quinta-feira, 31 de maio de 2012

Um só Deus, uma só vida


Gn 1-5
1No princípio, criou Deus os céus e a terra.
2A terra, porém, estava sem forma e vazia; havia trevas sobre a face do abismo, e o Espírito de Deus pairava por sobre as águas.
3Disse Deus: Haja luz; e houve luz. 4E viu Deus que a luz era boa; e fez separação entre a luz e as trevas. 5Chamou Deus à luz Dia e às trevas, Noite. Houve tarde e manhã, o primeiro dia.
O modo como vemos o mundo molda o modo como vivemos nele. As concepções atuais sobre o mundo variam do empirismo (que afirma que tudo que percebemos não passam de estímulos desconexos que são interpretados por nós, na tentativa de criar uma ilusão de que há sentido na vida) à religiosidade baseada em seres espirituais bons e maus que afetam caprichosamente nosso dia-a-dia. Assim, o mundo ao redor é ou sem sentido, ou um lugar de possibilidades (muitas vezes ruins) que nos surgem sem aviso.
Um mundo desconfortável, como nos diriam os estressados, os depressivos e os suicidas. A fim de sobreviver nele, buscamos ajuda de elementos que nos tragam uma sensação de segurança: dinheiro, beleza, um bom currículo, entidades e deuses, contatos, fama... Cada contexto tem seus estímulos, chefes, entidades, regras. Viver tornou-se fragmentado: diferentes papéis, regras e éticas para diferentes situações, lugares, tempos e pessoas. De modo que crer em um só Deus, e viver de um modo coerente com Ele, tornou-se um desafio.
Um desafio não menor do que tiveram os hebreus que saíram de um mundo conhecido (o Egito) e iam para Canaã (o mundo novo e desconhecido). Estavam entre dois lugares que afirmavam coisas semelhantes em relação ao mundo, como ele funciona e como se dar bem nele. Não foi à toa que quando as coisas ficavam complicadas a ideia de voltar ao Egito, ou de fazer um bezerro de ouro (como o deus egípcio Ápis), era tão atraente: era um jeito “comprovado” de resolver as coisas.
Havia o risco das trevas/ morte que sempre ameaçavam os egípcios e os cananitas. Sol e mar eram deuses que poderiam estar contra ou a favor de você. As estações e a seca eram vistas como a ausência ou a fúria de um deus. Quando você queria plantar, precisava agradar o deus da fertilidade; quando queria pescar, precisava prestar culto ao deus do mar. A vida era fragmentada, incerta e cansativa, pois era preciso agradar a “gregos e troianos”.
A fim de manterem-se fieis a Deus, os hebreus precisavam conhecê-lo, bem como Ele se relacionava com os “outros deuses” que concorriam com Ele. Assim, Gênesis 1 começa com a concepção de início do Oriente Próximo daquela época: A terra, porém, estava sem forma e vazia; havia trevas sobre a face do abismo, e o Espírito de Deus pairava por sobre as águas. (v.2). Além disso, lida com elementos que eram tidos como deuses ou representantes deles: o sol, as trevas, o mar, os animais... O objetivo deste texto não é tanto dizer que há um só Deus (outras partes da Bíblia dizem isso com muito mais clareza), muito menos trazer o cronograma da criação do mundo (os 6 dias são colocados em paralelos: 1º e 4º, 2º e 5º, 3º e 6º; não em seqüência lógica), mas sim mostrar a grandeza de Deus de tal forma que a busca de qualquer outro “deus” pareça perda de tempo. Uma receita poderosa para todos os encontros com novos povos e crenças.
Aqui, Deus é o criador de todas as coisas, incluindo o sol e o mar. É Ele quem põe ordem no caos inicial, criando um mundo organizado geograficamente e temporalmente – Disse também Deus: Haja luzeiros no firmamento dos céus, para fazerem separação entre o dia e a noite; e sejam eles para sinais, para estações, para dias e anos (v.14). Tudo que Ele cria é bom e perfeito (pois reflete a Sua face), tem seu lugar específico e está cheio de vida, povoando e multiplicando sobre a terra, nos céus e no mar. Ele dá nome a tudo (uma demonstração de seu governo e autoridade) e separa o bom do mau (a luz das trevas). Além disso, Ele é o Deus que está sempre agindo no mundo corrompido pelo pecado (Gn 3) nesses termos: a palavra criar pode ter o sentido de recriar. Criar é sua atitude “natural” diante do caos: o Espírito de Deus pairava por sobre as águas (v.2). Assim a criação nunca tem fim; Deus está trabalhando todos os (6) dias da semana: separando do mundo mau um povo para ser bom; governando a política internacional; criando e dando coisas boas a seus filhos; providenciando a chuva, a benção e a fertilidade no tempo determinado. O ponto alto dessa ação foi em Cristo, o qual morreu e ressuscitou a fim de levar essa história ao seu cumprimento pleno (os novos céus e terra dos capítulos finais do Apocalipse), de acordo com o plano eterno da Trindade.
Por isso, as festas do povo têm ligação com o ciclo da lavoura (como as ofertas dos primeiros frutos), fazendo do ir e vir das estações não um motivo de alarde, mas de celebração. Por isso, eram um só povo; tinham uma vida coerente, com um só jeito de viver. Pois buscavam a um só Deus, que os cria e os separa. O Deus que lhes garante a vida, que lhes traz saúde, que lhes separa uma terra, que aumenta seu gado e a sua descendência. O Deus que governa o dia de hoje e o de amanhã e as quatro estações do ano. O Deus que tem poder sobre a natureza, os homens, a morte e sobre os “deuses” de seus inimigos. O Deus que tem sua face refletida na luz do sol, nas constelações, no orvalho, na pétala de uma flor, no trovejar da tempestade, nas ondas do mar, no choro do recém-nascido e no rugido do leão.
Um Deus assim muda a vida. Não preciso temer os modismos do mercado, os “ins e outs” da cultura, da política e da economia, ou mesmo o futuro, pois Deus está constantemente fazendo coisas boas e perfeitas, colocando ordem no caos ao meu redor. Minha vida e personalidade podem ser uma, pois um só Deus chefia todos os lugares e acontecimentos. O mundo tem sim seus perigos, mas também tem em si mesmo “o livro da natureza” que me leva ao nosso Criador todas as vezes que eu o contemplo com olhos renovados. Dessa maneira, a pesquisa científica e a arte representativa tornam-se atos de adoração. Posso ser um com meu próximo, com os países vizinhos, com pessoas de qualquer etnia, pois temos o mesmo Criador. Não preciso depositar minha segurança em coisas instáveis, mas no relacionamento com o Deus que tudo governa e tudo provê.

Deste modo, por que os hebreus ou nós precisamos de algum outro deus? Todas as outras fontes de sobrevivência dependem de uma só. O Criador. A boa notícia é que Ele é bom e perfeito e está nos separando e recriando para si. Dependa dEle, sirva a Ele, viva com Ele.

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