Evangelho
de Marcos, capítulo 1, versículos 16-21:
Caminhando junto ao mar da Galileia, viu os irmãos Simão e André, que lançavam a rede ao mar, porque eram pescadores. Disse-lhes Jesus: Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens. Então, eles deixaram imediatamente as redes e o seguiram. Pouco mais adiante, viu Tiago, filho de Zebedeu, e João, seu irmão, que estavam no barco consertando as redes. E logo os chamou . Deixando eles no barco a seu pai Zebedeu com os empregados, seguiram após Jesus.
Em 1802,
Henry Martin, com apenas 21 anos de idade, recebeu um título como o melhor
aluno de matemática da Universidade de Cambrigde, Inglaterra. Sua carreira
seria brilhante. Mas três anos depois, movido pela leitura da biografia de um
missionário norte-americano chamado David Brainerd, Henry Martin, deixou sua
brilhante carreira e Lydia, a mulher a quem ele amava e com quem queria se
casar, e partiu para a Índia, como missionário, aos 24 anos de idade. Mesmo
após 8 anos, Henry pensava em Lydia incessantemente. Henry Martin fez várias
traduções da Bíblia, trabalhou incessantemente na Índia e na Pérsia, até que
morreu em 1812, aos 31 anos, vítima de tuberculose, na Armênia.
O que
faz um homem deixar tudo o que possui, tudo o que ama? Por que Pedro, André,
Tiago e João deixaram tudo o que tinham por uma vida incerta?
Quando
olhamos para o chamado dos discípulos no evangelho de Marcos, nós não vemos
muita coisa sobre quem é Jesus. Não há aqui uma pesca maravilhosa, não há
milagres, não há ensinos maravilhosos. De modo que, se você só conhecesse o
evangelho de Marcos, você seria forçado a pensar que eles seguiram-no sem o
conhecerem direito e começaria a questionar por que esses homens seguiram
Jesus.
Jesus
tinha provavelmente 30 anos de idade. Era essa a idade com a qual um rabino
começava seu ministério de ensinar as pessoas a andar nos caminhos de Deus. No
versículo 15, vemos o que Jesus ensinava: O tempo está cumprido, e o reino
de Deus está próximo. Arrependei-vos, e crede no evangelho.
O que
isso queria dizer? Todos os judeus viviam numa grande expectativa de que viria
um grande rei que libertaria os judeus da opressão do império romano e que
traria um reino divino de paz, alegria e justiça para todo judeu que tivesse
vivido de acordo com a vontade de Deus. O que Jesus está dizendo é que esse
reino já havia chegado; é por isso que ele diz que o tempo está cumprido.
Portanto, se o reino já chegou, é hora de se arrepender dos seus pecados, da
sua rebeldia contra a vontade de Deus e crer na mensagem de Jesus. (Para uma
melhor compreensão do significado deste texto e algumas implicações para a
nossa vida, ver a postagem anterior: Chamados para o discipulado).
Mas não
era comum que um rabino andasse sozinho. Ele geralmente possuía discípulos que
aprendiam com ele e que posteriormente passariam seus ensinamentos e sua
mensagem adiante. No entanto, até esse momento Jesus está só, ele não possui
discípulos. E vemos, neste texto, Jesus chamando pessoas para ser seus
discípulos.
Porém
não era comum o que Jesus está fazendo aqui. Porque Jesus está chamando pessoas
desqualificadas para ser seus discípulos.
O
processo comum para alguém se tornar discípulo de um rabino, naquela época, era
completamente diferente do que acontece aqui. Primeiro, não era o rabino quem
ia atrás do discípulo, mas o discípulo é quem iria atrás do mestre. E para ser
aceito essa pessoa tinha de ser alguém especial. Ao longo dos anos de estudo da
“Bíblia Hebraica” (o Antigo Testamento), apenas aqueles que tivessem
demonstrado que atingiam um certo nível, continuavam os estudos, aqueles que
não conseguissem voltavam para casa e aprendiam a profissão do pai, na qual
trabalhariam pelo resto da vida. Aqueles que terminassem os estudos poderiam
disputar uma vaga de discípulo de um rabino. Ou seja, você tinha de estar no
topo, na nata, tinha de estar entre os melhores para ser discípulo de um
rabino. Era isso ou trabalhar o resto da vida na profissão de seu pai.
Mas quem
são os discípulos de Jesus? Mc 1.16 e 19 dizem o seguinte: Caminhando junto
ao mar da Galiléia, viu os irmãos Simão e André, que lançavam a rede ao mar,
porque eram pescadores... Pouco mais adiante, viu Tiago, filho de
Zebedeu, e João, seu irmão, que estavam no barco consertando as redes.
Ora, Jesus não chamou os melhores entre os melhores, não chamou a nata, Ele
chamou pescadores. Ele chamou gente que não estava à altura do seu chamado.
Gente que não era considerada digna de ser discípula de um rabino. Gente que
não se atreveria a procurar um rabino para ser seu discípulo.
Em Atos
dos Apóstolos 4.13 eles são descritos assim: Ao verem a intrepidez de
Pedro e João, sabendo que eram homens iletrados e incultos,
admiraram-se; e reconheceram que haviam eles estado com Jesus. Isto me faz
lembrar de 1 Coríntios 1.26-28: Irmãos, reparai, pois, na vossa
vocação; visto que não foram chamados muitos sábios segundo a carne, nem
muitos poderosos, nem muitos de nobre nascimento; pelo contrário, Deus
escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios e escolheu as
coisas fracas do mundo para envergonhar as fortes; e Deus escolheu as
coisas humildes do mundo, e as desprezadas, e aquelas que não são, para
reduzir a nada as que são.
Entretanto
há uma falsa ideia de que nós temos de estar à altura, de que precisamos ser
algo de importante para termos acesso a Deus e para sermos usados por Deus. Ah,
eu não tenho um curso de Teologia ou de Missiologia, então não posso servir a
Deus! Ah, eu não sei falar! (Ex 3.10,13) Ah, eu sou jovem e imaturo demais! (Jr
1.6). Mas, a partir deste texto, vemos que Deus não nos escolheu por algo que
Ele viu em nós, mas porque Ele simplesmente quis. A falsa história de heróis
(perfeitos) da fé nos faz esquecer dos fracos, impotentes, machucados e
maltrapilhos que Deus usou poderosamente; tais como John Knox e John Bunyan,
homens simples, sem instrução, porém usados com incomensurável poder por Deus
para trazerem reforma e avivamento ao seu país. Não há um processo de seleção.
Até porque todos nós, pecadores que somos, seríamos reprovados. Por isso, Jesus
morreu por nós, para perdoar nossos pecados e nos restaurar de modo a podermos
seguí-lo.
Mas o
que significa ser discípulo de Jesus? Você pode estar pensando: é ser pescador
de homens. Mas não. Há algo antes disso. Os versículos 17, 18 e 20 dizem: Disse-lhes
Jesus: Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens. Então, eles
deixaram imediatamente as redes e o seguiram.... E logo os chamou.
Deixando eles no barco a seu pai Zebedeu com os empregados, seguiram após
Jesus. Ou seja, primeiro vocês deixam a vida que vocês têm e venham
após mim, depois eu faço de vocês pescadores de homens.
Por que
isso? Ser discípulo, naquela época, não era apenas aprender uma série de
doutrinas e regras. Quando você tornava-se discípulo de alguém, você deixava
toda a sua vida para trás e seguia o seu mestre por onde quer que ele fosse,
comia o que ele comia, dormia onde ele dormia e vivia o que ele vivia. A ideia
é de que você o seguiria para tornar-se igual a ele, no modo de viver, no modo
de pensar, no modo de falar, nas crenças, nas prioridades e em toda a sua
existência. E se você fosse um discípulo muito importante você o seguia bem de
perto, logo atrás do mestre, tendo maior intimidade com ele e, portanto,
aprendendo mais dele e tornando-se mais como ele.
Mas
quando olhamos para esses quatro, vemos que, ao longo do evangelho de Marcos,
eles são uma espécie de grupo especial de discípulos de Jesus. Quer ver como
isso funciona? Quais foram os únicos três que viram a ressurreição da Filha de
Jairo? Quais foram os únicos três que viram a Jesus no monte quando ele foi
transfigurado e apareceu em toda a sua glória? A quais discípulos Jesus anuncia
as coisas que viriam a acontecer? E
quais foram os únicos três que Jesus levou consigo, destacando-os do resto,
para vigiar com Ele no Getsêmani? Pedro, Tiago e João (Mc 5.37; 9.2; 13.3;
14.32).
O nome
dessa série é “Chamados para o discipulado”. O que você deseja? Ser parte da
multidão de discípulos de segunda categoria que simplesmente se chama de
“crente” ou ser um verdadeiro seguidor de Jesus? Quer continuar na
superficialidade ou quer dar um passo mais longe e estar intimamente com Jesus,
conhecendo-O como Ele realmente é e sendo transformado pelo Espírito Santo em
alguém como Ele?
Então
você precisa fazer como eles: Então, eles deixaram imediatamente as redes
e o seguiram...Deixando eles no barco a seu pai Zebedeu com os
empregados, seguiram após Jesus. Como assim? Pedro e Jesus, em Mc 10.28
a 30 respondem a essa pergunta: Então, Pedro começou a dizer-lhe: Eis que
nós tudo deixamos e te seguimos. Tornou Jesus: Em verdade vos digo que ninguém
há que tenha deixado casa, ou irmãos, ou irmãs, ou mãe, ou pai, ou filhos, ou
campos por amor de mim e por amor do evangelho, que não receba, já no presente,
o cêntuplo de casas, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições; e,
no mundo por vir, a vida eterna.
Esses
homens deixaram a sua casa, seu emprego, família e segurança, para seguirem um
pregador ambulante que dizia que o Reino de Deus chegou. Não parece algo
sensato, não é? Por que será, então, que a nossa vida parece tão sensata,
prudente, uma verdadeira carreira? Será que nos esquecemos de como John Knox
foi alvo de assassinos? Como John Bunyan foi preso várias vezes (assim como
Toyohiko Kagawa e outros)? Como Bonhoeffer foi executado, segundo as ordens de
Hitler?
Deus não
quero que você largue seu emprego e vá pra África ser missionário. Mas é
necessário que você reflita: Há algo maior que Deus ou que o evangelho na sua
vida? Sua família, seus filhos, namoro, carreira, finanças ou popularidade? Há
algo que Deus está pedindo que você deixe de lado por amor a Ele e ao
evangelho? O chamado de Deus hoje é para que você deixe tudo que se coloca
entre você e Deus ou acima de Deus e o evangelho e viva na sua casa, emprego,
curso e relacionamentos como um verdadeiro discípulo de Jesus que vive,
trabalha, estuda e ama como Jesus faria se estivesse no seu lugar. O chamado de
Jesus, exceto para uns poucos, não é que você vá para longe; mas que cada lugar
que você for, você aja como Jesus agiria e deixe de lado tudo que não faz parte
da vida com Jesus. E, assim, você vá tornando-se cada vez mais parecido com
Jesus. Isso é deixarmos tudo e seguirmos a Jesus.
Quem faz
isso é transformado por Jesus em pescador de homens, assim como Jesus é um
pescador de homens.
É isso o
que Ele está fazendo em 1.14 e 15: Depois de João ter sido preso,
foi Jesus para a Galileia, pregando o evangelho de Deus, dizendo: O tempo
está cumprido, e o reino de Deus está próximo; arrependei-vos e crede no
evangelho. E no final do evangelho de Marcos, Ele envia os
discípulos para fazerem a mesma coisa, 16.15 e 16: E disse-lhes
[Jesus]: Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura. Quem
crer e for batizado será salvo; quem, porém, não crer será condenado.
Antes de
chamá-los, Jesus já era um pescador de homens. Ele pregava o evangelho, dizendo
para as pessoas: voltem-se para Deus, pois o seu Reino é chegado. E Ele quer
fazer de seus discípulos pregadores do evangelho. Pescar homens é trazê-los das
trevas, do pecado, da condenação para a salvação que Jesus conquistou através
da sua morte na cruz e sua ressurreição dentre os mortos para todos os que
crêem nele, de modo que quem crer nEle e no evangelho pregado pelos seus
pescadores de homens terá seus pecados perdoados e será salvo para possuir a
vida eterna no reino eterno de Deus. Não é esse um chamado mais digno e
grandioso que quaisquer planos de carreira que possamos inventar? Não é o mais
necessário? O de conseqüências mais radicais para o ser humano perdido em miséria?
Jesus
está em busca de discípulos. Ele quer você. Você não precisa estar à altura.
Venha como você está. Deus é poderoso para te usar assim como você é, com todas
as suas falhas e fraquezas. Ele quer que você deixe tudo o que se colocar em
conflito com o seu amor e seu evangelho. Deixe a superficialidade da sua vida e
conheça Jesus como Ele é e assim torne-se como Ele. E, desse modo, Ele te fará
pescador de homens.
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