quarta-feira, 9 de maio de 2012

O Rei vem - Reina em mim


Mc 12.35-40

35Ensinando no templo, Jesus perguntou: "Como os mestres da lei dizem que o Cristo é filho de Davi? 36O próprio Davi, falando pelo Espírito Santo, disse:
" 'O Senhor disse
ao meu Senhor:
Senta-te à minha direita
até que eu ponha
os teus inimigos
debaixo de teus pés'
37O próprio Davi o chama 'Senhor'. Como pode, então, ser ele seu filho?"
E a grande multidão o ouvia com prazer.
38Ao ensinar, Jesus dizia: "Cuidado com os mestres da lei. Eles fazem questão de andar com roupas especiais, de receber saudações nas praças 39e de ocupar os lugares mais importantes nas sinagogas e os lugares de honra nos banquetes. 40Eles devoram as casas das viúvas, e, para disfarçar, fazem longas orações. Esses receberão condenação mais severa!"

Mês passado, alguns colegas perguntaram a um membro de uma denominação religiosa bem conhecida pela Teologia da Prosperidade sobre o quê aquela denominação dizia sobre Jesus. O membro disse: “aqui nós não pregamos religião, nem a Bíblia; nós dizemos que Jesus é liberdade”. Talvez seja por isso que um conhecido meu, neste ano, foi morar com uma moça (com quem não se casou) dessa mesma denominação. Ela faz questão de dar o dízimo, mas não de dormir somente com alguém com quem tenha se casado antes. Faz questão de ir à “igreja” todo domingo, mas não de dizer com seus atos que “Jesus é o Senhor”.
Ao comparar a nossa época com a de Jesus, percebemos um estranho contraste. Na época de Jesus as pessoas sabiam que o Cristo é Senhor, mas não sabiam que Ele é Deus (v.35-37); hoje elas dizem que Jesus é Deus, mas não vivem como se Ele fosse Senhor. Assim como na época de Jesus, a confusão sobre quem Ele é começa nos que têm o dever de ensinar o povo, sejam mestres da Lei nos tempos de Jesus (v.35), sejam nossos atuais “pastores, bispos, apóstolos e patriarcas”.
Esses, mais interessados em suas posições, fama, influência e sucesso financeiro, também fazem questão de andar com roupas especiais (ternos e gravatas), de receber saudações nas praças (mercados, feiras, igrejas e programas de TV) e de ocupar os lugares mais importantes nas sinagogas (ou no “templo”). Isso me faz lembrar um pastor de uma igreja protestante tradicional que se assentava de frente para o público, um pouco atrás do púlpito, como um soberano, mesmo quando não fosse ter qualquer participação no culto. E também os lugares de honra nos banquetes (afinal de contas, o pastor não pode ficar na fila do almoço comunitário, não é mesmo?). Além disso, muitos devoram as casas das viúvas, e, para disfarçar, fazem longas orações; seja através de promessas de muitas bênçãos, ou como uma pessoa da mesma denominação que eu (protestante) disse sobre “seu pastor”: “estranho ele sempre marcar visita perto da hora do almoço...”.
O fato é que ser pastor, líder de ministério, parte do grupo de louvor ou mesmo “crente”, tem alguns benefícios, desde o cabide de empregos (com direito a aprovação social e casa pastoral), à possibilidade de ser bem visto e, quem sabe, ter uma fatia do mercado (“gospel” para o meio artístico, “bancada evangélica” para o político, “crente” para o relacional). No mundo competitivo em que vivemos (seja na economia, política, influência, mídia, relacionamentos e amores), há um “jeitinho brasileiro”, mas “crente”, de se chegar antes e mais longe.
Isto tudo chega a tal ponto que muitos ficamos indignados com o sucesso que alguns “atores e atrizes gospel” ao nosso redor têm conquistado.
Porém, tudo isso terá um fim, como diz o Salmo 110, citado por Jesus no v.36 deste texto.
Aqui Jesus nos eleva a um conhecimento mais profundo sobre si mesmo. É certo que este texto era conhecido de todos, mas como o palácio do rei ficava à direita do templo de Jerusalém, é bem possível que as pessoas na época de Jesus não entendessem bem o que o salmo de Davi anunciava. Possivelmente, criam que o Salmo 110 dizia que o Messias, o Cristo, se assentaria no palácio, à direita do templo de Deus, em Jerusalém. Mas o que Jesus quis dizer, é que Ele mesmo, o Messias, se assenta ao lado do próprio Deus. Em outras palavras, que Ele está em pé de igualdade com Deus – ou seja, Ele é Deus.
Se continuássemos a ler o Salmo 110, perceberíamos que ele fala do domínio do Senhor sobre todos os Seus inimigos (de todas as nações da terra), através de seu próprio poder e de seu povo, o qual Ele teria purificado de toda a injustiça e pecado; bem como veríamos este “Senhor” como sacerdote (alguém que reconcilia as pessoas com Deus para um relacionamento). E não somente isso, pois todos os inimigos são colocados debaixo dos pés desse Senhor, o que demonstra que Deus lhe dará total supremacia sobre todo ser humano.
Mas Jesus afirma que os mestres da Lei também podem ser considerados inimigos de Deus, na medida em que também podem sofrer a condenação dele (v.40) e condenação maior ainda, pois devendo instruir o povo e tendo uma posição especial, usam dessas coisas em benefício próprio. Eles e nós deveríamos ouvir o conselho de Tiago (3.1): Meus irmãos, não sejam muitos de vocês mestres, pois vocês sabem que nós, os que ensinamos, seremos julgados com maior rigor. Pois aqueles que têm o dever de instruir e de ser exemplo, ou que ocupam posições de destaque, são julgados de acordo com a sua posição.
Assim Jesus é o próprio Deus e possui supremacia sobre todos e tudo que já existiu e ainda existirá. Ele domina todas as coisas e nada está acima dele, que se assenta à direita do Pai. Ele é o Rei de toda a humanidade e traz um Reino de retidão, ao invés de hipocrisia; de justiça e bondade, ao invés de exploração; de condenação para os inimigos de Deus (estejam eles fora ou dentro da igreja), mas de reconciliação com Deus para um relacionamento eterno aos que se voltam a Ele com sinceridade. Ele é o Rei dos reis, o Senhor dos senhores, exaltado acima de tudo e de todos para todo sempre. Seu reinado não tem fim ou imperfeição, pois não tolera o pecado e a falsidade. Condena os que usam máscaras, mas perdoa e purifica os que as retiram.
Diante dEle, devemos nos arrepender e, deixando nossos interesses mesquinhos e egoístas de lado, buscar os Seus interesses, a fim de que Ele seja honrado em nossa humilhação, seja rico em nossa pobreza, agradado em nossa abnegação, visto enquanto somos ignorados e procurado enquanto somos esquecidos.
Assim como num relato do pr. Eugene Peterson. Ele e a esposa haviam assistido uma palestra do psiquiatra francês Paul Tournier. Durante o caminho para casa, ambos comentavam de modo muito positivo sobre a palestra, até que a esposa disse: “a tradução também foi excelente!”. Eugene, surpreso, respondeu: “que tradução?” “Eugene, você não fala francês, é claro que houve uma tradução”, ela retrucou. Então, ele começou a lembrar-se. De fato, o psiquiatra havia falado em francês o tempo todo, mas havia uma senhora, muito discreta, traduzindo tudo. Tão discreta que Eugene não se lembrava dela ou da fala em francês do palestrante!
Da mesma forma, a fim de que Cristo seja revelado em sua supremacia, devemos viver, falar, pensar e agir de tal forma que as pessoas não “percebam que estamos ali”. Nossa vida deve ser, em todos os detalhes, uma tradução perfeita da supremacia de Cristo. Mortos para nossos gostos, interesses, anseios, necessidades, desejos, ideias, planos e preferências; mas vivos para tudo quanto Deus nos guia e nos revela acerca de Seus desejos, projetos, interesses e mandamentos.
Quando isto ocorrer, a grande multidão nos ouvirá com prazer (v.37). Pois Cristo lhes será revelado em toda a sua glória e autoridade. Isso porque a maior necessidade e desejo de todo ser humano (quando o pecado não o ofusca) é a glória de Deus, pois para isso fomos criados (para que Ele seja glorificado) e fomos redimidos por Jesus para sermos conforme a Sua imagem gloriosa, a fim de que, sobre nós e em nós, Ele reine soberanamente e seja visto e reconhecido por todos em toda a Sua glória.
Somente desta forma, será justo e benéfico a todos o ocuparmos um lugar de destaque onde estivermos. Somente assim será justo que todos (inclusive nós mesmos) tenhamos prazer em nós (e em nossos novos anseios, desejos e ideias), pois Jesus será o Senhor de fato, sobre nós e através de nós. Somente assim, quem nos honrar, estará honrando a Deus e quem nos der mesmo que seja apenas um copo de água fria, não perderá a sua recompensa (Mt 10.42).

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