) ou aceitar nosso lugar abaixo de Deus, com nossa tarefa e desfrutar eternamente da árvore da vida que fica no meio jardim. Abaixo dela passa o rio da vida e ela frutifica doze meses por ano, uma por mês. As folhas da árvore servem para a cura das nações (Ap 22.1-2).

quarta-feira, 13 de junho de 2012

O sétimo dia


Gênesis 2.1-3
1Assim, pois, foram acabados os céus e a terra e todo o seu exército. 2E, havendo Deus terminado no dia sétimo a sua obra, que fizera, descansou nesse dia de toda a sua obra que tinha feito. 3E abençoou Deus o dia sétimo e o santificou; porque nele descansou de toda a obra que, como Criador, fizera.

Quando criança, minha mãe contava-me a história da formiga e da cigarra. A primeira só trabalhava e a segunda só cantava (acho que os músicos não gostam muito desse “só”); quando chegou o inverno, a formiga tinha comida e a cigarra, que não havia acumulado nada, morreu de fome. Embora a Bíblia fale de sermos como a formiga (e não preguiçosos), creio que no sétimo dia, ela nos chame a ser como a cigarra (sem ofensa aos músicos!).
Mas é verdade que vivemos no mundo da formiga. Trabalhamos (in)cansavelmente e vivemos em constante competição porque achamos que não haverá um lugar para todos; além de vivermos ansiosos, porque cremos que amanhã pode não haver o suficiente para vivermos decentemente. Criamos sistemas de segurança para o futuro, mantendo-nos em casamentos de aparências [creio que o divórcio é antibíblico] e relacionamentos com pessoas a quem não amamos [sei que o amor é ação e não simples sentimento]; suportamos chefes e situações estressantes e opressivas, além de aceitarmos algo que não se encaixa com nossa vocação; em tudo nos virando com o mal conhecido, com um receio enorme do bem desconhecido; repetindo sempre os jargões: “é assim mesmo”, “nem todo casamento dá certo”, “nem todo mundo faz o que gosta”, “é preciso ser prudente” etc. Em todo tempo lutamos, porque cremos que vivemos em um mundo imperfeito e em um deus que diz “virem-se! Conquistem por si mesmos o seu lugar no mercado da vida! Se não conseguirem, a culpa será somente sua! Ninguém mandou viver como a cigarra e não como a formiga!”
Algo interessante é que a formiga não partilha nada com a cigarra e ninguém a chama de egoísta – será que fomos moldados assim também? Compramos roupas de marca, comemos fora todo final de semana, enchemos as estantes com coisas que nunca mais usaremos, gastamos energia e água à toa, não reutilizamos quase nada e para sentirmo-nos cristãos gastamos centenas de reais com acampamentos enquanto o Haiti vivia em desespero, pessoas eram expulsas de suas moradias ou morriam de frio e de fome ao redor do globo. Se não há o suficiente para todos, será que não somos parcialmente culpados disso?
A obra de Deus, porém, é boa e perfeita. Ele transforma uma “terra sem forma e vazia” (um deserto) em uma terra na qual chovia comida. Transforma Canaã em uma terra onde manam leite e mel. Ao sétimo dia sua obra está completa, nada falta, nada precisa de retoques. Por isso, cessa todo seu trabalho. Esta palavra é traduzida como descansou (Gn 2) ou como sábado (no resto do Antigo Testamento). Mas Deus não está exausto. Ele cessa porque tudo está completo, perfeitamente. E porque cessa, abençoa e santifica o sétimo dia.
Este dia traz a marca da perfeição, mas também da suficiência da criação de Deus. Nele não é preciso colher o maná; no sábado de anos (7º ano após o início da semeadura) não é preciso trabalhar. O dever é o repouso, o cessar de toda obra, confiando na benção que Deus coloca sobre este período. Por isso, traz a marca do descanso e quietude dependentes, da certeza e sinal de uma aliança com Deus (Ex 31.12-17). Trabalhar neste dia era desconfiar/ rejeitar a aliança deste Deus providente, que faz tudo bom e perfeito, no tempo certo.
O sábado também era sagrado. Não como algo de maior importância do que os outros seis dias (pois Deus age neles), mas como tempo de reconhecimento e celebração da obra perfeita de Deus ao longo da semana. Nele havia a certeza de que Deus sempre cuida de seu povo; nele havia a recuperação da imagem de Deus no homem, através da obediência e dependência ao Criador.
Mas em nossos dias, o dia sagrado foi movido para o domingo, pois nele Jesus ressuscitou. Nele a vida, que estava à morte, recebe eternidade; nele a imagem de Deus é recuperada; Ele é aquele que faz tudo muito bem (Mc 10.37, NVI); nele se descansa para a salvação, nele se realiza a missão para a restauração de todas as coisas.
Nele, nossos dias recebem nova vida e são refeitos em obra completa e boa. Deus cuida de nossas necessidades e dá-nos além do necessário afim de que supramos os outros. Ele cria homem e mulher para viverem em famílias saudáveis (e agirá continuamente assim se o buscarmos); dá a cada um sua vocação (a qual se manifesta em desejo na ausência e em alegria na sua realização), pois cria cada um com seu respectivo lugar no mundo. Ordena aos seus filhos que lutem contra a injustiça, contra a desigualdade e contra as condições insalubres do fraco, pois Ele mesmo está comprometido com isso. Cria os homens para que todos sejam um e o mundo viva em paz. Cria o homem para a natureza e a natureza para o homem; ambos para Si e Ele mesmo se dá para ambos.
E ordena-nos a reconhecer a perfeição da Sua obra, ao fazermos do sétimo dia um tempo de contemplação, descanso e celebração.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

À Nossa imagem e semelhança


Gênesis 1.26-31

26Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus, sobre os animais domésticos, sobre toda a terra e sobre todos os répteis que rastejam pela terra.
27Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou.
28E Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja pela terra.
29E disse Deus ainda: Eis que vos tenho dado todas as ervas que dão semente e se acham na superfície de toda a terra e todas as árvores em que há fruto que dê semente; isso vos será para mantimento. 30E a todos os animais da terra, e a todas as aves dos céus, e a todos os répteis da terra, em que há fôlego de vida, toda erva verde lhes será para mantimento. E assim se fez.
31Viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom. Houve tarde e manhã, o sexto dia.

A humanidade falhou. Vivemos em um ecossistema em desiquilíbrio, com o qual vivemos em uma relação de inimizade (tal como o Mickey e o Pato Donald com as abelhas, tornados e afins). Duas guerras mundiais e uma contínua instabilidade internacional acabaram com a nossa esperança de paz mundial. No dia-a-dia em nosso trabalho, o outro deixou de ser um colega e passou a ser um competidor. Apesar de todo progresso, mulheres ainda têm salários menores que os homens; o racismo ainda acontece sutilmente; eruditos desprezam os menos “entendidos”; seja na política, nas empresas ou no campo, poucos ficam ricos à custa da exploração de muitos; os governantes se tratam no Sírio Libanês e os pobres morrem na fila do SUS; os ricos fazem faculdade no exterior e os pobres têm progressão continuada mesmo sem saber ler o jornal. Madames levam seus animais de estimação em spas, enquanto crianças pedem esmolas nos semáforos.
Tudo isso deriva do individualismo em que vivemos. Como se alguns (muitas vezes nós mesmos) tivessem valor maior que outros. Como se o mundo e as pessoas fossem algo que só existe quando eu preciso: aí eu me conecto com eles (ou fico “on”) até que eu enjoe ou não precise mais deles. Como se eu não tivesse obrigação nem com Deus, nem com o próximo, nem com o meio ambiente.
De certa forma, tudo isso existia no mundo do AT. O mar era visto como um deus que poderia matar aqueles que se aventuravam nele (veja o livro de Jonas no AT, ou Poseidon na Odisseia de Homero). Doenças e morte eram mais comuns. Reis e sacerdotes colocavam-se como deuses ou representantes divinos explorando muitos. Povos viam outros povos como seres inferiores e passíveis de serem escravizados (como o povo hebreu no Egito). Os mais fortes, os mais sábios e os mais ricos viam-se como superiores (Jeremias 9.23). Políticas internacionais eram resolvidas nos campos de batalha. A comida do pobre (e seus próprios filhos) era visto como despojo de guerra ou como oferenda aos deuses.
Neste contexto, Gênesis 1.26-31 é revolucionário. Ele diz que Deus criou o homem (todos os homens, de qualquer sexo, raça, credo, idade, nação ou lugar na sociedade) à Sua imagem e semelhança. Isso quer dizer que homens e mulheres; crianças, adultos e idosos; brancos, negros, índios e asiáticos; pobres e ricos; reis/ governantes e escravos; executivos e faxineiros; cultos e analfabetos...todos são iguais aos olhos de Deus e, por isso, igualmente dignos de honra.
Portanto, ninguém pode ser explorado ou oprimido; mulheres devem ter os mesmos salários e espaço que os homens; a opinião dos iletrados e incultos deve receber o mesmo tratamento que a dos eruditos e especialistas no assunto; todos têm direito ao mesmo padrão de vida, ao mesmo acesso à saúde e educação, conforto e prosperidade; todas as nações têm direito à mesma tecnologia e aos mesmos subsídios, assim como todas as línguas têm direito ao mesmo evangelho; todas as cidades e bairros têm de receber a mesma consideração no planejamento anual etc.
Este texto também nos mostra que Deus criou um ser relacional (homem e mulher). Isso deve ter sido um choque para as religiões da época que só viam no homem um servo dos deuses e nada mais. Assim, fomos criados para o relacionamento com Deus (e não para o ateísmo); para o casamento heterossexual sadio (não para a solidão ou o homossexualismo); para a paternidade/ maternidade muito mais que para nos tornarmos donos de um animal ou para resolvermos um casamento ruim; para vermos no próximo um irmão (não um competidor capitalista); criados para viver em comunidade, amando e conhecendo o próximo intimamente (não no isolamento ou em relações precárias via facebook). O próximo não é um objeto para o meu benefício, prazer, distração ou enriquecimento; muito menos Deus. Fomos criados para a pessoalidade, com Deus e com o próximo.
Além disso, Deus abençoa-nos para que dominemos sobre a terra. Essa é a finalidade de sermos à imagem dEle e de nos multiplicarmos e enchermos a terra, pois Ele quer reinar (e continuar a criar e por ordem no caos) sobre ela através de nós. A relação do hebreu com a terra deveria ser mutualista: ele se beneficiaria dela, mas também a protegeria (Gn 2.15). Assim, somos ordenados a usá-la para nosso benefício (não capricho), mas também a lutar pela restauração/ preservação do meio ambiente, a lutar contra o caos e a morte nela.
Agora, a imagem de Deus e a capacidade para o relacionamento com Ele e com o próximo, bem como a ordem na criação, foram arruinadas pelo pecado, mas Cristo é aquele que nos faz novamente ser à imagem de Deus (2Co 5.17) e capazes de sermos um com Ele e com o próximo (Jo 17.20-21), além de fazer novas todas as coisas criadas. Ele incumbiu a Igreja com o dever de levar essa realidade a todas as pessoas e lugares, usando de palavras, mas também de ações. A fim de que, através dela, o Criador reine soberano, sobre todas as pessoas, lugares e situações. Pois viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom.

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Um só Deus, uma só vida


Gn 1-5
1No princípio, criou Deus os céus e a terra.
2A terra, porém, estava sem forma e vazia; havia trevas sobre a face do abismo, e o Espírito de Deus pairava por sobre as águas.
3Disse Deus: Haja luz; e houve luz. 4E viu Deus que a luz era boa; e fez separação entre a luz e as trevas. 5Chamou Deus à luz Dia e às trevas, Noite. Houve tarde e manhã, o primeiro dia.
O modo como vemos o mundo molda o modo como vivemos nele. As concepções atuais sobre o mundo variam do empirismo (que afirma que tudo que percebemos não passam de estímulos desconexos que são interpretados por nós, na tentativa de criar uma ilusão de que há sentido na vida) à religiosidade baseada em seres espirituais bons e maus que afetam caprichosamente nosso dia-a-dia. Assim, o mundo ao redor é ou sem sentido, ou um lugar de possibilidades (muitas vezes ruins) que nos surgem sem aviso.
Um mundo desconfortável, como nos diriam os estressados, os depressivos e os suicidas. A fim de sobreviver nele, buscamos ajuda de elementos que nos tragam uma sensação de segurança: dinheiro, beleza, um bom currículo, entidades e deuses, contatos, fama... Cada contexto tem seus estímulos, chefes, entidades, regras. Viver tornou-se fragmentado: diferentes papéis, regras e éticas para diferentes situações, lugares, tempos e pessoas. De modo que crer em um só Deus, e viver de um modo coerente com Ele, tornou-se um desafio.
Um desafio não menor do que tiveram os hebreus que saíram de um mundo conhecido (o Egito) e iam para Canaã (o mundo novo e desconhecido). Estavam entre dois lugares que afirmavam coisas semelhantes em relação ao mundo, como ele funciona e como se dar bem nele. Não foi à toa que quando as coisas ficavam complicadas a ideia de voltar ao Egito, ou de fazer um bezerro de ouro (como o deus egípcio Ápis), era tão atraente: era um jeito “comprovado” de resolver as coisas.
Havia o risco das trevas/ morte que sempre ameaçavam os egípcios e os cananitas. Sol e mar eram deuses que poderiam estar contra ou a favor de você. As estações e a seca eram vistas como a ausência ou a fúria de um deus. Quando você queria plantar, precisava agradar o deus da fertilidade; quando queria pescar, precisava prestar culto ao deus do mar. A vida era fragmentada, incerta e cansativa, pois era preciso agradar a “gregos e troianos”.
A fim de manterem-se fieis a Deus, os hebreus precisavam conhecê-lo, bem como Ele se relacionava com os “outros deuses” que concorriam com Ele. Assim, Gênesis 1 começa com a concepção de início do Oriente Próximo daquela época: A terra, porém, estava sem forma e vazia; havia trevas sobre a face do abismo, e o Espírito de Deus pairava por sobre as águas. (v.2). Além disso, lida com elementos que eram tidos como deuses ou representantes deles: o sol, as trevas, o mar, os animais... O objetivo deste texto não é tanto dizer que há um só Deus (outras partes da Bíblia dizem isso com muito mais clareza), muito menos trazer o cronograma da criação do mundo (os 6 dias são colocados em paralelos: 1º e 4º, 2º e 5º, 3º e 6º; não em seqüência lógica), mas sim mostrar a grandeza de Deus de tal forma que a busca de qualquer outro “deus” pareça perda de tempo. Uma receita poderosa para todos os encontros com novos povos e crenças.
Aqui, Deus é o criador de todas as coisas, incluindo o sol e o mar. É Ele quem põe ordem no caos inicial, criando um mundo organizado geograficamente e temporalmente – Disse também Deus: Haja luzeiros no firmamento dos céus, para fazerem separação entre o dia e a noite; e sejam eles para sinais, para estações, para dias e anos (v.14). Tudo que Ele cria é bom e perfeito (pois reflete a Sua face), tem seu lugar específico e está cheio de vida, povoando e multiplicando sobre a terra, nos céus e no mar. Ele dá nome a tudo (uma demonstração de seu governo e autoridade) e separa o bom do mau (a luz das trevas). Além disso, Ele é o Deus que está sempre agindo no mundo corrompido pelo pecado (Gn 3) nesses termos: a palavra criar pode ter o sentido de recriar. Criar é sua atitude “natural” diante do caos: o Espírito de Deus pairava por sobre as águas (v.2). Assim a criação nunca tem fim; Deus está trabalhando todos os (6) dias da semana: separando do mundo mau um povo para ser bom; governando a política internacional; criando e dando coisas boas a seus filhos; providenciando a chuva, a benção e a fertilidade no tempo determinado. O ponto alto dessa ação foi em Cristo, o qual morreu e ressuscitou a fim de levar essa história ao seu cumprimento pleno (os novos céus e terra dos capítulos finais do Apocalipse), de acordo com o plano eterno da Trindade.
Por isso, as festas do povo têm ligação com o ciclo da lavoura (como as ofertas dos primeiros frutos), fazendo do ir e vir das estações não um motivo de alarde, mas de celebração. Por isso, eram um só povo; tinham uma vida coerente, com um só jeito de viver. Pois buscavam a um só Deus, que os cria e os separa. O Deus que lhes garante a vida, que lhes traz saúde, que lhes separa uma terra, que aumenta seu gado e a sua descendência. O Deus que governa o dia de hoje e o de amanhã e as quatro estações do ano. O Deus que tem poder sobre a natureza, os homens, a morte e sobre os “deuses” de seus inimigos. O Deus que tem sua face refletida na luz do sol, nas constelações, no orvalho, na pétala de uma flor, no trovejar da tempestade, nas ondas do mar, no choro do recém-nascido e no rugido do leão.
Um Deus assim muda a vida. Não preciso temer os modismos do mercado, os “ins e outs” da cultura, da política e da economia, ou mesmo o futuro, pois Deus está constantemente fazendo coisas boas e perfeitas, colocando ordem no caos ao meu redor. Minha vida e personalidade podem ser uma, pois um só Deus chefia todos os lugares e acontecimentos. O mundo tem sim seus perigos, mas também tem em si mesmo “o livro da natureza” que me leva ao nosso Criador todas as vezes que eu o contemplo com olhos renovados. Dessa maneira, a pesquisa científica e a arte representativa tornam-se atos de adoração. Posso ser um com meu próximo, com os países vizinhos, com pessoas de qualquer etnia, pois temos o mesmo Criador. Não preciso depositar minha segurança em coisas instáveis, mas no relacionamento com o Deus que tudo governa e tudo provê.

Deste modo, por que os hebreus ou nós precisamos de algum outro deus? Todas as outras fontes de sobrevivência dependem de uma só. O Criador. A boa notícia é que Ele é bom e perfeito e está nos separando e recriando para si. Dependa dEle, sirva a Ele, viva com Ele.

quarta-feira, 23 de maio de 2012

O Rei vem - vigiem!


Mc 13.24-27,32-37

24"Mas naqueles dias, após aquela tribulação,
" 'o sol escurecerá
    e a lua não dará a sua luz;
25as estrelas cairão do céu
    e os poderes celestes
    serão abalados'
26"Então se verá o Filho do homem vindo nas nuvens com grande poder e glória. 27E ele enviará os seus anjos e reunirá os [seus] eleitos dos quatro ventos, dos confins da terra até os confins do céu.
32"Quanto ao dia e à hora ninguém sabe, nem os anjos no céu, nem o Filho, senão somente o Pai. 33Fiquem atentos! Vigiem! Vocês não sabem quando virá esse tempo. 34É como um homem que sai de viagem. Ele deixa sua casa, encarrega de tarefas cada um dos seus servos e ordena ao porteiro que vigie. 35Portanto, vigiem, porque vocês não sabem quando o dono da casa voltará: se à tarde, à meia-noite, ao cantar do galo ou ao amanhecer. 36Se ele vier de repente, que não os encontre dormindo! 37O que lhes digo, digo a todos: Vigiem!"

Através dos artigos desta série, vimos o que quer dizer Jesus vir como Rei e quais as implicações para nossas vidas. Ao fim deste bloco de Marcos, Jesus fala sobre “os últimos dias” e o sofrimento de seus discípulos em tempos de perseguição ao nome de Jesus. Este trecho acaba com o julgamento de um mundo “sem frutos”, caído em pecado, decadência e rebelião contra Deus, o que é representado pelo colapso dos corpos celestes nos v.24-25.
Diante de uma situação tão apavorante, os discípulos de Jesus têm a maravilhosa notícia da vinda de seu Rei com grande poder e glória (v.26). Assim como no texto a que Jesus está aludindo, Dn 7.13-14, o Filho do homem (Jesus) virá para julgar todas as coisas, mas reunirá seus discípulos, seus eleitos, os que creem em sua salvação por meio de sua morte, ressurreição, ascensão e exaltação, para viver eternamente consigo em Seu Reino. A partir deste momento Jesus será visto em todo seu poder, autoridade e grandeza; uma visão gloriosa que nunca perderá seu brilho e que encherá eternamente seus eleitos de prazer e alegria.
Porém, diante dos problemas e da aparente demora de Jesus, os discípulos podem perder de vista esta promessa e abandonar Seus caminhos, vivendo de acordo com os padrões deste mundo caído, correndo o risco de serem condenados com ele. Para que isso não ocorra, Jesus os ordena a vigiar, manterem-se atentos na expectativa da volta de seu Senhor, a fim de que não sejam como a figueira sem frutos (Mc 11.13), como o templo corrompido (11.17) ou como os lavradores mortos (12.9). Caso mantenham-se firmes no caminho de Jesus, serão recolhidos na hora incerta da vinda do seu Senhor.
Assim como na época dos evangelistas, nós vivemos hoje em um mundo de oposição ao evangelho. Não bastasse isso, vivemos em um mundo de imediatismo. “Apagamos incêndios” continuamente; vivemos para o hoje que nos atropela, tentando aproveitar as oportunidades que desaparecem tão rápido quanto surgem, e a velha pergunta – ‘onde você estará daqui a dez anos?’ – parece cada vez mais nos remeter a um futuro abstrato e obscuro.
Em face disso, lidamos com a vida de modo funcional, como se a verdade fosse aquilo que faz as “coisas darem certo”. Diante dos problemas e as oportunidades que reclamam a nossa resposta a todo instante, a expectativa da volta futura de Jesus começa a parecer disfuncional. Começamos a buscar outras soluções, mais fáceis e recompensadoras, para nossos problemas vocacionais, financeiros, sociais e relacionais. Começamos a viver como se o “jogo da vida” fosse tudo o que há para viver; como se ficar parado fosse a nossa morte; como se tudo dependesse de nós, deixando-nos ansiosos e temerosos, oportunistas e manipuladores, egoístas e amorais.
Mas Jesus direciona nossos olhos para os bastidores deste mundo e ordena-nos que vivamos na expectativa da sua volta, do seu julgamento, dos “novos céus e nova terra”. Com este olhar, vemos que o sucesso (seja em qualquer área) não é a meta da nossa existência, nem o critério através do qual devemos avaliar a nós ou o nosso estilo de vida. Pois o Rei, o Senhor da vinha, o dono da casa, está vindo e quer receber os frutos da sua colheita e a sua casa em ordem.
Tal realidade deve mudar nossos valores e estilo de vida. Como? Basta olhar para os textos anteriores. Eles nos convidam a clamar ao Rei Jesus em nossas necessidades; a viver de modo outro-centrado, sendo um “local de acolhimento” para todos os que O buscam; orar por todos com a fé que Ele nos concede em Seu poder e misericórdia; lutar pela manifestação integral do Reino de Deus entre nós; simplificar a nossa vida a fim de viver de maneira dedicada a Deus e ao próximo; bem como amá-los da maneira devida, como obediência aos mandamentos de Deus; pregando o evangelho com o auxílio do Espírito Santo etc.
Concluindo, o Rei vem. Como Ele te encontrará?