Mc
12.35-40
35Ensinando no
templo, Jesus perguntou: "Como os mestres da lei dizem que o Cristo é
filho de Davi? 36O próprio Davi,
falando pelo Espírito Santo, disse:
" 'O Senhor disse
ao meu Senhor:
Senta-te à minha direita
até que eu ponha
os teus inimigos
debaixo de teus pés'
37O próprio Davi o
chama 'Senhor'. Como pode, então, ser ele seu filho?"
E a grande multidão o ouvia com prazer.
38Ao ensinar, Jesus
dizia: "Cuidado com os mestres da lei. Eles fazem questão de andar com
roupas especiais, de receber saudações nas praças 39e de ocupar os lugares mais importantes nas sinagogas e os
lugares de honra nos banquetes. 40Eles devoram as
casas das viúvas, e, para disfarçar, fazem longas orações. Esses receberão
condenação mais severa!"
Mês
passado, alguns colegas perguntaram a um membro de uma denominação religiosa
bem conhecida pela Teologia da Prosperidade sobre o quê aquela denominação
dizia sobre Jesus. O membro disse: “aqui nós não pregamos religião, nem a
Bíblia; nós dizemos que Jesus é liberdade”. Talvez seja por isso que um conhecido
meu, neste ano, foi morar com uma moça (com quem não se casou) dessa mesma
denominação. Ela faz questão de dar o dízimo, mas não de dormir somente com
alguém com quem tenha se casado antes. Faz questão de ir à “igreja” todo
domingo, mas não de dizer com seus atos que “Jesus é o Senhor”.
Ao
comparar a nossa época com a de Jesus, percebemos um estranho contraste.
Na época de Jesus as pessoas sabiam que o Cristo é Senhor, mas não sabiam que
Ele é Deus (v.35-37); hoje elas dizem que Jesus é Deus, mas não vivem como se
Ele fosse Senhor. Assim como na época de Jesus, a confusão sobre quem Ele é
começa nos que têm o dever de ensinar o povo, sejam mestres da Lei nos tempos de Jesus (v.35), sejam nossos atuais
“pastores, bispos, apóstolos e patriarcas”.
Esses, mais interessados em
suas posições, fama, influência e sucesso financeiro, também fazem questão de
andar com roupas especiais (ternos e
gravatas), de receber saudações nas
praças (mercados, feiras, igrejas e programas de TV) e de ocupar os lugares mais importantes nas sinagogas (ou no
“templo”). Isso me faz lembrar um pastor de uma igreja protestante tradicional que
se assentava de frente para o público, um pouco atrás do púlpito, como um
soberano, mesmo quando não fosse ter qualquer participação no culto. E também os lugares de honra nos banquetes
(afinal de contas, o pastor não pode ficar na fila do almoço comunitário, não é
mesmo?). Além disso, muitos devoram as casas das viúvas, e, para
disfarçar, fazem longas orações; seja através de promessas de muitas
bênçãos, ou como uma pessoa da mesma denominação que eu (protestante) disse
sobre “seu pastor”: “estranho ele sempre marcar visita perto da hora do
almoço...”.
O
fato é que ser pastor, líder de ministério, parte do grupo de louvor ou mesmo
“crente”, tem alguns benefícios, desde o cabide de empregos (com direito
a aprovação social e casa pastoral), à possibilidade de ser bem visto e, quem
sabe, ter uma fatia do mercado (“gospel” para o meio artístico, “bancada
evangélica” para o político, “crente” para o relacional). No mundo competitivo
em que vivemos (seja na economia, política, influência, mídia, relacionamentos
e amores), há um “jeitinho brasileiro”, mas “crente”, de se chegar antes e mais
longe.
Isto tudo chega a tal ponto que
muitos ficamos indignados com o sucesso que alguns “atores e atrizes gospel” ao
nosso redor têm conquistado.
Porém, tudo isso terá um fim,
como diz o Salmo 110, citado por Jesus no v.36 deste texto.
Aqui Jesus nos eleva a um
conhecimento mais profundo sobre si mesmo. É certo que este texto era conhecido
de todos, mas como o palácio do rei ficava à direita do templo de Jerusalém, é
bem possível que as pessoas na época de Jesus não entendessem bem o que o salmo
de Davi anunciava. Possivelmente, criam que o Salmo 110 dizia que o Messias, o
Cristo, se assentaria no palácio, à direita do templo de Deus, em Jerusalém. Mas
o que Jesus quis dizer, é que Ele mesmo, o Messias, se assenta ao lado do
próprio Deus. Em outras palavras, que Ele está em pé de igualdade com Deus – ou
seja, Ele é Deus.
Se continuássemos a ler o
Salmo 110, perceberíamos que ele fala do domínio do Senhor sobre todos os Seus
inimigos (de todas as nações da terra), através de seu próprio poder e de seu
povo, o qual Ele teria purificado de toda a injustiça e pecado; bem como
veríamos este “Senhor” como sacerdote (alguém que reconcilia as pessoas com
Deus para um relacionamento). E não somente isso, pois todos os inimigos são
colocados debaixo dos pés desse Senhor, o que demonstra que Deus lhe dará total
supremacia sobre todo ser humano.
Mas Jesus afirma que os
mestres da Lei também podem ser considerados inimigos de Deus, na medida em que
também podem sofrer a condenação dele (v.40) e condenação maior ainda, pois
devendo instruir o povo e tendo uma posição especial, usam dessas coisas em
benefício próprio. Eles e nós deveríamos ouvir o conselho de Tiago (3.1): Meus irmãos, não
sejam muitos de vocês mestres, pois vocês sabem que nós, os que ensinamos,
seremos julgados com maior rigor. Pois aqueles que têm o dever de
instruir e de ser exemplo, ou que ocupam posições de destaque, são julgados de
acordo com a sua posição.
Assim Jesus é o próprio Deus e
possui supremacia sobre todos e tudo que já existiu e ainda existirá. Ele
domina todas as coisas e nada está acima dele, que se assenta à direita do Pai.
Ele é o Rei de toda a humanidade e traz um Reino de retidão, ao invés de
hipocrisia; de justiça e bondade, ao invés de exploração; de condenação para os
inimigos de Deus (estejam eles fora ou dentro da igreja), mas de reconciliação
com Deus para um relacionamento eterno aos que se voltam a Ele com sinceridade.
Ele é o Rei dos reis, o Senhor dos senhores, exaltado acima de tudo e de todos
para todo sempre. Seu reinado não tem fim ou imperfeição, pois não tolera o
pecado e a falsidade. Condena os que usam máscaras, mas perdoa e purifica os
que as retiram.
Diante dEle, devemos nos
arrepender e, deixando nossos interesses mesquinhos e egoístas de lado, buscar
os Seus interesses, a fim de que Ele seja honrado em nossa humilhação, seja
rico em nossa pobreza, agradado em nossa abnegação, visto enquanto somos
ignorados e procurado enquanto somos esquecidos.
Assim como num relato do pr.
Eugene Peterson. Ele e a esposa haviam assistido uma palestra do psiquiatra
francês Paul Tournier. Durante o caminho para casa, ambos comentavam de modo
muito positivo sobre a palestra, até que a esposa disse: “a tradução também foi
excelente!”. Eugene, surpreso, respondeu: “que tradução?” “Eugene, você não
fala francês, é claro que houve uma tradução”, ela retrucou. Então, ele começou
a lembrar-se. De fato, o psiquiatra havia falado em francês o tempo todo, mas
havia uma senhora, muito discreta, traduzindo tudo. Tão discreta que Eugene não
se lembrava dela ou da fala em francês do palestrante!
Da mesma forma, a fim de que
Cristo seja revelado em sua supremacia, devemos viver, falar, pensar e agir de
tal forma que as pessoas não “percebam que estamos ali”. Nossa vida deve ser,
em todos os detalhes, uma tradução perfeita da supremacia de Cristo. Mortos
para nossos gostos, interesses, anseios, necessidades, desejos, ideias, planos
e preferências; mas vivos para tudo quanto Deus nos guia e nos revela acerca de
Seus desejos, projetos, interesses e mandamentos.
Quando isto ocorrer, a grande multidão nos ouvirá com prazer (v.37). Pois Cristo lhes
será revelado em toda a sua glória e autoridade. Isso porque a maior
necessidade e desejo de todo ser humano (quando o pecado não o ofusca) é a
glória de Deus, pois para isso fomos criados (para que Ele seja glorificado) e fomos
redimidos por Jesus para sermos conforme a Sua imagem gloriosa, a fim de que,
sobre nós e em nós, Ele reine soberanamente e seja visto e reconhecido por
todos em toda a Sua glória.
Somente desta forma, será
justo e benéfico a todos o ocuparmos um lugar de destaque onde estivermos.
Somente assim será justo que todos (inclusive nós mesmos) tenhamos prazer em
nós (e em nossos novos anseios, desejos e ideias), pois Jesus será o Senhor de
fato, sobre nós e através de nós. Somente assim, quem nos honrar, estará
honrando a Deus e quem nos der mesmo que
seja apenas um copo de água fria, não perderá a sua recompensa (Mt 10.42).
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