quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

O caminho do discipulado 5 - Inadequados, porém amados

Mc 10.13-16: 
13Alguns traziam crianças a Jesus para que ele tocasse nelas, mas os discípulos os repreendiam. 14Quando Jesus viu isso, ficou indignado e lhes disse: "Deixem vir a mim as crianças, não as impeçam; pois o Reino de Deus pertence aos que são semelhantes a elas. 15Digo-lhes a verdade: Quem não receber o Reino de Deus como uma criança, nunca entrará nele". 16Em seguida, tomou as crianças nos braços, impôs-lhes as mãos e as abençoou. 

É possível que, por seguirmos Jesus Cristo, tornemo-nos um grupo sectarista. Se não em nossas escolhas de companhia, pelo menos em nossas mentes. Buscar a Deus com devoção, numa luta contínua para sermos pessoas amorosas como Ele é, pode dar ocasião – muitas vezes – a um orgulho oculto. Desse modo nos vemos como mais espirituais ou melhores que os outros, simplesmente porque, aos nossos olhos, somos mais adequados que os outros para seguirmos Jesus. E podemos chegar ao ponto em que passamos a achar que ao contrário dos outros merecemos ser salvos. 

Embora, aparentemente, a ação dos discípulos não chegue a tanto, ela certamente não está longe disso. Eles estavam acostumados a ver prostitutas e pecadores achegando-se a Jesus (Mc 2.13-17), mulheres ganhando nova dignidade em seu meio e até gentios (não-judeus) completamente escravizados pelos demônios tornarem-se mensageiros dEle (Mc 5.1ss). Poderíamos imaginar que, a essa altura, os discípulos tivessem entendido que o Reino de Jesus era para todos. 

Mas o texto nos mostra que, para esses mesmos discípulos, as crianças não estavam aptas a participarem deste glorioso Reino. Não fosse assim, não teriam repreendido as que as traziam. Nem Jesus teria dito: o Reino de Deus pertence e receber o Reino de Deus. A questão é que, para eles, as crianças eram completamente inaptas ou inadequadas para receberem o Reino. 

Para entendermos isso, precisamos reconhecer que estamos falando de outra cultura. Para os judeus da época, embora os filhos fossem considerados como bênçãos divinas aos pais, não possuíam a grande importância que recebem hoje. Segundo o teólogo Joachim Jeremias (Teologia do Novo Testamento), naquela época as crianças eram menosprezadas, sendo tratadas em documentos da época juntamente com os “surdos-mudos e os dementes”, visto os judeus considerarem os três grupos como pessoas que não estão em plena posse das faculdades mentais” (pág. 332, nota 278). Outros documentos, listados por Jeremias, dão o mesmo valor religioso às crianças que os dos “cegos, gentios, mulheres, escravos, disformes, hermafroditas, coxos, doentes, velhos e aleijados”. 

Desta forma, fica claro o preconceito dos discípulos em relação às crianças, as quais não tem, aos seus olhos, valor suficiente para participarem do Reino de Jesus. Ora, se há um grupo indigno de Jesus, isso decorre da ideia de que há um grupo digno dEle. Não é à toa que, por duas vezes (Mc 9.33-37; 10.35-45), Jesus tem de tratar do sério problema da discussão dos discípulos que disputam para saber quem é o maior. E para expressar o quanto o menor dos seus discípulos é digno de honra, Ele compara os “menos importantes” às crianças (9.37). 

Diante da indignação de Jesus (v.14), deveríamos considerar se nós mesmos não “impedimos” pessoas de receber o Seu Reino. Qual a nossa reação diante dos homossexuais? Servimos os deficientes mentais, como Henri Nouwen fez? Consideramos a possibilidade de um projeto de missão integral nas cadeias? Nas zonas de prostituição? Um esquizofrênico pode participar do Reino? Como essas pessoas seriam tratadas caso aparecessem em nossas igrejas? Elas voltariam várias vezes? Perguntariam sobre como tornar-se membro? 

Ao que parece, essas pessoas são bem-vindas, caso “comportem-se”, deixem seus hábitos pecaminosos do lado de fora e estejam “limpas e bem cheirosas”. Pois “não queremos ninguém contaminando um ambiente tão santo quanto aquele que promovemos”. 

Acaso Cristo não se indignaria com nosso comportamento? Não seríamos considerados como quem o abandona e o trata sem a devida misericórdia (Mt 25.31-46)? Não deveríamos então ser mais acolhedores? Darmos prioridade amorosa a esses grupos marginalizados? 

Se quisermos ser discípulos de Jesus, devemos receber aqueles a quem Ele recebe. O que Jesus demonstra nessa e em outras passagens é que não há pessoas inadequadas para o seu Reino. Pobres, incultos, prostitutas, pecadores, cobradores de impostos corruptos, ricos, fariseus, pescadores, zelotes, mulheres e crianças...O Reino é para todos. 

Mas talvez seria melhor dizer que, na verdade, não há pessoas adequadas para participarem do Reino. Por isso, Jesus disse: "Deixem vir a mim as crianças, não as impeçam; pois o Reino de Deus pertence aos que são semelhantes a elas. Digo-lhes a verdade: Quem não receber o Reino de Deus como uma criança, nunca entrará nele". Ou seja, o Reino de Deus pertence aos que não são dignos dele, aos sem condição de recebê-lo. 

Diante dessa realidade, só nos resta recebermos o Reino de Jesus, reconhecendo nossa indignidade. Reconhecendo que Jesus oferece Seu Reino a pessoas sem o valor desejado, as quais têm por certo que, não fosse a misericórdia de Jesus, seriam imediatamente lançadas ao inferno. 

Aqui vemos a maravilhosa graça de Jesus. Pois Ele dá o Seu Reino a pessoas dignas de serem afastadas de Sua gloriosa presença. Isso não é maravilhoso? Não deveria nos encher de alegria e conforto o sabermos que Jesus não tem uma lista, na entrada do céu, apenas com os nomes dos virtuosos, dos perfeitos, dos capazes e bem-sucedidos? 

Caso não entendamos que Jesus nos aceita tão somente por sua pura graça e amor, e não por nossos méritos, nunca entenderemos esta passagem. Nunca seremos libertos da vaidade, das disputas entre igrejas de “doutrinas mais rigorosas”, do sectarismo dos mais “santos”, da religiosidade frenética e compulsiva com a qual tentamos provar a nós mesmos que somos dignos de entrarmos no Reino de Deus. 

Devemos entender isso de uma vez por todas: não podemos construir um caminho para o céu; só Jesus pode. E Ele fez. Não porque merecemos; mas sim porque, apesar de não o merecermos, Ele, em seu infinito amor, deseja “nos tomar nos braços” e nos abençoar (v.16) com Seu Reino. 

Isso certamente mudará nossa relação com Deus. Poderemos finalmente descansar em Seu amor, ao invés de tentar conquistá-lo com um grande número de leituras da bíblia, de orações, de lacunas preenchidas em nossos “cartões de ponto para os cultos”, do volume de nossos dízimos e ofertas. Poderemos ter um relacionamento com Deus, no qual Ele realmente é nosso Pai, que nos ama. 

Também mudará nossas relações dentro da igreja, pois não precisaremos mais usar uma máscara aos domingos para encobrir o nosso pecado. Nem temeremos a cobrança (ou cobraremos os outros) da presença no culto, do valor do dízimo, do número de convertidos, pois amaremos o “irmão” como alguém recebido e amado por Jesus. 

Finalmente, mudará nossas relações com os desprezados deste mundo. Com os abandonados das igrejas. Com aqueles que, como diz o slogan de uma igreja, “a igreja não costuma gostar”. A Igreja de Jesus é um lugar onde pessoas imperfeitas, machucadas, desprezadas, estranhas e indesejadas são acolhidas e amadas, ou não é a Igreja de Jesus. Conseguiremos amar o pecador quando entendermos o quanto nós fomos amados por Deus, quando não passávamos de simples pecadores. 

Então, diante da possibilidade da indignação de Jesus, não coloquemos empecilhos, nem fechemos nossos olhos a todos quantos necessitam do amor de Cristo. Sejamos a Sua Igreja. Uma Igreja de redimidos, amados por Jesus em nossa indignidade.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

O caminho do discipulado 4 - Auxílio na incredulidade


Mc 9.14-29
14Quando chegaram onde estavam os outros discípulos, viram uma grande multidão ao redor deles e os mestres da lei discutindo com eles. 15Logo que todo o povo viu Jesus, ficou muito surpreso e correu para saudá-lo.
16Perguntou Jesus: "O que vocês estão discutindo?"
17Um homem, no meio da multidão, respondeu: "Mestre, eu te trouxe o meu filho, que está com um espírito que o impede de falar. 18Onde quer que o apanhe, joga-o no chão. Ele espuma pela boca, range os dentes e fica rígido. Pedi aos teus discípulos que expulsassem o espírito, mas eles não conseguiram".
19Respondeu Jesus: "Ó geração incrédula, até quando estarei com vocês? Até quando terei que suportá-los? Tragam-me o menino".
 20Então, eles o trouxeram. Quando o espírito viu Jesus, imediatamente causou uma convulsão no menino. Este caiu no chão e começou a rolar, espumando pela boca. 21Jesus perguntou ao pai do menino: "Há quanto tempo ele está assim?" "Desde a infância", respondeu ele. 22"Muitas vezes esse espírito o tem lançado no fogo e na água para matá-lo. Mas, se podes fazer alguma coisa, tem compaixão de nós e ajuda-nos."
23"Se podes?", disse Jesus. "Tudo é possível àquele que crê."
24Imediatamente o pai do menino exclamou: "Creio, ajuda-me a vencer a minha incredulidade!"
25Quando Jesus viu que uma multidão estava se ajuntando, repreendeu o espírito imundo, dizendo: "Espírito mudo e surdo, eu ordeno que o deixe e nunca mais entre nele". 26O espírito gritou, agitou-o violentamente e saiu. O menino ficou como morto, ao ponto de muitos dizerem: "Ele morreu". 27Mas Jesus tomou-o pela mão e o levantou, e ele ficou em pé.
28Depois de Jesus ter entrado em casa, seus discípulos lhe perguntaram em particular: "Por que não conseguimos expulsá-lo?" 29Ele respondeu: "Essa espécie só sai pela oração e pelo jejum”.

“Muita oração, muito poder; pouca oração, pouco poder; nenhuma oração, nenhum poder”. Embora não saiba quem disse isso pela primeira vez, ouvi isso várias vezes em meus primeiros anos de Igreja. Esta relação entre a devoção (ou piedade se preferir) e o sucesso na obra de Deus talvez explique muita de nossa pouca eficácia na continuidade da obra de Jesus. Certamente o faz neste texto.
Acompanhando Jesus na descida do monte, após revelar-se em sua glória e majestade [ver o artigo anterior da série], chegamos aos pés do monte e encontramos uma multidão e dois grupos discutindo: os discípulos de Jesus e os mestres da lei. Não sabemos o que discutiam, mas com toda certeza relacionava-se ao seu fracasso em expulsar aquele espírito que dominava o menino (v.16-18). Talvez uma discussão sobre a veracidade dos milagres de Jesus, talvez sobre o próprio movimento de Jesus como algo “agradável a Deus”. Nunca saberemos.
É muito interessante ver a reação de Jesus, no versículo 19, que condena não somente um grupo, mas todos os três por sua incredulidade. Afinal de contas, não somente os discípulos, mas nem os mestres da lei, a multidão ou o pai do menino puderam realizar qualquer coisa. Por isso, quando o viram, imediatamente correram em sua direção, como pessoas aflitas e sem respostas ao seu dilema.
De forma inversa, quando o viu, imediatamente o espírito começou a convulsionar. Ficamos sabendo que ele assim age desde a infância, na tentativa de matar o menino (v.22). A situação é desesperadora, e o pai suplica a Jesus: Mas, se podes fazer alguma coisa, tem compaixão de nós e ajuda-nos.
A reação de Jesus demonstra a incredulidade do pai: "Se podes?", disse Jesus. "Tudo é possível àquele que crê". Imediatamente o pai do menino exclamou: "Creio, ajuda-me a vencer a minha incredulidade!"
 Este parece ser o problema aqui: incredulidade. Do pai, da multidão, dos mestres da Lei e dos discípulos, para quem isso não foi possível. A palavra que Jesus usa tem o sentido de capacidade e poder físico, ou seja, capaz de mostrar-se mais forte que o espírito. É usada em Mc 5.3 e 4, quando diz: Esse homem vivia nos sepulcros, e ninguém conseguia prendê-lo, nem mesmo com correntes; pois muitas vezes lhe haviam sido acorrentados pés e mãos, mas ele arrebentara as correntes e quebrara os ferros de seus pés. Ninguém era suficientemente forte para dominá-lo.
Assim, vemos novamente, o quanto os discípulos estão longe de parecer-se com seu Mestre. Ainda mais quando deixam de usar um de seus recursos mais simples e poderosos, a oração (v. 29) [o jejum não aparece em alguns manuscritos e por isso será considerado aqui como algo que possui sentido correlato à oração, assim quando falar-se da oração, considere ambos com um mesmo sentido prático].
A oração aparece em Marcos de forma mais específica em momentos de crise ministerial, por exemplo: no momento inicial de seus milagres e a consequente tentação de mudar de foco, em Mc 1.29-39 [ver Chamados para o discipulado 3] e no Getsêmani, quando está prestes a ser preso e crucificado (Mc 14.32-42). Após ambos os momentos, a postura de Jesus muda e parece mais convicta em relação ao seu chamado.
Parecem, então, não estar usando este poderoso recurso a fim de vencer sua própria incredulidade e por isso não conseguem cumprir (e continuar) as obras de seu Mestre/ Senhor.
De modo semelhante, podemos pensar em nossa própria ineficácia em cumprir o que nos foi dado a fazer pelo nosso Senhor Jesus Cristo. Relembrando que, em Marcos, a pregação e a autoridade para expulsar demônios andam juntas (como em Mc 3.14-15; 5.1-20; 6.12-13; 16.15-18), podemos vencer a atual teologia da “Batalha Espiritual” e aplicar o texto a algo mais próximo do que deveria ser o nosso cotidiano. [para uma explicação de como tais elementos estão relacionados entre si no evangelho de Marcos, ver Chamados para o discipulado 1, 3 e 5].
Por que nosso resultado evangelístico é tão pobre? Por que mesmo em igrejas em que há “sempre muitas pessoas chegando”, há, muitas vezes, muitas pessoas saindo? Por que temos vidas tão diferentes de Jesus? Por que somos tão irrelevantes? Há com certeza muitos fatores a serem considerados a respeito de nossas instituições e estratégias, das resistências dos indivíduos e grupos que abordamos e da cultura em que vivemos. Mas será que este texto de Marcos não tem algo a nos dizer? Acaso poderíamos colocar todo nosso fracasso em elementos externos? Ou a frase que aprendi, “Muita oração, muito poder; pouca oração, pouco poder; nenhuma oração, nenhum poder”, está errada? Não deveríamos questionar se nossa pouca relevância no mundo e pouco resultado evangelístico está no fato de que temos baixas expectativas? E consequentemente oramos e nos esforçamos muito pouco ao que deveríamos dedicar toda a nossa vida, trabalho e estudo?
John Stott, em A mensagem do Sermão do monte, nos diz: “Há algo inerentemente impróprio em se ter pequenas ambições para Deus. Como poderíamos nos contentar em que ele adquira só mais um pouquinho de honra no mundo? Não. Quando percebemos que Deus é Rei, então desejamos vê-lo coroado de glória e honra, no lugar a que tem direito, que é o lugar supremo. Então tornamo-nos ambiciosos pela propagação do seu reino e da sua justiça por toda parte...Na verdade, só então é que as ambições secundárias tornam-se sadias. Os cristãos deveriam ser zelosos em desenvolver seus talentos, alargar as oportunidades, estender a sua influência e receber promoções em seu trabalho, não mais para fomentar o seu próprio ego ou edificar o seu próprio império, mas sim para, através de tudo o que façam, glorificar a Deus.”
No entanto, tudo isso exige fé. Essa é a raiz do nosso problema. E Jesus nos convida a orar a fim de que vençamos a nossa incredulidade, de modo semelhante ao pai do menino que “orou”: "Creio, ajuda-me a vencer a minha incredulidade!" Assim estaremos aptos a realizar o que Ele realizava e quer continuar realizando através de nós.
De modo reconfortante para nós, Jesus respondeu a súplica feita por aquele homem, repreendeu o espírito imundo, o qual saiu do menino, tomou o menino pela mão e o levantou, e ele ficou de pé (v.25-27). De fato, o que nenhum homem pôde fazer por falta de fé, Jesus o pôde. Verdadeiramente, nada é impossível a este homem-Deus que está numa missão de restaurar todas as coisas. Demônios são expulsos (Mc 1.21-26; 5.1-20), a sogra de Pedro tem sua saúde restabelecida (1.30-31), leprosos são purificados (1.40-42), pecadores são perdoados e paralíticos voltam a andar (2.1-12), cobradores de impostos corruptos ganham nova direção na vida (2.13-17), tempestades são acalmadas (4.35-41), doenças intratáveis e até a própria morte são revertidas (5.21-43). Nem mesmo a morte pode conter este Filho do homem que está para ser entregue nas mãos dos homens, que o matarão, pois três dias depois ele ressuscitará (Mc 9.31).
E Jesus cria uma comunidade de discípulos que deverão fazer o mesmo que Ele fazia: Chamando os Doze para junto de si, enviou-os de dois em dois e deu-lhes autoridade sobre os espíritos imundos... Eles saíram e pregaram ao povo que se arrependesse. Expulsavam muitos demônios e ungiam muitos doentes com óleo, e os curavam (6.6-7,12-13); E disse-lhes: "Vão pelo mundo todo e preguem o evangelho a todas as pessoas. Quem crer e for batizado será salvo, mas quem não crer será condenado. Estes sinais acompanharão os que crerem: em meu nome expulsarão demônios; falarão novas línguas; pegarão em serpentes; e, se beberem algum veneno mortal, não lhes fará mal nenhum; imporão as mãos sobre os doentes, e estes ficarão curados" (16.15-18). As palavras finais deste evangelho demonstram o sucesso da missão dos discípulos de Jesus: Depois de lhes ter falado, o Senhor Jesus foi elevado aos céus e assentou-se à direita de Deus. Então, os discípulos saíram e pregaram por toda parte; e o Senhor cooperava com eles, confirmando-lhes a palavra com os sinais que a acompanhavam (16.19-20). Este sucesso não vem de seu próprio poder, mas pela ação maravilhosa do Senhor Jesus que está reinando sobre todas as coisas junto a Deus, o Pai e que, por isso pode realizar o que bem entende, quando, onde e como quiser sobre quem e o que desejar.
Assim, como discípulos de Jesus, podemos ter nEle uma viva esperança de um Reino de salvação, redenção e restauração de homens de toda tribo, língua, povo e nação (Ap 6.9) e de toda a criação de Deus, bem como todas as estruturas sociais (2 Pe 3.13). A sua obra não pode ser interrompida, não pode ser anulada e um dia não poderá ser mais abafada. O Seu Reino vem para ficar. Eternamente.
É com os olhos fixos nessa realidade que devemos agir em nossos dias, participando daquilo que Deus já anseia fazer. Pois é somente por estarmos nEle e cooperarmos com Ele, que podemos ter alguma expectativa de sucesso em nossa missão neste mundo. Fora dele, tudo é mero idealismo. E com o fracasso chegamos ao ponto dos discípulos, incredulidade. Sem Jesus, só falta nos unirmos ao coral que canta: “as coisas são assim mesmo e sempre serão”.
Mas com Jesus nossa existência ganha sentido e realização, não pessoal, mas divina.
Foi William Carey, missionário na Índia, quem nos ensinou a colocar grandes expectativas em Deus, a Lhe pedirmos grandes coisas, a fim de realizarmos grandes feitos para a Sua glória. Em duas citações no livro de John Piper, Alegrem-se os povos, encontramos a realidade acima referida. A primeira, nas pág. 16 e 17, é de William Carey: Quando deixei a Inglaterra, minha esperança de converter a Índia era muito forte; porém, diante de tantos obstáculos, ela minguaria, se não fosse pelo sustento recebido de Deus. Bem, Deus está comigo e sua Palavra é verdadeira. Embora as superstições dos pagãos fossem mil vezes mais fortes e o exemplo dos europeus, mil vezes pior, mesmo diante do abandono e perseguição, minha fé, posta na segurança da Palavra, ainda superaria todos os obstáculos e suportaria cada provação. A causa de Deus triunfará. A segunda é de John Eliot que, aos 84 anos deixou numerosas igrejas indígenas nos EUA, algumas com pastores nativos, em uma região pouco promissora: Orações e sofrimentos pela fé em Cristo Jesus farão qualquer coisa! (pág. 55).
Vemos, então, que árduas obras tiveram sucesso onde se parecia improvável, não pelo poder dos homens, mas de Deus. Pois Jesus honra a fé e a oração de seus discípulos que humildemente, prostram-se diante dEle para suplicar-Lhe  o que lhes falta.
Deste modo, certamente nos fortalecerá a fé a fim de termos poder para realizarmos o que parece impossível diante de tamanha descrença, corrupção, resistência, apostasia, pecado e inimizade (seja humana ou espiritual). O Deus que promete que a porta será aberta quando batermos, que receberemos o que pedimos, que encontraremos o que buscamos, promete dar Seu Espírito a todo que lhe pede (Lc 11.9-13). Acaso Ele nos negará Seu poder e o fortalecimento da fé àqueles que anseiam serví-Lo? De modo algum! Certamente, atenderá todo que Lhe roga com coração servil!
Assim, mais uma vez teremos a cooperação do Senhor de todas as coisas (Mc 16.19-20), o qual certamente confirmará a Sua Palavra através dos meios que bem Lhe aprouver.
Diante de tudo o que foi dito, podemos orar, crendo que, nos momentos de desânimo e incredulidade, Deus nos fortalecerá a fé, nos orientará e nos capacitará para realizarmos a parte que Ele mesmo coloca em nossas mãos. Que este seja o nosso recurso mais precioso e mais usado.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

O caminho do discipulado 3 - Vendo o Filho amado


Continuando a série de revelações sobre Jesus, vemos que Marcos nos leva a um passo seguinte a respeito da natureza do Cristo. Ele nos conduz a um acontecimento que ocorre seis dias depois do discurso apresentado no artigo anterior. Este modo de expressar o tempo em que tal fato ocorre mostra sua ligação com o anterior, não apenas temporal, mas também teológica. Dizer que Jesus é o Cristo crucificado não é o suficiente; precisamos dar um passo a mais a fim de seguirmos Jesus verdadeiramente.
Mc 9.2-13
2Seis dias depois, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e João e os levou a um alto monte, onde ficaram a sós. Ali ele foi transfigurado diante deles. 3Suas roupas se tornaram brancas, de um branco resplandecente, como nenhum lavandeiro no mundo seria capaz de branqueá-las. 4E apareceram diante deles Elias e Moisés, os quais conversavam com Jesus.
5Então Pedro disse a Jesus: "Mestre é bom estarmos aqui. Façamos três tendas: uma para ti, uma para Moisés e uma para Elias". 6Ele não sabia o que dizer, pois estavam apavorados.
7A seguir apareceu uma nuvem e os envolveu, e dela saiu uma voz, que disse: "Este é o meu Filho amado. Ouçam-no!" 8Repentinamente, quando olharam ao redor, não viram mais ninguém, a não ser Jesus.
9Enquanto desciam do monte, Jesus lhes ordenou que não contassem a ninguém o que tinham visto, até que o Filho do homem tivesse ressuscitado dos mortos. 10Eles guardaram o assunto apenas entre si, discutindo o que significaria "ressuscitar dos mortos". 11E lhe perguntaram: "Por que os mestres da lei dizem que é necessário que Elias venha primeiro?" 12Jesus respondeu: "De fato, Elias vem primeiro e restaura todas as coisas. Então, por que está escrito que é necessário que o Filho do homem sofra muito e seja rejeitado com desprezo? 13Mas eu lhes digo: Elias já veio, e fizeram com ele tudo o que quiseram, como está escrito a seu respeito".

Somos levados com os discípulos mais íntimos de Jesus a uma aula VIP (em um alto monte, onde ficaram a sós). Lá Jesus muda de forma, revelando-se como alguém incomum, sobrenatural, visto suas roupas tornarem-se brancas como nenhum lavandeiro no mundo seria capaz de branqueá-las.
Não bastasse isso, para completar a cena, Moisés e Elias (duas grandes figuras do Antigo Testamento) conversam com Jesus. Moisés, aquele por meio de quem Deus deu Sua Lei ao povo judeu. Elias, o primeiro profeta levantado por Deus para trazer Seu povo de volta à obediência à Sua Lei. Assim, Moisés representa a Lei de Deus e Elias, todos os Seus profetas. Juntos eles representam todo o Antigo Testamento, como no evangelho de Lucas 24.27: E começando por Moisés e todos os profetas, explicou-lhes o que constava a respeito dele  [Jesus Cristo] em todas as Escrituras [Antigo Testamento]. Com isso, não se quer dizer que Mc 9.2-13 seja uma ficção ou alegoria, mas que há um sentido teológico neste relato.
A fim de entendê-lo é preciso entender primeiro a reação de Pedro nos v. 5-6: Então Pedro disse a Jesus: "Mestre é bom estarmos aqui. Façamos três tendas: uma para ti, uma para Moisés e uma para Elias". Ele não sabia o que dizer, pois estavam apavorados. Em primeiro lugar, Pedro o chama de Mestre (Rabi), considerando-o com a mesma dignidade de um grande mestre. Porém este não deixa de ser um título que poderia ser usado sem dificuldade alguma para referir-se a qualquer grande homem, como João Batista, por exemplo. Em segundo lugar, vemos que Jesus tem seu status elevado, mas fica na mesma posição de Moisés e Elias. Pois poderíamos perguntar: por que não fazer apenas uma tenda ao invés de três? Jesus, Deus encarnado, não merece distinção de quaisquer pessoas, mesmo Moisés e Elias? Terceiro, a reação de Pedro é emocional, condicionada pelo medo, irracional: Ele não sabia o que dizer, pois estavam apavorados [aterrorizados]. O terror dos discípulos provinha de um reconhecimento da visão sobrenatural que viam. Porém ainda estavam lidando com conceitos anteriores e não conseguiram perceber a distinção que deveriam atribuir a Jesus.
Embora a fala anterior pareça incoerente, é preciso entender que Marcos faz questão de dizer que eles não sabiam o que dizer. O terror, ocasionado pela visão da época que via Deus como um ser terrificante, incompreensível e não tão perdoador como pensamos hoje (como diz David Bosch, em Missão Transformadora, pág. 140.), tomou-o por completo. O sobrenatural da visão e a visão costumeira de Jesus entraram em conflito e o melhor que ele pôde fazer foi tentar arrumar um bom motivo para estarem ali. Pois essa não é uma situação confortável, como as pessoas costumam pintar neste texto, como se Pedro estivesse vivendo o nosso céu (do século XXI) na terra e nunca quisesse sair dali. Muito pelo contrário. É bem possível que sua vontade de ser útil se assemelhasse à de Matinho Lutero, que desprotegido num campo aberto em meio a trovões e relâmpagos, prometeu à Santa Catarina que se tornaria monge, caso ela o mantivesse são e salvo.
De fato, sempre que não sabemos com o que estamos lidando, podemos cair em ambos os perigos: confusão conceitual e religiosidade emocional. A primeira surge da dificuldade em mudar ou abandonar conceitos errôneos e todo professor ou pessoa disposta a transformar a vivência religiosa das pessoas esbarra neste problema. Eu mesmo fico surpreso ao tentar ensinar às pessoas conceitos opostos àqueles que elas sempre carregaram. Ao fim de uma aula elas dizem: “muito bom! Agora eu entendo esse texto!”. Semanas depois, eu as vejo dizendo a mesma coisa de antes! Às vezes parece-me que as pessoas carregam grandes mosaicos conceituais, juntando coisas sem refletir sobre elas até que chegam a possuir apenas uma imagem incoerente e fragmentada. Isso leva, por exemplo, a dizer que dependem inteiramente de Deus e creem em Sua soberania, providência e amor e passar noites em claro imaginando formas de resolver problemas que nem sabem se existem (reação clara de uma cultura que nos ensinou que tudo depende de nós mesmos, que a vida resume-se ao que podemos conquistar e usufruir).
A segunda é fruto de uma visão opressiva de Deus. Um Deus que está observando cada passo, esperando só um deslize para nos pegar! Medo e culpa são ótimos elementos para levar as pessoas onde queremos. Por isso, é de se questionar se muito de nosso ativismo religioso não passa de um desejo de ser bem visto por Deus e pelos outros pelo medo de ou não sermos bons o bastante, ou inadequados por completo. Como uma espécie de compensação por uma vida licenciosa (apenas numa área sem importância, claro!), “servimos a Deus” de forma exemplar, com a sensação de que, no fim do dia, “fizemos mais bem do que mal”.
Diante dessas confusões e sentimentos, a nuvem aparece os envolvendo e dela sai uma voz revelando quem é Jesus. Nisso, somos levados ao Antigo Testamento, principalmente em Êxodo e Números, onde vemos Deus se mostrando e ocultando que por meio dessa forma. Desse modo, Deus Pai oferece uma imagem correta de Jesus e nos mostra como interagirmos com Ele, tirando-nos da confusão conceitual e nos livrando da religiosidade emocional.
Ela diz que Jesus é o Seu Filho amado. O leitor de Marcos imediatamente é transportado ao batismo de Jesus, quando uma voz dos céus disse-lhe: Tu és o meu Filho amado, em ti me agrado (Mc 1.11); e ao primeiro versículo de todo o livro: Princípio do evangelho de Jesus Cristo, o Filho de Deus (Mc 1.1). Jesus é Deus, Filho de um Pai amoroso. Para o cristão e o judeu da época, não se trata de dois deuses diferentes, mas de um mesmo Deus. Explicar como um pode ser três (Pai, Filho e Espírito) está muito além de nossos interesses. Basta-nos aceitar que Eles são iguais em essência, porém distintos como pessoas que se relacionam e se amam mutuamente. Este amor é o mesmo que leva Jesus a sofrer muito, ser rejeitado com desprezo (v.13) ao tomar nosso lugar na cruz sofrendo nossa punição a fim de nos garantir o perdão dos pecados e ressuscitar dos mortos (v.9) a fim de nos permitir a participação no Seu Reino, o qual vem com poder para aqueles que creem nEle e não se envergonham da Sua humilhação (Mc 9.1).
Nisto vemos um Deus que ao contrário de nos produzir terror, mostra-se amoroso, libertando-nos da religiosidade emocional. Afinal de contas, o que pode nos tornar mais tranquilos do que vermos nosso inimigo dizendo: eu te amo a ponto de dar meu filho na cruz por você? Qual pode ser melhor remédio para a culpa (e a consequente baixa autoestima) do que receber do próprio Juiz a declaração: PERDOADO? Ao contrário dos placebos “espirituais” de nossa época que tentam nos aliviar nos chamando de divinos, nos convocando à autorrealização (prometendo a liberdade de nos satisfazermos), ou nos dizendo como evitarmos o fim do mundo; o perdão e amor divinos agem na raiz de nosso medo de morrer e de sermos revelados culpados, caso descobertos a um olhar íntimo, a medida que nos oferecem uma vida eterna de amor mútuo com Deus.
A respeito desse Jesus, a voz nos diz Ouçam-no! Ora, “Ouvir é obedecer”, como bem sabem os calormanos de C.S. Lewis (em O cavalo e seu menino, uma das Crônicas de Nárnia). Este é o sentido desta ordem: “Vocês obedeciam a Lei e os profetas, agora obedeçam a Jesus”. Por isso, quando olharam ao redor, não viram mais ninguém, a não ser Jesus. Não que agora iremos jogar a Lei e os profetas (o Antigo Testamento) no lixo e usaremos só o Novo (as vidas e as palavras de Jesus e seus apóstolos). Mas interpretaremos o Antigo à luz do Novo, pois Jesus não está no mesmo nível que Moisés, Elias, Maomé, Buda, o hinduísmo, Alan Kardec, as religiões afro, ou a espiritualidade contemporânea (o que inclui cada pensamento nosso sobre a realidade, nós e Deus); mas sim: Ele está muito acima de tudo isso. Ele é Deus criador, sustentador e restaurador de todas as coisas, seres (naturais ou sobrenaturais de quaisquer espécies) e pessoas. É o soberano, o Rei dos reis, o Senhor dos senhores. Todos devem obedecê-lo e receber dele todos os conceitos sobre quaisquer coisas, assuntos ou matérias.
Desse modo, a simplificação de Jesus pode substituir o mosaico desnorteador, trazendo-nos sentido (direção e significado) à nossa existência. Ao contrário de ingenuidade, a simplificação de Jesus nos fará reconhecer o pecado (em nós e no mundo) que custou o sangue de Jesus na cruz. Ao contrário da alienação, teremos a verdade revelada daquele que criou e conhece perfeitamente todas as coisas. Ao contrário do pessimismo paralisante ou da esperança tola, teremos uma “esperança viva” (1ª carta de Pedro 1.3) naquele que está restaurando todo o mundo e as pessoas que creem nEle para uma vida eterna, num mundo perfeito, e que nos chama a participarmos não só deste produto final, como também do seu processo de produção.
Assim, sem Jesus, somos alvo da confusão conceitual e da religiosidade (espiritualidade) emocional; vivendo perdidos; buscando, em mil lugares, formas “espirituais” de sufocar o medo (da morte, do imprevisto, do 2012 etc.), a culpa e a baixa autoestima; mudando de crenças conforme a direção do vento ou criando mosaicos que nos tornam incoerentes em nosso discurso, comportamento e identidade. Jesus, Deus, o Filho amado, traz-nos o amor do Pai no seu sofrimento, rejeição e ressurreição. Que seu amor nos liberte do medo e da culpa. Que ele nos leve a O obedecermos, recebendo dEle nossos conceitos e que assim nossa vida ganhe sentido e coerência.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

O caminho do discipulado 2 - O caminho da cruz


Na 332ª edição da revista Ultimato, Ricardo Barbosa escreveu em sua seção “Caminho do coração”: “Uma característica de viver em uma cultura que oferece tantas possibilidades é perder o foco, não saber o que realmente importa. Vivemos de uma forma dispersa, seduzidos por uma infinidade de ofertas, criando uma ciranda de opções que mudam constantemente nosso olhar de direção.
A perda de objetividade nos conduz a uma dificuldade de integração das diferentes realidades da vida. Somos seres distraídos, ansiosos e inquietos. A obsessão pela autorrealização, pela autossegurança e pela autoimagem surge da necessidade de dar nitidez a um cenário desfocado”.
Qual o cenário que está desfocado quando um discípulo de Jesus vive uma “obsessão pela autorrealização, pela autossegurança e pela autoimagem”?
Como vimos no artigo anterior desta série, os discípulos precisam corrigir sua visão de Jesus, pois são como o “ex-cego” que não chegou ainda a vê-lo perfeitamente (Mc 8.22-26). O texto a seguir é o texto central sobre o discipulado em Marcos; nele o discipulado é reduzido à sua essência. Perder de foco a essência, é desviar-se completamente do caminho. E como veremos, a essência é perdida quando o foco sobre Jesus é distorcido por impressões preconcebidas.

Evangelho de Marcos 8.27-9.1
27Jesus e os seus discípulos dirigiram-se para os povoados nas proximidades de Cesaréia de Filipe. No caminho, ele lhes perguntou: "Quem o povo diz que eu sou?" 28Eles responderam: "Alguns dizem que és João Batista; outros, Elias; e, ainda outros, um dos profetas". 29"E vocês?", perguntou ele. "Quem vocês dizem que eu sou?" Pedro respondeu: "Tu és o Cristo”. 30Jesus os advertiu que não falassem a ninguém a seu respeito.
31Então ele começou a ensinar-lhes que era necessário que o Filho do homem sofresse muitas coisas e fosse rejeitado pelos líderes religiosos, pelos chefes dos sacerdotes e pelos mestres da lei, fosse morto e três dias depois ressuscitasse. 32Ele falou claramente a esse respeito. Então Pedro, chamando-o à parte, começou a repreendê-lo. 33Jesus, porém, voltou-se, olhou para os seus discípulos e repreendeu Pedro, dizendo: "Para trás de mim, Satanás! Você não pensa nas coisas de Deus, mas nas dos homens".
34Então ele chamou a multidão e os discípulos e disse: "Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. 35Pois quem quiser salvar a sua vida a perderá; mas quem perder a sua vida por minha causa e pelo evangelho, a salvará. 36Pois, que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? 37Ou, o que o homem poderia dar em troca de sua alma? 38Se alguém se envergonhar de mim e das minhas palavras nesta geração adúltera e pecadora, o Filho do homem se envergonhará dele quando vier na glória de seu Pai com os santos anjos". 1E lhes disse: "Garanto-lhes que alguns dos que aqui estão de modo nenhum experimentarão a morte, antes de verem o Reino de Deus vindo com poder".

Nos v.27-28, vemos que os discípulos já não são cegos como o povo. Eles sabem que Jesus não é João Batista, Elias, ou um dos antigos profetas do Antigo Testamento. Eles sabem que Jesus é o Cristo. Mas se sabem disso, por que Jesus os advertiu que não falassem a ninguém a seu respeito? A reação de Pedro, repreendendo Jesus quando este começa a falar da cruz, mostra-nos que Pedro e Jesus tinham visões diferentes sobre o que significa ser o Cristo. Como vimos no artigo anterior, quem não conhece a Jesus não pode anunciá-lo.
Então Jesus começou a ensinar-lhes que tipo de Cristo ele é. Ele refere-se a si mesmo usando a expressão Filho do homem. Esta expressão foi utilizada no livro do profeta Daniel (do Antigo Testamento) 7.13-14: Eu estava olhando nas minhas visões da noite, e eis que vinha com as nuvens do céu um como o Filho do Homem, e dirigiu-se ao Ancião, e o fizeram chegar até ele. Foi-lhe dado domínio, e glória, e o reino, para que os povos, nações e homens de todas as línguas o servissem; o seu domínio é domínio eterno, que não passará, e o seu reino jamais será destruído.
Como Pedro e o povo judeu da época interpretava esta profecia? Eles acreditavam que Deus lhes mandaria um rei que expulsaria o Império Romano daquela região e dominaria sobre todas as nações do mundo, trazendo um reino eterno de Deus sobre a terra, sediado em Israel, tendo o povo de Israel como povo soberano sobre todos os povos. Quando Pedro diz que Jesus é o Cristo, ele refere-se a isso. Ele não está inteiramente errado: Jesus é o Cristo, portanto rei soberano sobre toda a humanidade. O problema é que quando Pedro e nós imaginamos um rei, imaginamos um ser vitorioso e invencível; alguém que vence pela força e poder.
Só que Jesus não é esse tipo de Cristo. Ele é um tipo rejeitado pelos religiosos da época, um tipo que morre numa cruz (o tipo mais humilhante de morte que você poderia sofrer naqueles tempos). Quando Pedro ouve isso, ele chama Jesus à parte e começa a repreendê-lo. “Onde já se viu uma coisa dessas? Nunca isso vai acontecer com o Senhor!” Ele não consegue conceber Jesus, o Cristo, o Soberano Rei, nesta situação tão humilhante. O v.38 sugere um sentimento de vergonha nas palavras de Pedro.
No entanto, esta postura não condiz com um discípulo de Jesus, mas sim com um escravo de Satanás, por isso a resposta de Jesus: Para trás de mim, Satanás! Você não pensa nas coisas de Deus, mas nas dos homens. Isso porque a obsessão por poder, por impor sua vontade (aquilo que Nietzche propunha que todos fizéssemos), por autorrealização (aquilo que Sartre propôs), pela autossegurança e pela autoimagem é o caminho dos homens. Porém a resposta de Jesus nos diz que esse caminho não tem origem humana, mas sim diabólica.
Em contrapartida, o caminho de Jesus é diferente. Ele possui no centro do seu percurso uma cruz. Se alguém quiser acompanhar-me, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me (v.34). Jesus está seguindo este caminho. E se você seguí-lo, chegará – sem qualquer dúvida – à cruz. Ela é a essência do caminho de Jesus. Contorne a cruz e você sairá completamente do caminho. Volte para o caminho em qualquer ponto e você encontrará a cruz. Ela mata o nosso velho homem pecaminoso e nos possibilita seguirmos (sermos como) Jesus. Por isso, a necessidade de negar-se.
Apesar da importância da cruz, muitos se ressentem dela. Acham que tal ato vai contra eles mesmos (o que costumam chamar seu “eu”). Estão tão influenciados pela propaganda atual de autorrealização que qualquer ideia de ir contra seus próprios anseios e interesses é pecado a seus próprios olhos. Aceitariam qualquer proposta que parecesse fazê-los decentes, bondosos e grandiosos, caso isso se ajustasse aos que eles já têm buscado, ao que eles pensam ser eles mesmos (o que a psicologia chama de self). Querem salvar a sua vida e a acabam perdendo (v.35). Parecem ter se esquecido que fazemos muitas coisas reprováveis; que o ódio, a amargura, a inveja, a manipulação, a lascívia e o egoísmo contaminam até os atos mais “altruístas”, quando são direcionados não por compaixão (que significa sentir o sofrimento alheio), mas por um anseio de autorrealização (sentir-se bem consigo, sentir-se uma boa pessoa) – o que explica eles serem muitas vezes pontuais, de curta duração, impulsivos, sujeitos a uma enorme frustração, muitas vezes disfuncionais (sem eficácia real) e produtores de dependência a quem age (ao invés de autonomia em quem recebe).
Por isso, nos v.36-37, Jesus nos mostra o quanto se apegar a si mesmo (salvar sua vida, projetos, interesses...) é um mau negócio. Ele é bom durante um tempo, mas acaba rápido (é como só ter dinheiro para uma entrada da montanha-russa). Mas perder a sua vida por minha causa e pelo evangelho produz salvação, nova vida, vida eterna. Ao invés disso, Jesus nos instrui a sofrermos o que ele sofreu na cruz a fim de recebermos algo que vale mais que o mundo inteiro (v.36). Ele nos propõe trocar o nosso mau negócio pelo Seu bom negócio.
Mas quão poucos são os que seguem por este bom caminho! A maioria dos chamados crentes parecem encaixar-se na descrição de Tomás de Kempis, em Imitação de Cristo: “Muitos apresentam-se a Jesus, agora, como apreciadores de seu reino celestial; mas poucos querem levar a sua cruz. Há muitos desejosos de consolação, mas poucos de tribulação; muitos companheiros à sua mesa, mas poucos de sua abstinência. Todos querem gozar com ele, poucos sofrer por ele alguma coisa. Muitos seguem Jesus até o partir do pão, poucos até beber o cálice da paixão. Muitos veneram seus milagres, mas poucos participam da ignomínia da cruz. Muitos amam a Jesus enquanto não encontram adversidades. Muitos O louvam e bendizem, enquanto recebem d’Ele algumas consolações; se, porém, Jesus se oculta e por muito pouco os deixa, caem logo em murmurações e desânimo excessivo.” Somos de fato muito mais discípulos de nós mesmos do que de Jesus. Pois assim como Pedro, vemos um Jesus que é apenas Rei e não um “ex-crucificado”. Se nos esquecemos de que o caminho de Jesus é o caminho da cruz, como podemos seguí-lo? Quem crê em um Jesus que não passou pela cruz, não pode negar a si mesmo, tomar sua cruz e seguir a Jesus. Assim, torna-se discípulo de si, dos homens e de Satanás, salvando sua própria alma, ganhando o mundo inteiro para depois perdê-lo.
Isso nos traz problema ainda mais grave. Pois Jesus diz que fazer isso é perder a própria alma. Isso é mais bem explicado no v.38: Se alguém se envergonhar de mim e das minhas palavras nesta geração adúltera e pecadora, o Filho do homem se envergonhará dele quando vier na glória de seu Pai com os santos anjos. Paul Freston, em seu livro “Nem monge, nem executivo”, ajuda-nos a entender o processo da vergonha: “A comparação com a cruz tinha, evidentemente, outro sentido: implicava rejeição, perda de respeitabilidade, morte às ambições. A crucificação da velha natureza, fazendo morrer o pecado. Carregar a cruz, então, é uma atitude que desemboca numa série de ações...No entanto, vivemos em sociedades que têm seus próprios valores. Por isso, a vergonha (v.38), o medo de ir contra a maré, é um motivo forte para querer ‘salvar a vida’. A vergonha nos leva a nos afastar de alguém, como um político manobrando para separar-se a tempo de um governo desgastado”(adaptado). Aquele que nega Jesus diante dos homens tem sua participação no seu Reino negada por Jesus quando este vier na glória de seu Pai com os santos anjos. O destino é perder a alma; ir para o inferno. Pois o Reino de Jesus substitui, pouco a pouco, o “mundo inteiro” dos homens “sem alma” e de Satanás, até o dia em que o fará plenamente.
No entanto, quem perder a sua vida por minha causa e pelo evangelho, a salvará. Isto nos levará a participarmos do seu Reino, o que nos é garantido pelo próprio Jesus em Mc 9.1: E lhes disse: "Garanto-lhes que alguns dos que aqui estão de modo nenhum experimentarão a morte, antes de verem o Reino de Deus vindo com poder". Ele disse isso, pois muitos veriam a Jesus ressurreto três dias após a sua crucificação. A ressurreição sinalizada pelos milagres de Jesus inicia o Seu reinado de salvação neste mundo. Não fosse essa participação em vida no Reino de Deus, neste mundo, a cruz esmagaria a nossa existência e amargaria o discipulado de Jesus.
Isto nos lembra as palavras de João Calvino, em seu “A verdadeira vida cristã”:
Posto que só é do nosso agrado aquilo que imaginamos proveitoso e próspero para nós, nosso Pai misericordioso nos conforta ensinando-nos que é necessário levarmos a cruz para promover a nossa salvação.[...]
A conclusão dessas considerações é que quanto mais somos oprimidos pela cruz, maior será a nossa alegria espiritual; e inevitavelmente a essa alegria se junta à gratidão.
Se o louvor e a ação de graças ao Senhor devem surgir de um coração alegre e rejubilante, e não há nada que deva reprimir tais emoções, então é evidente que Deus neutralizará a amargura da cruz por meio da alegria do espírito”.
 Por isso, a vida de cruz não é amarga; o negar-se a si mesmo por Jesus, e em Jesus, não leva à depressão; o seguir a Jesus (embora acarrete sofrimento e rejeição dos homens) é vida, salvação e alegria.
Concluindo, buscamos a nossa autorrealização, conforto (autossegurança) e popularidade (autoimagem), quando perdemos o foco no Jesus que passou pela cruz. Tomemos o Seu bom caminho da cruz a fim de participarmos do Seu Reino em vida, salvando nossas almas na cruz e ressurreição de Jesus, como o apóstolo Paulo o qual desejou conhecer [Jesus] Cristo, o poder da sua ressurreição e a participação em seus sofrimentos, tornando-me como ele em sua morte para, de alguma forma, alcançar a ressurreição dentre os mortos (Filipenses 3.10-11).

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

O caminho do discipulado - Você está vendo mesmo?


Na série anterior, vimos o chamado que Jesus faz às pessoas para que sejam seus discípulos. Embora isso devesse ser o suficiente para levar-nos pelo caminho certo, muitas vezes nos desviamos por caminhos errados. Como um peregrino, temos sempre a possibilidade de termos entendido errado as instruções que nos foram dadas, tomar atalhos que nos desviam do caminho, ou escolher caminhos mais fáceis e agradáveis.
Algo assim parece ter ocorrido com os discípulos. Pois Marcos 8.22-10.52 trata da incapacidade dos discípulos de verem Jesus como Ele realmente é, tornando-os incapazes de anunciá-lo sem levar as multidões a um entendimento errado sobre Jesus e sobre por que deveriam tornar-se, elas também, discípulas de Jesus. Assim, este trecho (que muitos consideram central no evangelho de Marcos) começa e termina com a cura de dois cegos. Um em duas etapas, o outro em apenas uma.

Mc 8.22-26
22Eles foram para Betsaida, e algumas pessoas trouxeram um cego a Jesus, suplicando-lhe que tocasse nele. 23Ele tomou o cego pela mão e o levou para fora do povoado. Depois de cuspir nos olhos do homem e impor-lhe as mãos, Jesus perguntou: "Você está vendo alguma coisa?"
24Ele levantou os olhos e disse: "Vejo pessoas; elas parecem árvores andando".
25Mais uma vez, Jesus colocou as mãos sobre os olhos do homem. Então seus olhos foram abertos, e sua vista lhe foi restaurada, e ele via tudo claramente. 26Jesus mandou-o para casa, dizendo: "Não entre no povoado”.

A cena é, por um lado, comum nos evangelhos: as pessoas chegam a Jesus suplicando-lhe que Ele cure alguém. No entanto, a cena também é estranha: Jesus cospe no seu paciente (o mesmo ocorre na cura do surdo e gago, em Mc 7.31-37, texto tão semelhante com o nosso que chegam a estabelecer alguma correspondência). Além disso, a cena é perturbadora para alguns, pois parece que Jesus falhou na primeira tentativa.
Considerando que a ideia de um Jesus que falha, ou de um Jesus imperfeito ou limitado, é estranha a todo evangelho de Marcos (e a todo o Novo Testamento!) – e que Jesus não é uma máquina que precisa de aquecimento antes de funcionar direito – por que Marcos apresentaria um acontecimento tão incoerente com tudo que escreveu antes e depois disso? Pois Ele começa seu evangelho dizendo que Jesus é o Filho de Deus (Mc 1.1); passa boa parte do começo desse livro dizendo que Jesus tem autoridade sobre a natureza, doenças, demônios, Lei etc.; diz, após a cura do surdo e gago, que o povo maravilhou-se, dizendo que “Ele faz tudo muito bem” (Mc 7.36). Por que então isso?
Como dito acima, as curas dos dois cegos são o começo e o final (a capa “da frente” e a “do fim” do livro) de um trecho considerado como central para o evangelho de Marcos, no qual os discípulos não O veem claramente e precisam ter seus olhos abertos, a fim de vê-lo como Ele realmente é. A cura deste nosso primeiro cego demonstra essa realidade.
Percebemos que no v.24 algo mudou, ele não é mais tão cego, pois ele mesmo diz: "Vejo pessoas; elas parecem árvores andando". Mas só conseguir diferenciar pessoas de árvores pelo fato de que as primeiras andam e as últimas não, parece-nos algo um tanto quanto defeituoso. De fato, não podemos nos contentar com isso. Nem Jesus.
No entanto, a situação deste nosso cego no v.24 é a mesma situação das pessoas no evangelho de Marcos, incluindo os discípulos! Assim, o povo que viu Jesus curar o surdo e gago na região de Decápolis, chegou efetivamente a uma conclusão correta: “Jesus faz tudo muito bem”; mas não conseguiram vê-lo como Messias (Mc 7.36,37). Também Pedro viu Jesus como Messias, mas não entendia que tipo de Messias é Jesus (Mc 8.29-33). E, por várias situações semelhantes, os discípulos são repreendidos por Jesus dos capítulos 8-10 de Marcos porque, embora sejam seus discípulos (aqueles que deveriam conhecê-lo e imitá-lo), estão sempre fazendo, dizendo e pensando o contrário do que Jesus deseja deles! Eles estão, como se diz, dando sempre “bola fora”. Ora, se os discípulos mais próximos fazem isso, o que se dirá do povo que só o conhece de longe!
O que se dirá em nossos dias! Pois uns tratam Jesus como milagreiro; outros como um espírito evoluído que veio nos dar um bom exemplo; livros são escritos retratando Jesus como um líder, psicólogo ou pedagogo; os que buscam o Jesus histórico (sem essa “coisa” de milagres, filho de Deus, salvador...) tratam-no como um mestre de bons modos ou um revolucionário. Não há limites para darmos a Jesus a cara que queremos. A cara que nos convém. Como será mostrado nos artigos seguintes desta série, os discípulos de Jesus fizeram algo assim. Olharam Jesus com os olhos de sua época e o deformaram.
Mas Jesus não se contentou com essa visão parcial que seus discípulos tinham dEle. Assim como curou o cego completamente, – de modo que seus olhos foram abertos, e sua vista lhe foi restaurada, e ele via tudo claramente – Ele está disposto a curar todos os seus discípulos (eles e nós) da sua cegueira espiritual.
Porém estejamos avisados: como no caso do nosso cego, a cura é obra de Jesus, não nossa. Assim, não podemos nos aproximar de Jesus com nossas concepções distorcidas de quem é Jesus (o maior líder, o maior psicólogo, o Jesus histórico, espírito evoluído...), pois elas nos levarão ao engano. Mas devemos deixar que Jesus nos leve a uma nova compreensão de si mesmo. Por isso, ter uma melhor visão sobre Jesus não pode acontecer em nós simplesmente por nosso esforço, estudo, pesquisa, ou quaisquer manifestações sobrenaturais que se possa imaginar. Ou Jesus mesmo revela-se a nós ou podemos voltar para casa e tocar a nossa vida como sempre fizemos. É certo que Jesus usa a Bíblia, como acontece com os discípulos no caminho de Emaús, onde Jesus começando por Moisés e todos os profetas [o Antigo Testamento], explicou-lhes o que constava a respeito dele em todas as Escrituras (Lc 24.27). Também usa outros discípulos, como quando Filipe explicou as escrituras e anunciou Jesus ao eunuco etíope (Atos 9.35). Ele promete usar a igreja, quando essa vive em amor (Jo 13.34,35). Além de nos ensinar através do Espírito Santo (Jo 14.26). Mas esta correção da nossa visão é sempre obra de Jesus, não nossa. Nossos esforços para ver ou para ajudar outros verem só têm eficácia, quando Jesus já está fazendo algo.
Assim, o caminho do discipulado que Jesus nos traz não é uma série de tarefas ou passos para imitar Jesus (“faça isso” e “não faça aquilo”), mas conhecê-lo como Ele realmente é. Deste modo, o relacionamento (e o aprendizado) com Ele será realizado sobre o fundamento certo. Assim, também poderemos anunciá-lo sem levar as pessoas ao erro.
Este é de fato um segundo aspecto importante deste texto. Pois Jesus o levou para fora do povoado e após curá-lo mandou-o para casa, dizendo: "Não entre no povoado”. E veremos que muitas outras vezes isso ocorre nos evangelhos. Isso ocorre porque as pessoas (seja pelos “pré-conceitos” de quem ouve ou de quem anuncia) não entenderiam quem é Jesus. Elas encaixariam Jesus em seus moldes pré-fabricados de Deus, Messias, etc.
Todos fazemos isso em algum momento. Dizemos “se Jesus é Deus, deve agir assim”, “se Deus fosse bom, não deixaria aquilo acontecer”, “se quer me convencer, deve dar-me tal prova”. E assim tentamos forçar Jesus a entrar em nossos próprios preconceitos. Não o deixamos ser quem Ele é. E voltamos para casa frustrados. Por isso, devemos de tempos em tempos rever se nossos conceitos sobre Jesus são os conceitos que o próprio Jesus nos apresenta através do evangelista Marcos. Só assim, podemos evitar os erros de nos desviarmos do caminho do discipulado e anunciarmos um Jesus falso, impotente e indigno de nossa devoção. Esta série tem esse propósito. Vamos conhecer Jesus?
Mas espere! Nossa jornada não pode ser vista como um empreendimento nosso. Nem como um simples passatempo, ou satisfação de uma curiosidade impessoal. Ela inicia-se (e continua) com a súplica constante dos cegos que anseiam ver, tal como no v.22. Ela depende de Jesus. Supliquemos e deixemos que Ele nos mostre como quer se revelar, do jeito, na hora e no ritmo que Ele mesmo quer.