quarta-feira, 27 de junho de 2012

Homem e mulher os criou



Gn 2.18-24
18Disse mais o SENHOR Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea. 19Havendo, pois, o SENHOR Deus formado da terra todos os animais do campo e todas as aves dos céus, trouxe-os ao homem, para ver como este lhes chamaria; e o nome que o homem desse a todos os seres viventes, esse seria o nome deles. 20Deu nome o homem a todos os animais domésticos, às aves dos céus e a todos os animais selváticos; para o homem, todavia, não se achava uma auxiliadora que lhe fosse idônea.
21Então, o SENHOR Deus fez cair pesado sono sobre o homem, e este adormeceu; tomou uma das suas costelas e fechou o lugar com carne. 22E a costela que o SENHOR Deus tomara ao homem, transformou-a numa mulher e lha trouxe. 23E disse o homem:
Esta, afinal, é osso dos meus ossos e carne da minha carne; chamar-se-á varoa (mulher), porquanto do varão (homem) foi tomada.
24Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne.

Viver em família numa sociedade individualista tornou-se um problema. Vivemos buscando a realização de nossos sonhos pessoais e buscamos o casamento como uma forma de satisfazer alguns deles: não ficar só, ter filhos... Dependendo do sonho, arranjamos a família conforme achamos ideal: com ou sem filhos, com ou sem cônjuges, com ou sem a intromissão frequente dos nossos pais, com ou sem pessoas de gênero diferente ao nosso, com ou sem a superioridade de um gênero em relação ao outro, com ou sem um contrato social, com ou sem igreja...
A vida familiar gira em torno de nossos sonhos egoístas e não é a toa que ande tão mal, pois homem e mulher foram feitos um para o outro (e crianças precisam de boas figuras maternas e paternas, masculinas e femininas para se desenvolver, lembrando que na Bíblia corpo e alma, “biologia e psicologia” estão interligados). No fundo, há uma crença de que se pode reinventar a família como se quiser, de que se pode fazer tudo dar certo por si mesmo.
Mas Deus não concorda com isso. A sua declaração inicial é um atestado de nossa incompetência individual: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea (v.18). Em outras palavras, Deus diz: o homem (ou a mulher) sozinho não pode ser fecundo, multiplicar-se, encher a terra e sujeitá-la (Gn 1.28). Sem homem e mulher juntos não pode haver E viu Deus que isso era bom (Gn 1); a criação fica incompleta, devendo algo aos propósitos sábios de Deus.
A primeira coisa que Deus faz é mostrar isso ao homem. Deus lhe traz os animais (em casais?) para que o homem comece a exercer sua autoridade sobre eles, através do ato de nomeá-los. Aqui a distinção entre humano e inumano é gritante, tanto pela nomeação dos animais quanto pelo uso da palavra homem/ humanidade para referir-se a Adão. Durante o desfile dos animais e da consequente nomeação, o homem percebe que está só, que não há alguém igual a ele, com quem ele possa multiplicar-se, cumprir o seu destino. Falta-lhe algo. Algo muito importante. E isso não é bom.
Deus, então, entra em ação. Ele coloca o homem em um profundo sono e enquanto isso retira uma parte do lado do homem. E molda essa parte humana em um novo ser. Nisso já se vê a igualdade entre homem e aquela que lhe é idônea/ correspondente. Ele a traz ao homem, de forma semelhante aos animais.
Quando a vê, o homem tem uma surpresa: esse ser vivo é igual a ele; é osso dos seus ossos e carne da sua carne; possui todos os atributos que ele tem: inteligência, vontade, emoções, criatividade, humor etc.; ela é feita à imagem e semelhança de Deus tanto quanto ele.
Mas também é diferente dele: ela supre o que lhe falta, da mesma forma que ele supre o que falta a ela. Juntos podem cumprir o que separados não podem: podem gerar vida, multiplicar-se, encher a terra com a imagem de Deus e constituir uma família. Por isso, ela é sua auxiliadora, bem como ele dela. Esta mesma palavra é atribuída a Deus, em Gn 49.25: pelo Deus de teu pai, o qual te ajudará, e pelo Todo-Poderoso, o qual te abençoará com bênçãos dos altos céus, com bênçãos das profundezas, com bênçãos dos seios e da madre. Assim, ser auxiliador, neste caso, não significa ser inferior (tal como o auxiliar de dentista em relação ao dentista), mas ser capaz de fazer algo que o auxiliado não pode fazer sozinho ou por si mesmo.
Por isso seu nome, varoa, deriva do nome dele, varão – duas palavras com som parecido no hebraico. A construção usada ao descrever a nomeação da mulher tem sentido diferente da usada na nomeação dos animais. Neste caso, traz um sentido de ter autoridade. Mas no caso da mulher, traz o sentido de alguém que viu quem ela é e, em consequência disto, lhe dá o nome que corresponde ao que viu: alguém que é igual a ele, mas que diferente de outro homem, lhe corresponde e auxilia.
“Por este motivo”, diz o narrador, “é que um homem entre nós, quando quer constituir família, deixa a família dos pais e constituí uma nova família unindo-se a uma mulher”. Novamente há um momento “sem mulher” (e sem união sexual), antes do casamento, quando o homem e mulher fazem parte de um núcleo familiar, e um momento “com mulher”, em que homem e mulher casam-se e unem-se em família heterossexual.
No contexto familiar da época, isso não significava separação emocional ou saída da casa do pai do marido, mas simplesmente que uma nova família começava a surgir. Pois naquela época, não era desejável que um adulto não fizesse parte de uma família. De fato, pode-se dizer que era inconcebível.
Assim, Deus dá homem e mulher um para o outro. Ele nos cria para constituir famílias heterossexuais, monogâmicas e nucleares. Qualquer atitude contrária deveria ser buscada apenas com a intenção de agradar a Deus, segundo a orientação dEle (Mt 19.12, 1Co 7). Deus não cria nem homem como superior à mulher, nem o oposto; ambos precisam um do outro, a fim de não estarem sós, de criar um novo núcleo familiar e de gerar vida, multiplicando a imagem de Deus sobre a terra.

Um comentário:

  1. Ei, Marcelo!

    Muito bom esse texto viu. Só não entendi esse trecho:

    "Pois naquela época, não era desejável que um adulto não fizesse parte de uma família. De fato, pode-se dizer que era inconcebível."

    O que vc quis dizer?
    Abraços

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