quarta-feira, 13 de junho de 2012

O sétimo dia


Gênesis 2.1-3
1Assim, pois, foram acabados os céus e a terra e todo o seu exército. 2E, havendo Deus terminado no dia sétimo a sua obra, que fizera, descansou nesse dia de toda a sua obra que tinha feito. 3E abençoou Deus o dia sétimo e o santificou; porque nele descansou de toda a obra que, como Criador, fizera.

Quando criança, minha mãe contava-me a história da formiga e da cigarra. A primeira só trabalhava e a segunda só cantava (acho que os músicos não gostam muito desse “só”); quando chegou o inverno, a formiga tinha comida e a cigarra, que não havia acumulado nada, morreu de fome. Embora a Bíblia fale de sermos como a formiga (e não preguiçosos), creio que no sétimo dia, ela nos chame a ser como a cigarra (sem ofensa aos músicos!).
Mas é verdade que vivemos no mundo da formiga. Trabalhamos (in)cansavelmente e vivemos em constante competição porque achamos que não haverá um lugar para todos; além de vivermos ansiosos, porque cremos que amanhã pode não haver o suficiente para vivermos decentemente. Criamos sistemas de segurança para o futuro, mantendo-nos em casamentos de aparências [creio que o divórcio é antibíblico] e relacionamentos com pessoas a quem não amamos [sei que o amor é ação e não simples sentimento]; suportamos chefes e situações estressantes e opressivas, além de aceitarmos algo que não se encaixa com nossa vocação; em tudo nos virando com o mal conhecido, com um receio enorme do bem desconhecido; repetindo sempre os jargões: “é assim mesmo”, “nem todo casamento dá certo”, “nem todo mundo faz o que gosta”, “é preciso ser prudente” etc. Em todo tempo lutamos, porque cremos que vivemos em um mundo imperfeito e em um deus que diz “virem-se! Conquistem por si mesmos o seu lugar no mercado da vida! Se não conseguirem, a culpa será somente sua! Ninguém mandou viver como a cigarra e não como a formiga!”
Algo interessante é que a formiga não partilha nada com a cigarra e ninguém a chama de egoísta – será que fomos moldados assim também? Compramos roupas de marca, comemos fora todo final de semana, enchemos as estantes com coisas que nunca mais usaremos, gastamos energia e água à toa, não reutilizamos quase nada e para sentirmo-nos cristãos gastamos centenas de reais com acampamentos enquanto o Haiti vivia em desespero, pessoas eram expulsas de suas moradias ou morriam de frio e de fome ao redor do globo. Se não há o suficiente para todos, será que não somos parcialmente culpados disso?
A obra de Deus, porém, é boa e perfeita. Ele transforma uma “terra sem forma e vazia” (um deserto) em uma terra na qual chovia comida. Transforma Canaã em uma terra onde manam leite e mel. Ao sétimo dia sua obra está completa, nada falta, nada precisa de retoques. Por isso, cessa todo seu trabalho. Esta palavra é traduzida como descansou (Gn 2) ou como sábado (no resto do Antigo Testamento). Mas Deus não está exausto. Ele cessa porque tudo está completo, perfeitamente. E porque cessa, abençoa e santifica o sétimo dia.
Este dia traz a marca da perfeição, mas também da suficiência da criação de Deus. Nele não é preciso colher o maná; no sábado de anos (7º ano após o início da semeadura) não é preciso trabalhar. O dever é o repouso, o cessar de toda obra, confiando na benção que Deus coloca sobre este período. Por isso, traz a marca do descanso e quietude dependentes, da certeza e sinal de uma aliança com Deus (Ex 31.12-17). Trabalhar neste dia era desconfiar/ rejeitar a aliança deste Deus providente, que faz tudo bom e perfeito, no tempo certo.
O sábado também era sagrado. Não como algo de maior importância do que os outros seis dias (pois Deus age neles), mas como tempo de reconhecimento e celebração da obra perfeita de Deus ao longo da semana. Nele havia a certeza de que Deus sempre cuida de seu povo; nele havia a recuperação da imagem de Deus no homem, através da obediência e dependência ao Criador.
Mas em nossos dias, o dia sagrado foi movido para o domingo, pois nele Jesus ressuscitou. Nele a vida, que estava à morte, recebe eternidade; nele a imagem de Deus é recuperada; Ele é aquele que faz tudo muito bem (Mc 10.37, NVI); nele se descansa para a salvação, nele se realiza a missão para a restauração de todas as coisas.
Nele, nossos dias recebem nova vida e são refeitos em obra completa e boa. Deus cuida de nossas necessidades e dá-nos além do necessário afim de que supramos os outros. Ele cria homem e mulher para viverem em famílias saudáveis (e agirá continuamente assim se o buscarmos); dá a cada um sua vocação (a qual se manifesta em desejo na ausência e em alegria na sua realização), pois cria cada um com seu respectivo lugar no mundo. Ordena aos seus filhos que lutem contra a injustiça, contra a desigualdade e contra as condições insalubres do fraco, pois Ele mesmo está comprometido com isso. Cria os homens para que todos sejam um e o mundo viva em paz. Cria o homem para a natureza e a natureza para o homem; ambos para Si e Ele mesmo se dá para ambos.
E ordena-nos a reconhecer a perfeição da Sua obra, ao fazermos do sétimo dia um tempo de contemplação, descanso e celebração.

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