quarta-feira, 14 de março de 2012

O caminho do discipulado 7 - Discípulos-servos


Mc 10.35-45

35Nisso Tiago e João, filhos de Zebedeu, aproximaram-se dele e disseram: "Mestre, queremos que nos faças o que vamos te pedir". 36"O que vocês querem que eu lhes faça?", perguntou ele. 37Eles responderam: "Permite que, na tua glória, nos assentemos um à tua direita e o outro à tua esquerda".
38Disse-lhes Jesus: "Vocês não sabem o que estão pedindo. Podem vocês beber o cálice que eu estou bebendo ou ser batizados com o batismo com que estou sendo batizado?" 39"Podemos", responderam eles. Jesus lhes disse: "Vocês beberão o cálice que estou bebendo e serão batizados com o batismo com que estou sendo batizado; 40mas o assentar-se à minha direita ou à minha esquerda não cabe a mim conceder. Esses lugares pertencem àqueles para quem foram preparados".
41Quando os outros dez ouviram essas coisas, ficaram indignados com Tiago e João. 42Jesus os chamou e disse: "Vocês sabem que aqueles que são considerados governantes das nações as dominam, e as pessoas importantes exercem poder sobre elas. 43Não será assim entre vocês. Ao contrário, quem quiser tornar-se importante entre vocês deverá ser servo; 44e quem quiser ser o primeiro deverá ser escravo de todos. 45Pois nem mesmo o Filho do homem veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos".

Este texto traz um problema muito comum em todo grupo humano. Quem vai liderar? Ou, melhor dizendo, quem estará abaixo ou acima de mim? C.S. Lewis captou bem essa nossa característica quando fez da motivação básica que levou Edmundo a trair seus irmãos (em “O Leão, a feiticeira e o guarda-roupa”) o desejo de reinar sobre seus irmãos ao invés de ao lado deles. A cultura brasileira do profissional autônomo, que “não quer ter chefe” sobre si é totalmente incoerente com o caminho de Jesus. Mas, infelizmente, surge na igreja de tempos em tempos como uma erva daninha.
E surgiu entre os discípulos neste momento. Eles responderam: "Permite que, na tua glória, nos assentemos um à tua direita e o outro à tua esquerda" (v.37).
O pedido de Tiago e João era de tornarem-se corregentes com Jesus em Sua majestade. Eles queriam posições de autoridade, domínio e poder. Sobre quem? Sobre todos, inclusive sobre os outros dez apóstolos.
Não parece estranho? Os v.32-34 nos trazem o contexto deste trecho. Nele lemos que Jesus estava à frente, indo para Jerusalém. Os discípulos (entre eles, Tiago e João) estavam maravilhados, crendo que Jesus iria tomar a liderança do povo judeu como um Rei. Já os que os seguiam tinham medo, sem saber o que esperar. Nisso Jesus diz que será humilhado, açoitado e crucificado, mas que três dias depois ressuscitará. Que parte da humilhação, açoite e da cruz eles não entenderam? O próprio Jesus lhes diz que eles não sabiam o que estavam pedindo (v.38). E mesmo quando dizem que poderiam beber do cálice que Jesus estava bebendo e serem batizados com o batismo com o qual ele estava sendo batizado (em outras palavras, sua cruz), eles não conseguiram entender.
Pois eles pensavam em um Rei glorioso, marchando para Jerusalém a fim de libertá-la de forma sobrenatural do Império Romano e de toda corja de religiosos sem Deus que dominavam o povo através da religião. Quão intensamente eles beberiam o cálice quando Jesus foi preso e crucificado! Quão diferente seria sua resposta se tivessem entendido que as palavras de Jesus referiam-se à sua humilhação, sofrimento e morte.
Isso porque Jesus estava dizendo: “Vocês querem se semelhantes a mim em minha glória? Acaso podem ser semelhantes a mim no meu sofrimento?” A mesma pergunta é feita a todo candidato ao Reino de Jesus. A nossa resposta deve ter o mesmo sentimento da “resposta” de Paulo em Fp 3.10-11: Quero conhecer Cristo, o poder da sua ressurreição e a participação em seus sofrimentos, tornando-me como ele em sua morte para, de alguma forma, alcançar a ressurreição dentre os mortos. E vemos que Tiago e João terão a mesma reposta, como o próprio Jesus lhes diz (v.39). Isso se cumpriu em At 12.1,2 (Nessa ocasião, o rei Herodes prendeu alguns que pertenciam à igreja, com a intenção de maltratá-los, e mandou matar à espada Tiago, irmão de João.) e Ap 1.9 (Eu, João, irmão e companheiro de vocês no sofrimento, no Reino e na perseverança em Jesus, estava [preso] na ilha de Patmos por causa da palavra de Deus e do testemunho de Jesus.) . Mas, mesmo o fazendo, vemos que a liderança (o assentar-se ao lado de/ com Jesus) não se dá como consequência disto (v.40).
À medida que a situação se agravava, com a indignação dos outros dez discípulos (v.41), Jesus chama todos os discípulos e demonstra que as coisas deveriam ser bem diferentes: Jesus os chamou e disse: "Vocês sabem que aqueles que são considerados governantes das nações as dominam, e as pessoas importantes exercem poder sobre elas. Não será assim entre vocês. Ao contrário, quem quiser tornar-se importante entre vocês deverá ser servo; e quem quiser ser o primeiro deverá ser escravo de todos” (v.42-44). Eles não deveriam buscar posições de prestígio, ou domínio (aquilo que muitos chamam hoje de “carreira” ou “subir na vida”), mas justamente o contrário! O mais “absurdo” é que as posições estão tão invertidas que para ser meramente importante é necessário ser servo (palavra que originou o termo diácono), mas para ser o mais importante (o primeiro, o líder de todos) é necessário ser como quem se vendeu aos outros (todos eles!) como seu escravo!
O que Roberto Justus diria sobre isso?
O que muitos de nossos “pastores” e “líderes cristãos” diriam sobre isso?
Lembro-me de um senhor que queria ser pastor. Eu lhe perguntei o por quê. A resposta: “porque eu quero que, quando eu falar, as pessoas prestem atenção em mim... quero que elas me obedeçam”. De fato, muitos se tornam líderes e pastores nas igrejas como meio de conquistar uma melhor autoestima.
Além disso, usando métodos de liderança extraídos da área empresarial, ou militar, de forma acrítica (o que quer dizer que podemos usá-los se forem condizentes com os valores de Jesus), temos um modo de agir baseado em resultados e obediência irrestrita ao Big Brother. Delegar vira “pagar uma missão” (sem quaisquer possibilidades de contestação). Perfis de liderança passam a ser baseados em “autoridade” e carisma, ao invés de santidade, piedade e uma mente moldada pela Palavra de Deus. Avaliações de liderança são baseadas em metas e gráficos e não no amor. Ao desobediente, repreensões árduas e maldições no lugar do Deve corrigir com mansidão os que se lhe opõem, na esperança de que Deus lhes conceda o arrependimento, levando-os ao conhecimento da verdade (2Tm 2.25) e da mansidão de Moisés (Nm 12.3).
Onde está o serviço? Onde a escravidão a todos?
Porém, isto não quer dizer que o líder é um “serviço de atendimento ao cliente”, nem que ande com uma placa, com os dizeres: “o cliente tem sempre razão”; pois o próprio Jesus expulsou os mercadores do templo (Mc 11.12-19) e denunciou a hipocrisia dos fariseus e mestres da Lei (Mt 23). De fato, o servo de Deus é chamado a uma repreensão profética quando o povo se desvia. Mas não seremos capazes de a fazermos do modo adequado, enquanto não aprendermos a servirmos com amor aos nossos liderados.
Mas por que deveríamos agir assim? Pois nem mesmo o Filho do homem veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos (v.45). Se formos discípulos de Jesus, Ele deve ser o nosso modelo. O qual segundo Fp 2.5-11: Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus, que, embora sendo Deus não considerou que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo tornando-se semelhante aos homens. E, sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si mesmo e foi obediente até a morte, e morte de cruz! Por isso Deus o exaltou à mais alta posição e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai.
Assim, aqueles que querem ocupar os lugares à direita e à esquerda de Jesus devem se esvaziar e tomar a posição de escravos de todos, como Jesus fez. Pois Jesus nos serviu e deu a sua vida para nos resgatar, para nos comprar no mercado de escravos deste mundo perdido, para si, a fim de O servirmos como escravos de nossos irmãos. Pois diz Jesus: "Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita: 'Venham, benditos de meu Pai! Recebam como herança o Reino que lhes foi preparado desde a criação do mundo. Pois eu tive fome, e vocês me deram de comer; tive sede, e vocês me deram de beber; fui estrangeiro, e vocês me acolheram; necessitei de roupas, e vocês me vestiram; estive enfermo, e vocês cuidaram de mim; estive preso, e vocês me visitaram'. "Então os justos lhe responderão: 'Senhor, quando te vimos com fome e te demos de comer, ou com sede e te demos de beber? Quando te vimos como estrangeiro e te acolhemos, ou necessitado de roupas e te vestimos? Quando te vimos enfermo ou preso e fomos te visitar?'"O Rei responderá: 'Digo-lhes a verdade: O que vocês fizeram a algum dos meus menores irmãos, a mim o fizeram'” (Mt 25.34-40).
Jesus anseia por líderes-servos que estejam preocupados com o bem-estar de Seus menores irmãos. Que anseiam por vê-los crescer à semelhança de Jesus (Ef 4.13). Que os amem como uma mãe e, dessa forma, cuidem deles (como diria Francisco de Assis). Que tratem o povo de Deus como amigos e não servos (Jo 15.15).
Oh! Como é satisfatório ouvir da boca de alguém que você lidera ou pastoreia a palavra “amigo”! Como é mais fácil e suave repreender alguém que te escuta, não pelo seu cargo, mas pelo seu cuidado a ele! Como é prazeroso participar desta forma do crescimento destas pessoas que Deus nos confiou!
Mas como poderão estar bem, maduros em Jesus, desfrutando de intimidade com seus líderes, se estes os oprimem ou os tratam como servos, empregados ou meros recursos a serem gestados?

Que não sejamos assim. Que não apenas soframos por Jesus, ou deixemos coisas valiosas por Jesus. Mas assumamos o último lugar. O lugar do escravo, servindo todos, como Ele nos serviu.

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