Gn 2.18-24
18Disse mais o
SENHOR Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma auxiliadora que
lhe seja idônea. 19Havendo,
pois, o SENHOR Deus formado da terra todos os animais do campo e todas as aves
dos céus, trouxe-os ao homem, para ver como este lhes chamaria; e o nome que o
homem desse a todos os seres viventes, esse seria o nome deles. 20Deu nome o homem a todos os animais domésticos, às
aves dos céus e a todos os animais selváticos; para o homem, todavia, não se
achava uma auxiliadora que lhe fosse idônea.
21Então, o
SENHOR Deus fez cair pesado sono sobre o homem, e este adormeceu; tomou uma das
suas costelas e fechou o lugar com carne. 22E a costela que o SENHOR Deus tomara ao homem,
transformou-a numa mulher e lha trouxe. 23E disse o homem:
Esta, afinal, é osso dos meus ossos e carne da minha
carne; chamar-se-á varoa (mulher), porquanto do varão (homem) foi tomada.
24Por isso,
deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só
carne.
Viver em família numa
sociedade individualista tornou-se um problema. Vivemos buscando a realização
de nossos sonhos pessoais e buscamos o casamento como uma forma de satisfazer
alguns deles: não ficar só, ter filhos... Dependendo do sonho, arranjamos a família
conforme achamos ideal: com ou sem filhos, com ou sem cônjuges, com ou sem a
intromissão frequente dos nossos pais, com ou sem pessoas de gênero diferente
ao nosso, com ou sem a superioridade de um gênero em relação ao outro, com ou
sem um contrato social, com ou sem igreja...
A vida familiar gira em
torno de nossos sonhos egoístas e não é a toa que ande tão mal, pois homem e
mulher foram feitos um para o outro (e crianças precisam de boas figuras
maternas e paternas, masculinas e femininas para se desenvolver, lembrando que
na Bíblia corpo e alma, “biologia e psicologia” estão interligados). No fundo,
há uma crença de que se pode reinventar a família como se quiser, de que se
pode fazer tudo dar certo por si mesmo.
Mas Deus não concorda com
isso. A sua declaração inicial é um atestado de nossa incompetência individual:
Não é bom que o homem esteja só;
far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea (v.18). Em outras palavras,
Deus diz: o homem (ou a mulher) sozinho não pode ser fecundo, multiplicar-se,
encher a terra e sujeitá-la (Gn 1.28). Sem homem e mulher juntos não pode haver
E viu Deus que isso era bom (Gn 1); a
criação fica incompleta, devendo algo aos propósitos sábios de Deus.
A primeira coisa que Deus
faz é mostrar isso ao homem. Deus lhe traz os animais (em casais?) para que o
homem comece a exercer sua autoridade sobre eles, através do ato de nomeá-los.
Aqui a distinção entre humano e inumano é gritante, tanto pela nomeação dos
animais quanto pelo uso da palavra homem/ humanidade para referir-se a Adão.
Durante o desfile dos animais e da consequente nomeação, o homem percebe que
está só, que não há alguém igual a ele, com quem ele possa multiplicar-se,
cumprir o seu destino. Falta-lhe algo. Algo muito importante. E isso não é
bom.
Deus, então, entra em ação.
Ele coloca o homem em um profundo sono e enquanto isso retira uma parte do lado
do homem. E molda essa parte humana em um novo ser. Nisso já se vê a igualdade
entre homem e aquela que lhe é idônea/ correspondente. Ele a traz ao homem, de
forma semelhante aos animais.
Quando a vê, o homem tem uma
surpresa: esse ser vivo é igual a ele; é osso dos seus ossos e carne da sua
carne; possui todos os atributos que ele tem: inteligência, vontade, emoções,
criatividade, humor etc.; ela é feita à imagem e semelhança de Deus tanto
quanto ele.
Mas também é diferente dele:
ela supre o que lhe falta, da mesma forma que ele supre o que falta a ela.
Juntos podem cumprir o que separados não podem: podem gerar vida,
multiplicar-se, encher a terra com a imagem de Deus e constituir uma família.
Por isso, ela é sua auxiliadora, bem como ele dela. Esta mesma palavra é
atribuída a Deus, em Gn 49.25: pelo Deus
de teu pai, o qual te ajudará, e pelo Todo-Poderoso, o qual te abençoará
com bênçãos dos altos céus, com bênçãos das profundezas, com bênçãos dos seios
e da madre. Assim, ser auxiliador, neste caso, não significa ser inferior
(tal como o auxiliar de dentista em relação ao dentista), mas ser capaz de
fazer algo que o auxiliado não pode fazer sozinho ou por si mesmo.
Por isso seu nome, varoa,
deriva do nome dele, varão – duas palavras com som parecido no hebraico. A
construção usada ao descrever a nomeação da mulher tem sentido diferente da
usada na nomeação dos animais. Neste caso, traz um sentido de ter autoridade.
Mas no caso da mulher, traz o sentido de alguém que viu quem ela é e, em
consequência disto, lhe dá o nome que corresponde ao que viu: alguém que é
igual a ele, mas que diferente de outro homem, lhe corresponde e auxilia.
“Por este motivo”, diz o
narrador, “é que um homem entre nós, quando quer constituir família, deixa a
família dos pais e constituí uma nova família unindo-se a uma mulher”. Novamente
há um momento “sem mulher” (e sem união sexual), antes do casamento, quando o
homem e mulher fazem parte de um núcleo familiar, e um momento “com mulher”, em
que homem e mulher casam-se e unem-se em família heterossexual.
No contexto familiar da
época, isso não significava separação emocional ou saída da casa do pai do
marido, mas simplesmente que uma nova família começava a surgir. Pois naquela
época, não era desejável que um adulto não fizesse parte de uma família. De
fato, pode-se dizer que era inconcebível.
Assim, Deus dá homem e
mulher um para o outro. Ele nos cria para constituir famílias heterossexuais,
monogâmicas e nucleares. Qualquer atitude contrária deveria ser buscada apenas
com a intenção de agradar a Deus, segundo a orientação dEle (Mt 19.12, 1Co 7).
Deus não cria nem homem como superior à mulher, nem o oposto; ambos precisam um
do outro, a fim de não estarem sós, de criar um novo núcleo familiar e de gerar
vida, multiplicando a imagem de Deus sobre a terra.
Ei, Marcelo!
ResponderExcluirMuito bom esse texto viu. Só não entendi esse trecho:
"Pois naquela época, não era desejável que um adulto não fizesse parte de uma família. De fato, pode-se dizer que era inconcebível."
O que vc quis dizer?
Abraços